Lula e Lira discutem relação mirando reformas e primeiros testes na Câmara
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BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para discutir a relação do governo com os deputados mirando a agenda de reformas que o Poder Executivo quer encaminhar e aprovar no Congresso neste ano, segundo fontes com conhecimento do assunto disseram à Reuters.
Lira participou de um jantar com Lula na casa do deputado federal licenciado e atual ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta (PT-RS), em Brasília na quinta-feira.
O encontro de ambos ocorreu dias após o presidente da Câmara ter dito em um evento público que o governo ainda não tem uma base consistente nem 'para enfrentar matérias de maioria simples' e, portanto, também não tem apoio no momento para aprovar a reforma tributária, tida como vital --ao lado da chamada âncora fiscal em substituição ao teto de gastos-- para o terceiro mandato de Lula.
Lira colocava abertamente que o governo sozinho não tem o endosso de ao menos 308 dos 513 deputados federais, o mínimo para aprovar alterações constitucionais. Um apoio de Lira --reeleito para mais dois anos no comando da Câmara com votação recorde, de mais de 400 votos-- seria fundamental para o avanço dessas prioridades do Executivo na Casa, sem falar em mais tranquilidade para chancelar uma série de Medidas Provisórias à espera de votação.
Lula e Lira não deram declarações públicas após o jantar de quinta, mas um importante parlamentar petista com trânsito com o presidente da Câmara disse, reservadamente, que Lira está com boa vontade com o novo governo e não enxergou a fala dele como uma ameaça, mas um aviso à nova gestão.
Afirmou ainda que Lira tem estreitado as relações com o governo por meio do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Essa fonte acrescentou que Lira não quer ser pego de surpresa com ações do governo no Congresso e está disposto a atuar de forma combinada.
Uma outra fonte da Câmara informou que Lula teria convidado o presidente da Câmara a acompanhá-lo na visita oficial à China. Procurada, a assessoria de Lira não comentou o assunto.
O presidente da Câmara, que na eleição passada defendeu e apoiou publicamente à reeleição do então presidente Jair Bolsonaro, foi a primeira autoridade pública a reconhecer a vitória de Lula no segundo turno. Depois de um mandato de extremo poder com controle ampliado sobre orçamento por causa do uso aumentado do chamado orçamento secreto (emendas do relator), Lira agora calibra o poder de fogo com a nova administração e o novo desenho do mecanismo que destina verbas.
O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) disse à Reuters que o encontro entre Lula e Lira no jantar serviu para ajustar a relação e construir convergências necessárias para aprovar a agenda de reformas do governo na Câmara, notadamente a reforma tributária e a âncora fiscal.
Lopes não participou do encontro, mas tem boa relação com Lira, foi escolhido coordenador do grupo e trabalho da Câmara para a reforma tributária.
Lopes afirmou que acredita na aprovação das duas reformas. 'A proposta de reforma tributária é tão prioritária para o Lira como para o Lula', destacou ele.
A expectativa do parlamentar é que o texto da reforma seja apresentado em 16 de maio, o que permitiria se discutir a votação da iniciativa depois em plenário.
Por sua vez, o governo deve encaminhar ainda neste mês a proposta de nova âncora fiscal, antecipando assim em alguns meses a expectativa anterior de envio do texto até agosto deste ano.
(Reportagem de Ricardo Brito, Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello. Edição de Flávia Marreiro)
Escrito por Reuters
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