O FIM DE UMA ERA: MTV ENCERRA TRANSMISSÃO EM VÁRIOS PAÍSES
O QUE REPRESENTA O ADEUS DA MAIOR MARCA MUSICAL TELEVISIVA DA HISTÓRIA
João Carlos
30/12/2025
A notícia do fechamento da MTV em vários países provocou uma forte reação no meio musical, com profissionais do setor afirmando que se trata de “o fim de uma era”. Para quem não recorda — ou para as gerações que só conheceram a marca em sua fase mais recente —, a MTV foi muito mais que um canal de TV: ela reinventou a forma como artistas surgiam, como a música era consumida e como os videoclipes se tornaram uma linguagem global.
O desligamento dos últimos canais lineares da MTV até 2026, dentro da reestruturação mundial da Paramount, não representa apenas um ajuste corporativo. É o ponto final de uma trajetória que começou em 1981, revolucionou a indústria fonográfica, moldou gerações inteiras, lançou ídolos, impulsionou movimentos como o rock, o pop e o hip-hop, e transformou o videoclipe em um instrumento cultural tão poderoso quanto a própria canção.
Nesta reportagem especial, revisitamos a história completa da emissora — de sua criação ao auge dos anos 80 e 90 —, passando pelo impacto no mercado global e chegando ao momento decisivo que agora marca a virada desta marca histórica para um novo capítulo digital.
Por que a MTV vai sair do ar — e qual será o futuro da marca?
A decisão de encerrar os últimos canais musicais da MTV ao redor do mundo não surpreendeu observadores atentos do setor. O The New York Times descreve o movimento como parte de uma “reestruturação profunda” da Paramount — dona da MTV — para sobreviver à economia do streaming, que hoje concentra boa parte da receita e da audiência da empresa.
A consultoria britânica Enders Analysis reforça que os canais lineares dedicados à música se tornaram “financeiramente inviáveis”, acumulando queda histórica de audiência ao mesmo tempo em que enfrentam custos elevados de operação. Em paralelo, a MTV perdeu espaço para plataformas como YouTube, TikTok e serviços sob demanda — ambientes que absorveram o consumo musical das novas gerações.
O jornalista Rob Sheffield, da Rolling Stone, define o momento como “o fim de uma era que já vinha se dissolvendo silenciosamente há mais de uma década”, destacando que o público jovem deixou de assistir vídeos na televisão muito antes da decisão oficial.
Abertura histórica: como surgiu a MTV
A MTV nasceu em 1º de agosto de 1981, com a frase “Ladies and gentlemen, rock and roll” — e, em seguida, exibiu o videoclipe Video Killed the Radio Star, do The Buggles. A escolha não poderia ter sido mais simbólica: marcava o início de uma revolução que transformaria o videoclipe de mero material promocional em obra audiovisual central na cultura pop.
Executivos da Warner-Amex enxergaram naquele momento uma oportunidade de oferecer ao público jovem algo que não existia em nenhum outro lugar: uma TV guiada inteiramente por música, imagem e estilo. A partir dali, a MTV se tornaria o coração pulsante da cultura pop global.
O auge: a era que mudou o mundo
O período de ouro da MTV durou cerca de 15 anos — entre 1981 e meados dos anos 1990 — quando a emissora se tornou o principal motor cultural do planeta. Foi nesse intervalo que movimentos inteiros ganharam projeção e que artistas se tornaram ícones incontornáveis.
Profissionais de veículos como Billboard e Variety definem esse período como “a década e meia que moldou o rosto da música moderna”. A MTV não apenas exibia videoclipes — ela definia estética, comportamentos, moda, linguagem e até os rumos da indústria.
Artistas impulsionados pela MTV — a geração que virou mito

A ascensão da MTV coincidiu com o surgimento e a consolidação de alguns dos artistas mais influentes da cultura pop moderna — e muitos deles só alcançaram projeção global porque a emissora entendeu, antes de qualquer outra plataforma, o poder do videoclipe como ferramenta artística e de marketing. Entre esses nomes, ninguém simboliza melhor essa transformação do que Michael Jackson, cuja relação com a MTV redefiniu completamente o padrão de produção audiovisual na música. Seus clipes — especialmente Thriller, Beat It e Billie Jean — deixaram de ser simples materiais promocionais e se tornaram obras cinematográficas, criando um novo paradigma que obrigou o mercado a repensar o próprio conceito de espetáculo. Para muitos analistas, a parceria entre Jackson e a MTV inaugurou a era do videoclipe de alto orçamento e colocou a emissora no centro da cultura global.

Outra figura essencial nesse cenário foi Madonna, uma artista que compreendeu como poucos a força da imagem, da moda e da narrativa visual. A MTV foi o palco onde sua habilidade de reinvenção permanente encontrou o ambiente ideal para florescer. Videoclipes como Like a Virgin, Material Girl e Vogue se tornaram eventos culturais e ajudaram a consolidar Madonna como uma das maiores comunicadoras visuais da história da música. Seu domínio sobre performance, estética e provocação encontrou na MTV a plataforma perfeita para reverberar mundo afora.

Da mesma forma, Prince elevou o videoclipe a um território de exuberância estética, misturando música, sensualidade, moda e teatralidade com uma assinatura artística inconfundível. A exposição na MTV ampliou seu alcance, principalmente pela forma como seus vídeos quebravam convenções e expandiam a percepção do público sobre liberdade criativa. Artistas e críticos concordam que Prince foi um dos responsáveis por elevar o videoclipe ao status de arte, contribuindo decisivamente para a identidade visual da década.

A estética dos anos 1980 também foi moldada por bandas como Duran Duran, que se tornaram um fenômeno global ao transformar videoclipes em produções quase cinematográficas, gravadas em locações exóticas e com direção de alto nível. A MTV exibia seus vídeos incessantemente, e essa exposição mundial não só impulsionou suas vendas como contribuiu para o surgimento de uma imagem pop sofisticada, moderna e altamente visual — a verdadeira cara da década.

O rock e o metal também encontraram na MTV um acelerador de popularidade sem precedentes. Grupos como Bon Jovi, Guns N’ Roses, Def Leppard e Van Halen conquistaram uma nova dimensão de fama ao combinar energia, carisma e videoclipes memoráveis. Esses artistas se tornaram presenças constantes no canal, e muitos críticos afirmam que a MTV foi decisiva para transformar o hard rock e o glam metal em fenômenos planetários, especialmente entre adolescentes e jovens adultos.
Na virada para os anos 1990, a emissora novamente desempenhou papel fundamental ao impulsionar o movimento grunge. Quando a MTV colocou em rotação pesada Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, uma nova geração musical explodiu instantaneamente. A emissora transformou Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden em protagonistas de uma revolução estética e sonora que redefiniu o rock daquela década. Videoclipes de atmosfera crua, angústia genuína e visualidade espontânea encontraram ali uma vitrine poderosa, tornando Seattle o epicentro da música mundial.
Ao mesmo tempo, a MTV foi responsável por romper barreiras culturais e levar o hip-hop para o mainstream global. Programas como Yo! MTV Raps ofereceram, pela primeira vez, uma plataforma diária para artistas negros e urbanos, abrindo espaço para nomes como Run-D.M.C., LL Cool J, Public Enemy e Beastie Boys. Para especialistas, esse foi um dos movimentos mais importantes da história da emissora: a partir dali, o hip-hop deixou de ser um fenômeno regional para se tornar uma das maiores forças culturais do planeta.
Esses artistas, movimentos e linguagens musicais não teriam transcendido fronteiras com a mesma intensidade sem a MTV. A emissora não apenas exibiu videoclipes — ela construiu carreiras, moldou narrativas, influenciou comportamentos e ajudou a reescrever o mapa cultural da música mundial. Durante aqueles anos de ouro, passar na MTV era muito mais do que uma conquista: era uma espécie de certificação cultural capaz de transformar artistas em ícones.
O impacto da MTV na indústria fonográfica — a era dos grandes orçamentos e do vídeo como poder global
A influência da MTV sobre a indústria da música foi profunda, imediata e irreversível. Assim que o videoclipe deixou de ser um recurso promocional secundário para se tornar a moeda mais valiosa da cultura pop, toda a estrutura da indústria fonográfica precisou se reorganizar. Gravadoras criaram departamentos especializados, contrataram diretores de cinema, estilistas, coreógrafos, fotógrafos e equipes inteiras dedicadas a transformar artistas em personagens de seus próprios universos visuais. Pela primeira vez, a imagem passou a ser tão estratégica quanto a música.
Executivos e produtores descrevem aquele período como “a era em que o vídeo passou a valer mais do que a própria canção”. Em muitos casos, o orçamento de um videoclipe ultrapassava o da gravação de um álbum inteiro — e isso não era exagero: era a nova realidade de um mercado movido pela exposição global na MTV.
A emissora, com sua curadoria poderosa e horário limitado, passou a determinar quem subia, quem caía, quem viralizava (antes mesmo da palavra existir) e quem desaparecia. Estar na programação diária — e, mais ainda, no heavy rotation — era o equivalente a receber um carimbo de relevância instantânea no planeta.
A estética como arma: videoclipes que custaram verdadeiras fortunas
Com a MTV ditando as regras do jogo, uma corrida por superproduções tomou conta dos anos 80 e 90. Vários videoclipes se tornaram lendários não apenas por sua estética, mas pelas cifras astronômicas investidas para impressionar o público e garantir espaço na emissora.
Michael Jackson – “Thriller” (1983)
Com orçamento aproximado de US$ 500 mil (equivalente a mais de US$ 1,5 milhão hoje), o clipe dirigido por John Landis mudou o status do videoclipe ao introduzir narrativas cinematográficas, maquiagem de cinema e coreografias épicas. Tornou-se um marco cultural, redefinindo expectativas e obrigando a indústria a elevar seu padrão imediatamente.
A-ha – “Take On Me” (1985)
Com orçamento de US$ 400 mil, a combinação de live action com rotoscopia foi revolucionária, criando uma estética imediatamente reconhecível que provou ser possível unir inovação, experimentação e ambição artística sem abrir mão de enorme apelo comercial.
Guns N’ Roses – “November Rain” (1992)
Com orçamento de cerca de US$ 1,5 milhão — com filmagens em catedrais, produção cinematográfica e ambientações luxuosas —, o clipe refletiu o auge da megalomania rock dos anos 90, algo só possível porque a MTV era, então, a principal vitrine global.
Madonna – “Express Yourself” (1989)
Com orçamento de US$ 5 milhões — um dos videoclipes mais caros da história —, o vídeo dirigido por David Fincher inspirou-se na estética expressionista de Metrópolis e consolidou Madonna como pioneira em unir música, arte, moda e um discurso visual poderoso.
Michael Jackson e Janet Jackson – “Scream” (1995)
Com orçamento de US$ 5 milhões — um dos videoclipes mais caros da história —, a produção dirigida por David Fincher, inspirada na estética expressionista de Metrópolis, consolidou Madonna como pioneira ao unir música, arte, moda e um discurso visual poderoso.
George Michael – “Freedom! ’90” (1990)
Orçamento alto, com supermodelos como Naomi Campbell, Linda Evangelista e Cindy Crawford interpretando versos da música. O clipe representou a fusão entre moda, música e cultura pop que a MTV ajudou a consolidar.
Janet Jackson – “Rhythm Nation” (1989)
Considerado um dos clipes mais inovadores em temática social, com coreografias complexas e estética militar futurista que influenciou gerações inteiras.
E essa lista é apenas a superfície. Nos bastidores, havia a percepção de que, para competir em igualdade de condições na MTV, era preciso produzir vídeos que causassem impacto imediato, que chamassem atenção nos primeiros segundos, que conversassem com a linguagem do jovem globalizado — um público criado pela própria emissora.
O impacto dos Acústicos MTV — Quando a simplicidade se tornou fenômeno global

Em meio à explosão de superproduções milionárias e videoclipes cada vez mais grandiosos, a MTV surpreendeu o mundo ao apostar em um formato que ia na direção oposta: o Acústico MTV (MTV Unplugged). Lançado em 1989 nos Estados Unidos, o projeto nasceu como um respiro diante da estética exuberante da época, oferecendo performances despojadas, intimistas e focadas na força da canção. O conceito — artistas renomados revisitados em violões, percussões leves e arranjos minimalistas — rapidamente se transformou em um marco cultural e em um dos produtos mais respeitados da história da emissora.
O formato ganhou reputação quase imediata ao revelar uma faceta mais crua e emocional de músicos que, até então, eram identificados com grandes espetáculos, cenários exuberantes e produções altamente elaboradas. O Unplugged de Eric Clapton, gravado em 1992, tornou-se um fenômeno global, rendeu ao artista seis prêmios Grammy — incluindo Álbum do Ano — e transformou sua releitura de Layla em um clássico absoluto. O impacto foi tão profundo que o registro é frequentemente apontado por críticos como o maior disco ao vivo de todos os tempos, um marco que redefiniu a relação entre simplicidade estética e força interpretativa.

Poucos anos depois, o registro acústico do Nirvana, gravado em 1993, marcaria para sempre a história da música. Lançado postumamente após a morte de Kurt Cobain, o show se consolidou como um dos trabalhos mais impactantes dos anos 1990 e permanece como um documento emocionalmente devastador, revelando uma banda em seu ápice criativo, vulnerável e intensa, oferecendo leituras únicas de seu repertório e de clássicos alheios sob um prisma de fragilidade e profundidade raramente capturados ao vivo.
O formato se expandiu pelo mundo, inclusive com enorme impacto no Brasil, onde o Acústico MTV se tornou um divisor de águas para o pop e o rock nacional nos anos 1990 e 2000. Projetos como os de Titãs, Legião Urbana, Charlie Brown Jr., Cássia Eller, Engenheiros do Hawaii, Capital Inicial e Kid Abelha construíram momentos emblemáticos da música brasileira e, em muitos casos, renderam álbuns e turnês bem-sucedidas. A gravação de Cássia Eller, lançada em 2001, por exemplo, tornou-se um dos registros acústicos mais celebrados do país, consolidando sua capacidade de transitar entre intensidade e delicadeza com naturalidade incomparável.

O sucesso dos Acústicos MTV provou que o poder da música não dependia apenas de megaproduções, orçamentos astronômicos ou pirotecnia audiovisual. Bastava um palco bem iluminado, músicos talentosos, arranjos repensados e a disposição de revisitar repertórios com verdade artística. Em plena era da estética maximalista, a MTV mostrou que a simplicidade também podia ser revolucionária.
Ao mesmo tempo em que os videoclipes definiam tendências e moldavam a imagem dos artistas, os Acústicos reforçavam a força bruta da interpretação, a beleza do som ao vivo e a capacidade de um bom repertório atravessar gerações. O projeto se tornou, assim, um complemento fundamental da narrativa musical criada pela emissora — e um dos legados mais duradouros da MTV nas últimas décadas.
O videoclipe como motor da indústria
Na prática, a MTV transformou o videoclipe em tudo ao mesmo tempo: vitrine, cartão de visitas, peça de marketing, manifesto visual e espetáculo cultural. Ele deixou de ser um mero complemento da música para se tornar o verdadeiro motor de uma carreira.
Nos anos 80 e 90, era impensável lançar um álbum sem um vídeo forte; igualmente impossível conquistar projeção global sem uma identidade estética marcante ou entrar no radar da juventude sem ao menos uma rotação significativa na emissora. Um videoclipe bem-sucedido podia, sozinho, multiplicar vendas, impulsionar turnês, pautar revistas especializadas, influenciar rádios, ditar moda, moldar comportamentos e transformar desconhecidos em celebridades internacionais praticamente da noite para o dia.
A MTV não apenas acompanhou essa transformação — ela a conduziu. Definiu códigos culturais, estéticos e comportamentais que se irradiaram para além da música e obrigou a indústria fonográfica a profissionalizar o audiovisual, elevando padrões técnicos, orçamentários e criativos a níveis inéditos.
Nada semelhante havia acontecido antes, e nada voltou a ocorrer com tamanha força. O que nasceu ali — a obsessão por imagem, estilo, ritmo visual e narrativa — continua presente até hoje em videoclipes contemporâneos, em campanhas publicitárias, na fotografia de moda e até na lógica de consumo das redes sociais, onde a estética rápida, impactante e altamente curada segue sendo a herdeira direta da linguagem que a MTV ajudou a inventar.
As relações com as gravadoras — uma aliança decisiva
A relação entre a MTV e as gravadoras foi profundamente simbiótica. Enquanto a emissora precisava de um fluxo constante de novos conteúdos para manter sua programação vibrante, os selos dependiam da visibilidade global oferecida pela MTV para transformar artistas em fenômenos internacionais. O resultado foi um círculo virtuoso que elevou os videoclipes ao patamar de produtos milionários, capazes de definir carreiras inteiras.
As grandes majors — Sony, Warner, EMI, Universal e BMG — passaram a investir somas cada vez mais altas em produções que disputavam espaço na programação. Artistas ganharam equipes completas de estilistas, diretores consagrados e roteiristas que trabalhavam com linguagem cinematográfica, criando narrativas visuais tão importantes quanto as próprias músicas.
Essa aliança moldou de forma decisiva a identidade musical e estética dos anos 80 e 90 e acelerou, de maneira inédita, a globalização da cultura jovem.
O declínio — o mundo mudou e a MTV precisou se adaptar
O declínio não ocorreu de um dia para o outro.
No fim dos anos 90, a internet começou a alterar o consumo musical. Em 2005, o lançamento do YouTube transformou definitivamente o videoclipe em um produto do ambiente digital.
A MTV tentou se reinventar com reality shows e formatos de lifestyle, mas nunca mais recuperou o poder que tinha no auge.
A emissora continuou relevante, mas já não ditava as regras do jogo cultural.
O legado cultural — a marca que definiu gerações
Mesmo com o declínio dos canais lineares, a MTV permanece como uma das marcas mais influentes da história da música.
Ela consolidou o videoclipe como arte, lançou superstars, globalizou o pop, registrou transformações culturais profundas e ajudou a construir a linguagem audiovisual da música moderna.
A estética da MTV pode ter mudado, mas sua herança está presente em tudo: na forma como consumimos conteúdo, no design dos videoclipes atuais, na estética das redes sociais e na lógica visual que domina o pop do século 21.
Os possíveis caminhos da MTV
Apesar da saída da TV paga, a marca permanece forte. Correspondentes internacionais do Hollywood Reporter afirmam que a retirada dos canais lineares deve ser vista como “uma adaptação necessária” para acompanhar mudanças no consumo global.
A Variety ressalta que a MTV é um dos trunfos culturais mais valiosos da Paramount, tanto histórica quanto comercialmente, e segue associada ao universo pop e ao imaginário jovem.
O The Guardian observa que a empresa já direciona o público para canais FAST — ambientes onde conteúdos clássicos como MTV Unplugged, MTV Cribs e blocos de videoclipes encontram hoje maior potencial de circulação.
Um futuro mais digital — e menos televisivo
Para a correspondente de mídia Anna Nicolaou, do Financial Times, o desligamento dos canais da MTV deve ser visto como “parte de uma mudança inevitável de ecossistema”, em que marcas tradicionais precisam se reposicionar para sobreviver. A MTV hoje vive nas plataformas onde o público está: streaming, redes sociais, formatos curtos, documentários, acontecimentos ao vivo e conteúdos que dialogam com a lógica digital.
A Billboard enfatiza que os grandes eventos da marca continuarão sendo fundamentais para manter sua relevância. A Rolling Stone aponta que o vasto acervo da emissora pode ganhar nova vida em documentários e produções de nostalgia, enquanto analistas da Enders Analysis veem a MTV como candidata natural a liderar canais temáticos dentro de plataformas FAST, organizados por décadas, estilos ou artistas.
Nesse novo contexto, a MTV não precisa mais competir com YouTube ou TikTok pelo videoclipe em si. Seu papel passa a ser o de curar, contextualizar e celebrar a cultura pop, preservando e reinterpretando a memória audiovisual que ela mesma ajudou a construir. Como sintetizou Anna Nicolaou, numa frase que reverbera entre diferentes profissionais do setor:
“A MTV não está acabando. Está apenas deixando para trás um formato que já não pertence ao século 21.”


