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Peter Gabriel

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Dificilmente se pode dizer que Peter Gabriel tenha andado desocupado. Desde seu último disco de estúdio, surgiram trilhas sonoras de filmes, a música para o show Millennium Dome e todos tipos de outros projetos paralelos e distrações artí­sticas. Inclusive, ele permanece um dos artistas mais incansavelmente criativos e prolíferos de nossos tempos. Então, por que se passaram nove anos entre o Us, de 1993, e o lançamento em 2002 de Up?

"Estava buscando o recorde de maior tempo para gravar um disco", ele brinca. "Mas acho que a verdadeira resposta é que curto o processo de fazer música mais que o de ser um caixeiro-viajante. Então provavelmente evitei terminar o disco. E eu me atraio, sim, por desvios."

Mas também existiram outras razões. Ele acredita piamente na noção de que um artista deve apenas lançar discos quando estão prontos e têm algo a dizer, em vez de meramente lançar 'produtos' para preencher alguma lacuna no mercado. "Eu queria e precisava absorver coisas", ele explica. "Quando você faz um disco está expelindo coisas, e ao menos que tenha tido input suficiente, como pode ser interessante para outras pessoas e refletir o que está se passando? Tudo isto torna o processo lento para mim."

Pode ter sido lento. Mas no fim de toda a espera o resultado é um álbum clássico de Peter Gabriel, repleto de canções literais mas cheias de alma, musicalmente elétrico e ritmicamente sofisticado e que apresentam um leque de convidados que trazem suas próprias contribuições únicas para o disco.

Up é o 12° álbum solo de Peter Gabriel em uma carreira sempre marcada por um espí­rito de aventura e inovação que transpõe mais que um quarto de século, desde que deixou os Genesis, em 1975. Seu primeiro disco solo, lançado em 1977, trazia o single "Solsbury Hill" e entre seus primeiros sucessos solo também estavam "Games Without Frontiers", "No Self Control" e "Biko", uma das primeiras músicas pop solo a falarem do Apartheid. Em 1984, ele musicou seu primeiro filme, escrevendo a assombrosa trilha sonora para 'Asas da Liberdade', de Alan Parker, que ganhou o prêmio Grand Jury no Festival de Cinema de Cannes.

O álbum de 1986 'So', rendeu a Peter seu primeiro Grammy e trouxe o sucesso "Sledgehammer", acompanhado por um clipe arrasador que hoje é o clipe da MTV mais tocado de todos os tempos. Em 1989, ele compôs a trilha do filme 'A Última Tentação de Cristo', de Martin Scorsese, que produziu um de seus discos mais experimentais e inovadores, Passion.

O décimo álbum de Peter, Us, veio em 1992 e ganhou quatro indicações ao Grammy, dois prêmios da MTV Awards, um prêmio BRIT e outro da revista Q. Para este álbum ele encarregou onze artistas de interpretar as canções do álbum e os trabalhos de arte foram em seguida exibidos na exposição British Contemporary Art, em 1993. Peter dá continuidade a esse casamento entre som e visão com Up, para o qual ele escolheu trabalhos de nove fotógrafos do mundo afora, procurando refletir cada faixa do álbum.

O ano de 1992 também foi marcado pelo inà­cio da turnê Secret World, produzida por Peter Gabriel e pelo designer e diretor de teatro e cinema canadense Robert Lepage, que também está trabalhando na futura turnê de Peter, programada para ter inà­cio nos Estados Unidos em novembro.

Convidado por Mark Fisher para ajudar a criar um show para o Millennium Dome de Londres, Peter contribuiu com a narrativa e conceito visual e compôs a música, que foi lançada no álbum 'OVO'. Então, em junho de 2002, ele lançou 'Long Walk Home' a trilha do mais recente filme de Phillip Noyce, 'Rabbit Proof Fence'.

Afastado de sua própria carreira solo, Peter tem estado envolvido em um grande leque de projetos de world music, incluindo a co-fundação do WOMAD (World of Music, Arts and Dance), que celebra seu 20º aniversário este ano, e também o selo musical Real World, sendo ambos administrados de seu complexo de estúdios Real World, em Wiltshire.

Peter também esteve ativo em um amplo âmbito de assuntos de direitos humanos e ambientais. Ele foi envolvido nos shows para Nelson Mandela em Wembley (tanto no de 1988 quanto no de 1990), e em 1988 trabalhou com a Anistia Internacional e a Reebok para organizar a turnê Human Rights Now!, com Sting, Bruce Springsteen, Tracey Chapman e Youssou N'Dour. Depois da turnê, a Reebok criou a fundação Reebok Human Rights, com Peter como um dos principais consultores. Esta fundação reconhece jovens que estão na linha de frente da luta pelos direitos humanos em todas as partes do mundo. Em 1992, Peter passou a iniciar o 'Witness program', que tem como objetivo armar ativistas pelos direitos humanos com câmeras de và­deo, computadores e outras ferramentas de comunicação.

Em 1989 o artista visitou a URSS para ajudar a deslanchar o Greenpeace por lá. Mais recentemente, desde o ano passado, ele tem trabalhado em Geórgia com gorilas, chimpanzés e orangotangos do projeto Great Apes, explorando a habilidade de comunicação dos animais.

Ainda assim, é em primeiro lugar como um dos músicos mais originais e criativos do mundo que Peter Gabriel é melhor conhecido. Quando ele começou a reunir o material para Up, descobriu que já tinha 130 idéias de músicas. Nem todas estavam finalizadas. Algumas eram meramente fragmentos esperando por desenvolvimento mais adiante ou trabalho ainda em progresso. Outras foram parar no Ovo, o álbum baseado no show Millennium Dome, ou então no 'Long Walk Home'. Mas quais tenham sido as outras razões para a longa espera pelo Up, claramente bloqueio de escritor não foi uma delas.

"As canções vêm de todos tipos de lugares", Peter diz ao explicar o processo de seleção. "Eu jogo idéias que me interessam em termos de melodia e ritmo e tento desenvolvê-las. É como cultivar frutas. Eventualmente elas se tornam maduras o suficiente para serem espremidas e darem algum suco."

Um dos resultados da grande demora em fazer o disco é que o tà­tulo - que Peter já tem por volta de 8 anos e que tornou público cedo - foi desde então "tomado emprestado" em mais de uma ocasião. O REM lançou um disco chamado Up e Ani di Franco chamou um disco de Up Up Up Up Up Up... Via seu web-site Peter perguntou aos fãs se o tà­tulo já estava ultrapassado e eles votaram para que ele fosse mantido.

"É uma palavra muito positiva e eu gostei deste aspecto", ele explica. "Quando ouço o disco há definitivamente algumas músicas mais sombrias. Só que estou de bom humor no momento e acho que o álbum é mais para cima que os dois discos anteriores. Mas eu sempre achei mais difà­cil escrever músicas felizes que tristes, apesar de ter me saà­do bem ocasionalmente."

A história do making do Up não apenas preenche vários anos, como também atravessa diversos continentes.

Começou no Senegal, onde ele trabalhou com vários músicos do Youssou N'Dour. Depois, o processo foi transferido para o clima mais frio dos Alpes Franceses onde Peter passou manhãs aprendendo a surfar na neve e as tardes no estúdio. Então houve uma viagem até a Amazônia, "um luxuoso passeio descendo o rio em um estúdio flutuante", como ele descreve. "Então precisei voltar à realidade. Mas muitas das músicas surgiram destas experiências."

De volta ao seu estúdio Real World, as canções lentamente começaram a tomar forma. "Estou no estúdio ao meio-dia e raramente volto antes da meia-noite", diz Peter. "Uma vez que eu estou compenetrado encontro bastante dificuldade de parar de trabalhar. Tenho uma técnica bagunçada e ampla, mas depois vou lapidando até encontrar o centro."

Umas das vantagens de Peter ter seu próprio estúdio é que o Real World está sempre cheio de músicos de todas as partes do mundo. "Todos os dias há pessoas diferentes aqui e uma grande variedade de música sendo criada. Ouvir o que eles estão fazendo e apenas conversar com outros músicos me alimenta", ele diz.

O processo colaborativo tem sido sempre importante em seu trabalho e, como era de se esperar, uma parte dos músicos que visitaram o Real World foi convidada para figurar no Up. Entre eles, está o falecido e saudoso Nusrat Fateh Ali Khan, os Blind Boys of Alabama, Daniel Lanois e Peter Green. "Trabalhar com outros artistas traz ar novo para a música e te leva a lugares que de outro modo você não iria. A chave para a colaboração é ouvir e também oferecer algum espaço. Pessoas podem adicionar coisas que me surpreendem ou que me levam a outra direção."

Cantando nos backing vocals em duas faixas está a filha de Peter, Melanie. "É fantástico tê-la no negócio da famà­lia. Ela tem uma linda voz e está agora trabalhando em seu próprio álbum", diz Peter.

As letras em Up foram em sua maioria escritas fora do estúdio. "Tenho de me disciplinar a escrever. Necessito viajar e ficar em uma pousada ou dirigir pelo lugar, e preciso fazer isso sozinho", explica Peter. "Viajar é bom para compor. Sentar em um quarto com uma folha de papel em branco é duro."

Seu último álbum, Us, foi uma coleção altamente pessoal de canções que descrevem sua vida em uma certa época. Up ocupa uma esfera maior de letras. "Uma parte é menos especà­fica e mais de observação. Trata menos de relações, mas ainda é um disco bastante pessoal", ele diz.

Os temas do álbum são bem variados. "É um disco voltado mais para o começo e fim da vida que para o meio", diz Peter. "A morte esteve mais presente em minha vida nos últimos dez anos já que amigos têm envelhecido e morrido." Mas ao mesmo tempo, a noção de renovação também está presente de maneira forte, talvez influenciada pelo fato do artista ter se casado outra vez recentemente e ter tornado-se pai mais uma vez.

A faixa de abertura "Darkness" recorda antigas e temà­veis memórias. "Growing Up", representa a jornada da vida do ventre até a morte e a busca por um lugar no plano mais alto das coisas. "Sky Blue", a canção mais antiga do disco, é sobre perder o sentido da vida e do amor, e, na vastidão da natureza, encontrar uma forma de lidar com a solidão. Em "No Way Out" a vida habitual é levada embora por um acidente de carro, nos lembrando da fina linha que nos prende à vida.

"I Grieve" apareceu originalmente na trilha sonora do filme Cidade dos Anjos, mas foi mais desenvolvida em Up. "Não existem muitas músicas que lidam propriamente com remorso e foi isso que tentei fazer", diz Peter. "More Than This" é a faixa mais alegre do álbum e expressa uma crença de que "existe algo mais".

A obscuramente humorada "The Barry Williams Show" - baseada em um múltiplo personagem mas com mais de um traço de Jerry Springer - analisa como a televisão de 3ª categoria e o comportamento disfuncional alimentam um ao outro. "My Head Sounds Like That" descreve um estado de espà­rito em que um entorpecimento intensifica a a sensibilidade em ouvir, enquanto "Signal to Noise" trata de moralidade pessoal e compaixão. "The Drop", a última faixa, encontra o artista em um avião, olhando para baixo por entre as nuvens e tentando imaginar o mundo mais adiante.

"Para mim, o melhor trabalho integra tanto o analà­tico quanto a espontaneidade", ele diz. "Você extrai a energia da performance criativa mas também tem o controle e capacidade de afiá-la no estúdio. Esta é a combinação que busquei para este disco."

Em novembro Peter inicia uma turnê americana, com datas européias por vir no ano que vem. O show vai ser produzido mais uma vez em união com Robert Lepage, que ajudou a criar a turnê Secret World, e os resultados prometem ser similarmente espetaculares.

Então, acredite ou não, depois de nos deixar esperando nove anos por um álbum, Peter já está planejando outro. "Não devo levar todo esse tempo para terminá-lo porque grande parte da composição musical já foi feita e algumas faixas já estão prontas. É uma sensação boa saber que há algo no cofre, com até mesmo um tà­tulo. Acho que vamos chamá-lo de I/O. Dependendo de compromissos de turnês, espero que possamos lançá-lo em 18 meses."

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