WHAM! EM 1985: O ANO DA CONSAGRAÇÃO GLOBAL
TURNÊS HISTÓRICAS, PRÊMIOS E HITS SELAM O DUO COMO ÍCONE DO POP OITENTISTA
João Carlos
03/12/2025
Em 1985, Wham! viveu o tipo de ano que redefine carreiras. Já impulsionado pelo sucesso do álbum “Make It Big”, lançado no fim de 1984, o duo formado por George Michael e Andrew Ridgeley transformou aquele período num verdadeiro domínio global: discos no topo das paradas, turnês cheias em vários continentes, prêmios da indústria e um feito histórico na China, que ajudou a aproximar o pop ocidental de um público até então praticamente isolado.
Mais do que um bom momento comercial, 1985 marca a transição de Wham! de sensação teen para fenômeno de cultura pop mundial, ao mesmo tempo em que deixava claro que George Michael estava pronto para voos solo nos anos seguintes.
Um álbum que dominou 1985
Lançado no fim de 1984, “Make It Big” continuou a crescer ao longo de 1985, transformando-se em um dos discos mais populares do planeta. O álbum chegou ao número 1 tanto no Reino Unido quanto nos Estados Unidos e permaneceu entre os mais vendidos também em mercados como Japão e Canadá. A expansão global coincidiu com a circulação de duas capas oficiais distintas:

a versão britânica/europeia (em destaque cima), mais clara e suave, com George Michael e Andrew Ridgeley em um visual clean e glamouroso;
e a versão norte-americana (acima), mais contrastada e séria, criada pela Sony/Epic para transmitir maturidade e atender ao gosto do público dos EUA.
Essa segmentação ajudou o álbum a dialogar com públicos diferentes em um momento em que o Wham! se tornava um fenômeno mundial.
Os singles de “Make It Big” foram decisivos. “Wake Me Up Before You Go-Go”, “Careless Whisper” e “Everything She Wants” formaram um raro trio de números 1 consecutivos na Billboard Hot 100 entre novembro de 1984 e maio de 1985 — algo que não acontecia com um mesmo ciclo de lançamentos desde a era de ouro dos Bee Gees. Recorde abaixo.
Entre essas faixas, “Careless Whisper” teve um processo especialmente singular.
A canção foi gravada duas vezes e lançada em duas versões oficiais, cada uma com abordagem musical distinta. A primeira gravação, produzida por Jerry Wexler no estúdio Muscle Shoals (EUA), tinha um arranjo mais soul; porém, George Michael não ficou satisfeito com o resultado. De volta a Londres, ele decidiu regravar a faixa do zero, assumindo o controle criativo e lapidando a versão que se tornaria mundialmente conhecida pelo saxofone icônico de Steve Gregory.
Embora lançada como single solo de George Michael, a música manteve associação direta ao Wham! e, dependendo do país e da tiragem, recebeu créditos compartilhados — reflexo do período de transição artística de George dentro e fora do duo. Recorde as duas versões.
Enquanto isso, “Freedom” consolidava o domínio do grupo em ambos os lados do Atlântico: liderou a parada britânica em 1984 e alcançou o top 3 nos Estados Unidos, impulsionada pelo lançamento americano em julho de 1985. O single ganhou ainda mais força com o videoclipe criado a partir das imagens da histórica passagem do Wham! pela China — um registro que ajudou a reforçar o alcance extraordinário do duo naquele momento.
The Big Tour e a viagem histórica à China

Crédito da imagem: o duo Wham! em foto publicada nas redes sociais. Reprodução: Instagram.
Para capitalizar esse sucesso, o duo colocou o pé na estrada. A The Big Tour, iniciada em dezembro de 1984, estendeu-se até abril de 1985, com 39 shows pela Europa, América do Norte, Ásia e Oceania, sempre em arenas lotadas.
O momento mais simbólico dessa fase foi a passagem pela China. Em abril de 1985, Wham! realizou uma visita de dez dias ao país, com shows em Pequim e Cantão – um feito que os tornou o primeiro grande ato de pop ocidental a se apresentar na China comunista, após meses de negociações conduzidas pelo empresário Simon Napier‑Bell.
A atmosfera era tão nova para o público quanto para a banda: ingressos caros para padrões locais, plateia contida, proibição oficial de dançar e um público pouco acostumado ao formato de show pop. O próprio George Michael definiria essas apresentações como “as mais difíceis da minha vida”, tamanho o choque cultural.
Crédito da imagem: Capa de lançamento do documentário em Betamax “Wham! In China: Foreign Skies” (1986) do duo Wham!. Reprodução: Sony Music.
Toda essa experiência foi registrada no documentário “Wham! In China: Foreign Skies”, lançado em 1986, que se tornou documento essencial daquela fase e ajudou a cristalizar a imagem do duo como embaixadores involuntários da cultura pop ocidental no Leste Asiático.
Wham! no Live Aid: pop com alcance planetário
Se a viagem à China mostrou o poder do pop como diplomacia cultural, julho de 1985 levou Wham! ao palco mais global possível: o Live Aid, megaevento beneficente organizado por Bob Geldof e Midge Ure em 13 de julho, com shows simultâneos em Londres e Filadélfia.

Crédito da imagem: O duo Wham! em performance no Live Aid (1985), ao lado de Bob Geldof. Criador: Neil Leifer. Reprodução: Sports Illustrated via Getty Images.
No Wembley Stadium, George Michael subiu ao palco durante o set de Elton John para interpretar “Don't Let The Sun Go Down On Me”. Elton ao piano, George nos vocais principais, com Andrew Ridgeley e Kiki Dee nos backing vocals – uma performance que anos depois serviria de embrião para o dueto oficial lançado em 1991, também número 1 nas paradas.
Aquela aparição, transmitida para centenas de milhões de pessoas, ajudou a deslocar a percepção de George Michael de mero ídolo adolescente para intérprete capaz de dividir o palco com gigantes do pop e do rock. Recorde o momento histórico.
Prêmios, indicações e reconhecimento da indústria
Em paralelo à maratona de shows, 1985 consolidou o prestígio do duo junto à crítica e às premiações. No Brit Awards daquele ano, Wham! levou o troféu de Best British Group, reconhecimento da indústria britânica pelo impacto da banda em casa e no exterior.
Do outro lado do Atlântico, o eco foi semelhante. Nos Grammy Awards, “Wake Me Up Before You Go-Go” rendeu ao duo uma indicação a Best Pop Performance by a Duo or Group with Vocals na 27ª edição da premiação, enquanto o vídeo de compilação “Wham! The Video” seria indicado no ano seguinte a Best Music Video, Long Form.
Já no circuito dos American Music Awards, o reconhecimento veio em janeiro de 1986, quando Wham! venceu a categoria Favorite Pop/Rock Video Group, prêmio diretamente ligado ao impacto que o duo tivera nas paradas e na MTV ao longo de 1985.
O ano ainda guardava um marco especial para George Michael como compositor: em março de 1985, ele recebeu seu primeiro Ivor Novello Award como Songwriter of the Year, além do prêmio de obra mais executada por “Careless Whisper” – feito que o transformou no mais jovem vencedor dessa categoria até então.
Novos singles, turnê norte-americana e caridade
Mesmo com “Make It Big” dominando as paradas, Wham! não tirou o pé do acelerador. Em maio de 1985, “Everything She Wants” chegou ao número 1 da Billboard e se tornou o terceiro single consecutivo do álbum a liderar a parada americana – um feito raríssimo, comparável ao desempenho dos Bee Gees na era Saturday Night Fever.
No segundo semestre, veio a Whamamerica!, turnê dedicada à América do Norte, que entre agosto e setembro percorreu Estados Unidos e Canadá em 19 dias, com grandes estádios lotados graças ao sucesso de “Make It Big” no mercado norte‑americano.
Em novembro, o duo lançou “I'm Your Man”, single isolado que rapidamente alcançou o topo da parada britânica e manteve o nome Wham! em alta nas rádios ao final de 1985, enquanto os bastidores já discutiam o futuro da parceria. Recorde a seguir.
No plano humanitário, o envolvimento de George Michael e Wham! com causas sociais vinha desde 1984, quando George participou da gravação de “Do They Know It’s Christmas?” e o duo destinou todas as royalties do single “Last Christmas” — lançado em dupla face com “Everything She Wants” e que, neste período natalino de 2025, ocupa a vice-liderança no ranking global do Spotify — ao Band Aid Trust, responsável por financiar ações de combate à fome na Etiópia. Esse gesto amplificou o impacto do grupo, que continuou a ecoar nas paradas ao longo de 1985.
Curiosamente, após esses lançamentos, a presença de George Michael e do Wham! tornou-se onipresente em todos os períodos natalinos, consolidando-se como trilha sonora obrigatória das festividades. Recorde abaixo os dois sucessos:
O começo do fim – e a consolidação de um legado
A ironia de 1985 é que, enquanto Wham! atingia um auge sem precedentes, George Michael começava a enxergar o fim do projeto. O sucesso de composições mais maduras como “Everything She Wants” e a resposta à sua performance no Live Aid reforçaram a percepção de que ele poderia dialogar com um público adulto, além da base adolescente que impulsionara os primeiros hits do duo.
Nos bastidores, Michael já discutia a ideia de encerrar Wham! para seguir em carreira solo, algo que viria a público em 1986, com o anúncio da separação, o álbum derradeiro “Music From The Edge Of Heaven” e o concerto de despedida “The Final” no Wembley Stadium.
Quase quatro décadas depois, 1985 permanece na memória de quem viveu e testemmunhou aquele momento como o ano em que Wham! deixou de ser apenas um sucesso de rádio para se tornar símbolo definitivo do pop dos anos 80 – um período em que o duo dominou paradas, quebrou barreiras geográficas, ajudou a impulsionar causas humanitárias e preparou o terreno para a trajetória solo de George Michael, um dos compositores mais influentes de sua geração.


