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Charles Aznavour

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O homem que reinventou a chanson francesa, compôs mais de 600 canções e vendeu mais de 100 milhões de discos ainda é uma estrela e um dos últimos grandes clássicos no estilo. Charles Aznavour é um dos poucos artistas franceses a fazer sucesso nos dois lados do Atlântico e suas canções não só fizeram parte da trilha sonora de gerações, como ainda influenciam jovens cantores que despontam em seu paà­s. Ele aprecia essa juventude que pretende continuar a tradição, mas não gosta dos imitadores. Lição que aprendeu com Edith Piaf, durante os anos que passou em sua companhia como bom amigo e gentil secretário.

"Vivi no séquito de Piaf por 8 anos, seguindo-a por toda parte, e fui seu amigo até o final da vida. Para um jovem cantor e escritor era uma oportunidade fantástica vê-la cantando todas as noites. Eu costumava ajudar com a iluminação, com o microfone..., mas não era exatamente um secretário... Piaf exerceu grande influência sobre mim, com ela aprendi que não devia fingir ser outra pessoa no palco, que devia ser eu mesmo, uma pessoa real."

Aznavour subiu ao palco pela primeira vez em 1933. Hoje, aos 80 anos, ele vê a si mesmo como um exemplo de quão longe se pode chegar com a persistência. Filho de imigrantes armênios que escaparam do genocà­dio perpetrado pelos turcos em 1914, nasceu na capital francesa em 22 de maio de 1924, numa clà­nica da Rue d"™Assas. Foi chamado de Charles porque a enfermeira não conseguia pronunciar Varenagh Aznavourian, o nome escolhido por seus pais.

Misha e Knar fugiram do paà­s pensando nos Estados Unidos, mas tiveram que rumar para a França porque a cota máxima de imigrantes armênios já estava esgotada. Ele era barà­tono, ela era atriz. Para sustentar a famà­lia apresentavam-se em lugares onde havia comunidades armênias populosas: Lyon, Marseille, Valence... Foi numa dessas perfomances que Charles estreou aos 3 anos, recitando poemas para sua irmã Aà¯da. Mas a renda era pouca, por isso o casal abriu um pequeno restaurante na Rue de la Huchette.

Os negócios foram bem por algum tempo, apesar da depressão que assolava a Europa, o problema maior era Misha, que simplesmente não conseguia cobrar dos imigrantes que jantavam em seu restaurante, o que resultou na primeira falência de outras pelo mesmo motivo: generosidade. Nessa época Charles fazia parte de uma companhia de teatro infantil e passou meses em turnê pela França e pela Bélgica como cantor e dançarino, até seu pai se alistar no exército voluntariamente.

Quando a guerra eclodiu, Charles foi vender jornais nas ruas para ganhar o sustento. A situação começou a melhorar quando ele entrou num grupo de artistas e reduziu seu nome para Aznavour, tornando-se a principal atração do Club de la Chanson. Ali, conheceu Pierre Roche, pianista e compositor de quem foi parceiro por quase uma década e, juntos, cantaram onde puderam e viveram boas aventuras, como ir de bicicleta à Normandia, ocupada por tropas alemãs.

Ele descobriu prazer em compor quando se viu entediado com a tradicional chanson, e enquanto Roche colecionava conquistas. Aznavour conta que começou a escrever porque não estava feliz com as canções que interpretava, "e não era só isso, elas não se adequavam à minha figura. Naqueles dias você tinha que ser alto e bonitão, ser o tipo de pessoa que se via no filmes e eu não era. Eu tinha coisas a dizer, coisas que o público não estava acostumado a ouvir em canções, mas podia encontrar nas páginas dos jornais. Então comecei a escrever sobre problemas e a falta de entendimento entre as pessoas, o que se tornou a minha marca. Fui o único a fazer isto durante anos, depois descobri ser bem comum em outros lugares."

Seus 'faits de societe' são recortes que falam de violência, acidentes de trânsito, divórcio, homossexualismo, um apaixonado por uma surda-muda "” com apuro nem sempre impecável. O single 'La Mamma' vendeu um milhão e meio de cópias, mas demonstra tremendo mau gosto versando sobre uma famà­lia reunida para velar a matriarca morta. Foi escrita em parceria com Robert Gall para um filme televisivo de 1964, seguindo estritas especificações de roteiro: crianças brincam em silêncio perto do corpo; Giorgio, o 'mau filho', retorna à casa arrependido; todos cantam 'Ave Maria'.

A primeira canção a repercutir seu nome foi 'J'ai Bu', que, gravada por Georges Ulmer um dia após a libertação de Paris, recebeu o Grand Prix du Disque de 1947. Jacques Canetti, grande descobridor de talentos, sugeriu que Roche e Aznavour gravassem quatro discos 78 RPM. Eles gravaram; em seguida toparam cantar numa rádio pública que alcançou os ouvidos de Charles Trenet "” eterno à­dolo de Aznavour "” e Edith Piaf, a estrela maior dos perà­odos pré e pós-guerra.

Encantada com a dupla, Piaf propôs que abrissem os shows que faria nos Estados Unidos e eles foram, por conta própria. Desembarcaram em Nova York sem vistos de entrada e passaram dias na prisão, até ela ir resgatá-los. Aà­ nasceu a amizade entre Charles e Edith. Quando ela lhe escrevia assinava "com afeto, sua pequena irmã das ruas", e por este afeto ele agà¼entou seus caprichos e arroubos de ira, pacientemente, no tempo em que moraram juntos. Ele aprendia com ela. "Tà­nhamos muito em comum, ela cantou na rua e eu também. Ela veio de uma famà­lia pobre e eu também. Não fui tão pobre quanto ela, mas não era rico", ele ressalta.

"Escrevi sete canções para ela. Eu não era o tipo de compositor para Piaf, mas ela gostava do meu jeito de escrever, razão por que gravou algumas de minhas canções." Entre elas, 'Plus bleu que tes Yeux' e 'Jezabel', ambas de grande sucesso, mas nenhuma como 'Je Hais les Dimanches', que ela recusou e acabou sendo gravada por Juliette Gréco, num estilo muito diferente do que o público estava habituado. A canção impulsionou a carreira de Gréco e recebeu prêmio da SACD (a associação francesa de Autores e Compositores).

A partir disso, Aznavour se transformou em criador de estilo, com diversos artistas solicitando canções, embora ainda não tivesse sucesso como performer. Seu fà­sico e sua voz não eram bem aceitos pelo público, e ainda havia a crà­tica, que se esmerava em comentários sarcásticos, à s vezes cruéis, como "o homem feio que não sabe cantar". Mesmo assim, ele continuou a fazer shows em casas noturnas parisienses, tendo o produtor Raoul Breton entre os poucos a encorajá-lo. Hoje ele zomba de si mesmo, dizendo que soava "como [se tivesse] um queijo Gruyere cheio de buracos entalado na garganta".

Ironicamente, a popularidade de Aznavour deve-se principalmente à performance de palco, desenvoltura que atraiu muitos produtores de cinema antes de agradar a audiência. Sua carreira cinematográfica começou em 1938, mas foi La Tête Contre les Murs (1959), de Georges Franju, que lhe deu o L'étoile de Cristal de melhor ator. Ao todo foram 73 filmes, sem contar autoria de roteiro ou trilha sonora, que somam mais 45 produções. Entre os filmes mais citados estão Ararat, do diretor canadense de origem armênia Atom Egoyan, e Tirez sur le Pianiste, de François Truffaut, que virou um amigo. "Na primeira vez que Truffaut veio me ver quase não nos falamos. Ele era tà­mido, eu também... Foi um bom começo."

A reputação de Aznavour se espalhou pelo mundo gradualmente. Ator, cantor, compositor, escritor. Ele aprendeu inglês sozinho para gravar versões de suas músicas "” fez o mesmo em espanhol, italiano e alemão "”, e extraiu o máximo de todas as fontes, incluindo a música pop francesa dos anos 60, muito criticada pela imprensa. Empolgado com esses novos artistas, compôs para eles ficando indiretamente no topo das paradas, enquanto ele próprio estava nas rádios com o hit 'Que C'est Triste Venise'. "Basicamente, sou letrista", esclarece Aznavour, "poemas e letras encerram música própria, têm ritmo próprio, por isso me tornei melodista. Escrevo melodias, não sou compositor, não sei escrever partituras."

Em meados da década de 60, ele vendia milhões de discos pelo mundo e já havia grandes nomes, de Ray Charles a Liza Minelli, interpretando suas canções. "Foi em 1962 que decidi ir cantar no exterior", ele recorda. "Eu tinha guardado dinheiro para alugar o Carnegie Hall, coloquei 150 jornalistas em um avião particular e lotei a sala: 3.400 lugares! Como não falava inglês, usei um púlpito para dispor as letras e os americanos acharam perfeitamente natural. Eu fazia sucesso na França, tinha repercussão no exterior... Mais tarde aprendi inglês e até hoje, em todos os paà­ses onde me apresento, canto boa parte de minhas canções no idioma local."

Por muitos anos Aznavour alternou shows no exterior e performances na França, com o mesmo prazer dos primeiros anos, talvez mais. Mas, à s vezes, se perguntava: "se eu não cantasse o que iria fazer em casa?", e concluà­a que uma aposentadoria seria o mesmo que morrer de tédio. É com orgulho que diz nunca ter trabalhado para vender discos, mas para cantar no palco. "Esta é minha verdadeira profissão. Diante de uma nova canção, eu só penso em uma coisa: será que vai acontecer algo novo no palco?"

Em 7 de dezembro de 1988, o terrà­vel terremoto de Erevan matou 50 mil pessoas e deixou 500 mil desabrigados na Armênia. Profundamente abalado, o cantor fundou a Associação Aznavour para a Armênia e reuniu noventa cantores e atores franceses para o videoclipe da música 'Pour toi Arménie'. O disco vendeu mais de um milhão e meio de cópias e permaneceu no Top 50 por treze semanas. "Descobri a Armênia em 1963, durante uma turnê pela URSS. Eu conhecia a história do genocà­dio, mas nunca fui um militante. Foi depois do tremor de terra e dos massacres do Alto Karabakh que me senti realmente envolvido." Todo o dinheiro foi encaminhado ao paà­s.

Pela iniciativa, Aznavour foi nomeado Embaixador Permanente da Unesco e Embaixador Itinerante da República Armênia pelo presidente Lévon Ter Petrossian. Dez anos mais tarde, recebeu a comenda da Legião de Honra pelo presidente da França Jacques Chirac, que sublinhou sua ação humanitária com uma elogiosa saudação: "Charles Aznavour é um homem extremamente generoso, um artista incomparável e incontestado, um maravilhoso embaixador da canção e da là­ngua francesa, provavelmente admirado no mundo inteiro".

De fato, no ano seguinte, aos 74 anos, ele foi eleito o Artista do Século na pesquisa online realizada pela CNN e a revista Time. Recebeu cerca de 18% do total de votos, concorrendo com Elvis Presley, John Lennon e Bob Dylan "” admirador confesso, que regravou 'The Times We've Known'. Quando perguntado se sempre teve certeza de possuir talento, Aznavour sorri complacente, e diz: "Minha vida deve ser uma lição de esperança para as pessoas que não são atraentes e vieram de lugar nenhum".

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