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JOCKEY CLUB DE SÃO PAULO TEM USO DE VERBAS PÚBLICAS SOB INVESTIGAÇÃO

AUDITORIA APURA GASTOS COM INCENTIVOS FISCAIS; JUSTIÇA SUSPENDE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO CLUBE

João Carlos

20/10/2025

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Crédito da imagem: gerada por IA

Uma investigação publicada pelo portal UOL em 19 de outubro revelou que parte dos R$ 83,6 milhões em incentivos fiscais recebidos pelo Jockey Club de São Paulo — R$ 22,4 milhões pela Lei Rouanet e R$ 61,2 milhões por programas municipais de preservação do patrimônio — teria sido direcionada a empresas goianas e a pessoas com vínculos familiares ou políticos com o ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), que nega envolvimento.

A Prefeitura de São Paulo rejeitou parte das prestações de contas e determinou auditoria sobre os gastos, enquanto o Ministério da Cultura (MinC) informou que também apura o caso em conjunto com o município.

Apontamentos da investigação

O relatório analisou notas fiscais e contratos que indicam pagamentos a empresas de Goiás, como a Elysium Sociedade Cultural (responsável pela coordenação das obras), a Construtora Biapó, a Construtora Vidal e a administradora Sapé, além de despesas pessoais registradas em restaurantes, farmácias e hospedagens.

A Construtora Vidal teria emitido R$ 11,2 milhões em notas fiscais, embora não tenha sede física verificada nos endereços informados, e a empresa Sapé, ligada a uma prima de Perillo, recebeu R$ 2,3 mil pelo aluguel de um gerador enviado para Santo Antônio de Goiás, cidade sem relação com as obras no hipódromo paulistano.

O UOL também identificou que as mesmas notas fiscais foram usadas para justificar despesas tanto na Lei Rouanet quanto no programa municipal de incentivo (TDC), prática que especialistas classificam como irregularidade.
Apesar do volume de recursos, parte das estruturas do Jockey permanece degradada, com obras inacabadas e áreas interditadas, como a Tribuna 1, que teria recebido R$ 7,7 milhões.

As manifestações das partes

Jockey Club de São Paulo

Em nota, o Jockey afirma que todas as prestações de contas seguem as regras legais e que caberá ao poder público solicitar eventuais ajustes dentro dos trâmites administrativos. O clube critica o que chama de “interesses nada republicanos” e diz haver “tentativa de manipulação da opinião pública”, alegando esforços para desvalorizar o imóvel e justificar uma eventual desapropriação. A direção reforça que os processos de restauro e contratações ocorrem dentro da normalidade legal.

Elysium Sociedade Cultural

A produtora nega qualquer irregularidade e afirma que todas as etapas dos projetos estão registradas no sistema Salic, banco de dados oficial da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Segundo a empresa, os gastos administrativos respeitam o limite de 15%, e não houve uso de recursos para despesas pessoais. A Elysium rejeita qualquer relação política, diz que suas contratações são baseadas em critérios técnicos e lembra que foi reconhecida como Organização Social de Cultura (OSC) em 2014 por decreto de Marconi Perillo, ato que — ressalta — é previsto em lei e não reflete proximidade pessoal.

Marconi Perillo

O ex-governador nega envolvimento na escolha de fornecedores do Jockey Club e classifica como “leviandade absurda” a associação de seu nome ao caso.

Ele afirma que não possui participação nem influência sobre a produtora Elysium Sociedade Cultural e que a empresa já prestava serviços ao Jockey três anos antes de sua entrada como sócio, em 2019.

Perillo reconhece ter parentesco distante com Débora Perillo, uma das sócias da Elysium, descrevendo-a como “prima de terceiro grau”, e diz conhecê-la apenas de vista. Segundo o ex-governador, a coincidência de sobrenome e origem goiana teria sido usada indevidamente para sugerir vínculos políticos inexistentes.

Ele acrescenta que o decreto de 2014, que qualificou a Elysium como Organização Social de Cultura (OSC), seguiu critérios técnicos e beneficiou outras instituições culturais. Em nota, afirmou que a reportagem do UOL “transformou informações técnicas em panfleto político”.

Prefeitura de São Paulo e Ministério da Cultura

A Prefeitura confirma que rejeitou as prestações de contas referentes ao programa municipal de incentivo e instaurou auditoria sobre o uso dos recursos. O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) apontou a necessidade de esclarecimentos e que, em caso de irregularidades, os valores poderão ser devolvidos.

O MinC acompanha o caso e informa que não identificou inconsistências graves em projetos já concluídos, mas mantém a apuração aberta.

Em outra frente de problemas envolvendo o Jockey

Enquanto enfrenta as investigações, o Jockey também lida com impasses judiciais em torno da recuperação judicial.

A Justiça aceitou o pedido em setembro, reconhecendo passivo de R$ 19 milhões, mas o TJSP suspendeu a decisão em outubro, por entender que a entidade é associação civil sem fins lucrativos, o que torna controversa a aplicação da Lei de Falências. Especialistas avaliam que a controvérsia pode impactar a reorganização financeira da instituição. Até o julgamento final, estão suspensos os atos processuais, mas mantida a proibição de expropriações para evitar danos irreversíveis.

Contexto: dívida bilionária e disputas com a Prefeitura

De acordo com informações baseadas em reportagens publicadas na imprensa, o Jockey tenta negociar uma dívida tributária superior a R$ 800 milhões em IPTU e ISS, além de debater a desapropriação da área do hipódromo, avaliada entre R$ 93 e R$ 95 milhões.

Editorial – O Jockey e o dever de transparência

Diante das denúncias e auditorias, o Jockey Club de São Paulo atravessa um momento de intensa pressão pública. A cada nova reportagem, a instituição parece se afastar da imagem de símbolo histórico da cidade e se aproximar de um labirinto de suspeitas e contradições.

As apurações sobre o uso de verbas da Lei Rouanet e dos incentivos municipais de preservação envolvem recursos públicos e, por isso, exigem transparência e clareza na prestação de contas. O contraste entre obras milionárias e estruturas deterioradas é evidente — e reforça a necessidade de respostas concretas à sociedade.

A suspensão judicial da recuperação reforça a percepção de desordem financeira, ampliando o ceticismo. Ainda que o clube tenha se manifestado oficialmente, a cidade aguarda explicações mais completas e verificáveis.

Num cenário em que responsabilidade e prestação de contas são exigências sociais, o Jockey tem a oportunidade de transformar a crise em gesto de clareza.

O clube é mais que uma entidade privada: é parte da memória urbana paulistana. Esclarecer o destino dos recursos não é apenas dever administrativo, mas compromisso ético com a história e a cidade que o financiou

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