BISFENOL EM CHUPETAS ACENDE ALERTA AOS PAIS

A segurança dos bebês voltou ao centro das atenções depois que um levantamento europeu apontou a presença de bisfenol A (BPA) em chupetas de marcas conhecidas — entre elas, Curaprox e Philips Avent. O achado é preocupante, já que o BPA é uma substância com potencial de interferir no sistema hormonal, e produtos infantis costumam ser vendidos justamente com o selo “livre de BPA”.

O que descobriram os testes

A investigação foi conduzida pela organização de consumidores dTest, da República Tcheca, com apoio de entidades da Eslovênia e da Hungria. Os pesquisadores compraram 21 modelos de chupetas em lojas físicas e online, e simularam o uso em laboratório: as amostras foram colocadas em “saliva artificial” a 37 °C por 30 minutos, o que permite medir se o BPA migra do material para o meio externo.

O resultado acendeu um sinal vermelho. Quatro modelos apresentaram vestígios de BPA — incluindo a Curaprox “Baby Grow with Love”, com 19 µg/kg, e a Philips Avent “Ultra Air”, com cerca de 2 µg/kg. O caso da Curaprox é o mais grave, porque o valor ultrapassa o limite de 10 µg/kg estabelecido pela norma europeia EN 1400 para chupetas.

A presença de BPA, ainda que em pequenas quantidades, contraria o que as embalagens prometem: produtos “BPA-free”. O composto é conhecido como disruptor endócrino, ou seja, pode afetar o funcionamento de hormônios e o desenvolvimento infantil quando há exposição prolongada.

O que dizem as marcas

A Curaprox confirmou a detecção e recolheu os lotes afetados do modelo Baby Grow with Love, pedindo aos consumidores que interrompam o uso e solicitem reembolso. O recall também foi oficializado por órgãos de segurança de produtos na Austrália, ampliando o alerta internacional.

Já a Philips Avent contesta os resultados e afirma que testes realizados pelo laboratório DEKRA não encontraram BPA em seus produtos. Em comunicado, a empresa reforçou que toda a linha Avent é 100 % livre de BPA e BPS, de acordo com certificações internas e auditorias independentes.

Falhas nas regras e brechas regulatórias

O episódio também expôs uma inconsistência nas normas europeias. Enquanto a regra específica para chupetas (EN 1400) define o limite em 10 µg/kg, a Diretiva de Segurança de Brinquedos permite até 40 µg/kg de BPA em produtos que podem ir à boca de crianças. Essa diferença faz com que um mesmo resultado possa ser considerado seguro em uma norma e não-conforme em outra.

Além disso, a proibição de BPA em materiais de contato com alimentos não se aplica automaticamente a chupetas, criando uma zona cinzenta. Na prática, um produto que o bebê suga todos os dias pode ser menos regulado que uma mamadeira.

O que os pais podem fazer agora

Para os pais que utilizam chupetas da Curaprox, é fundamental verificar o número do lote. Os modelos identificados como 006, 007, 008, 009, 010 e 011 fazem parte do recall anunciado pela marca e devem ter o uso interrompido imediatamente. A empresa orienta que os consumidores solicitem o reembolso pelos canais oficiais de atendimento.

Mesmo quem possui outros modelos deve adotar medidas de precaução. A recomendação é dar preferência a chupetas de silicone médico, produzidas em peça única, com rótulo e número de lote claramente visíveis. O produto precisa ser substituído ao primeiro sinal de rachadura, deformação ou desgaste, já que essas alterações podem facilitar a liberação de substâncias indesejadas. Também é importante evitar fervuras excessivas, pois o calor intenso pode acelerar esse processo.

Acima de tudo, os pais devem manter-se informados sobre novos testes, comunicados e eventuais recalls divulgados por fabricantes e órgãos de defesa do consumidor. A atenção a esses detalhes é a melhor forma de garantir a segurança e o bem-estar dos bebês.

Entenda o que é o BPA

O bisfenol A é usado há décadas na fabricação de plásticos e resinas. O problema é que, em determinadas condições, ele pode se desprender do material e contaminar alimentos, líquidos — ou, no caso das chupetas, entrar em contato direto com a saliva. Estudos relacionam o BPA a alterações hormonais, problemas reprodutivos e impactos no desenvolvimento infantil, o que levou diversos países a restringirem seu uso.

Por que o alerta é importante

Mesmo que o estudo europeu não tenha sido publicado em revista científica, ele reforça um ponto essencial: a necessidade de vigilância constante sobre produtos destinados a bebês. Um simples rótulo “livre de BPA” não é garantia absoluta. O melhor caminho é informação, cautela e acompanhamento das atualizações oficiais.

Serviço – Informações oficiais

Recall Curaprox “Baby Grow with Love” — Lotes 006 a 011. Orientações no site oficial da marca.

Comunicado da ACCC (Austrália) — alerta sobre risco de migração de BPA e instruções de devolução.

Nota da Philips Avent — empresa mantém posição de que seus produtos são testados e livres de BPA e BPS.

Relatório da dTest — disponível em portais de defesa do consumidor da Europa Central.