Advogada pede absolvição de artista russa por protesto de etiquetas contra guerra

Por Andrew Osborn

(Reuters) - Advogados de uma artista russa que pode passar até oito anos na prisão por substituir etiquetas de supermercado por cobranças pelo fim da guerra na Ucrânia disseram a um tribunal nesta segunda-feira que sua cliente não sobreviveria à prisão e precisa ser libertada.

Críticos afirmam que o caso de Alexandra Skochilenko, 33 anos, faz parte de uma repressão contra qualquer um que se expresse contra a “operação militar especial” de Moscou, o que gerou quase 20.000 detenções e mais de 800 casos criminais.

Após enviar tropas à Ucrânia em 24 de fevereiro do ano passado, a Rússia apertou suas leis contra dissidência para tentar silenciar críticas que Moscou considera que causam divisão, no momento em que o país está no meio do que o presidente Vladimir Putin enquadrou como uma luta existencial contra o Ocidente.

Skochilenko, artista e música conhecida como Sasha pelos amigos, admitiu ter substituído as etiquetas no supermercado em São Petersburgo, em 31 de março de 2022, por pequenos pedaços de papel pedindo o fim da guerra e criticando as autoridades.

Mas Skochilenko, que já passou mais de um ano e meio na prisão em São Petersburgo, nega a acusação formal de ter deliberadamente disseminado informações falsas sobre o exército russo.

Ela pode ser sentenciada a oito anos de prisão em uma colônia penal após um promotor pedir essa punição a um juiz. O promotor também pediu que ela fosse proibida de usar a internet por três anos por cometer o que descreveu como um crime sério de “ódio político” contra a Rússia.

Na audiência em São Petersburgo nesta segunda-feira, dois dos seus advogados apelaram à juíza pela inocência de Skochilenko que, segundo eles, apenas agiu de acordo com sua consciência e não cometeu um crime.

“Você nunca deve punir pessoas por pensarem ou sentirem coisas diferentes. Você nunca deve punir pessoas por críticas objetivas às autoridades e suas decisões”, disse a advogada Yana Nepovinnova.

“Pode haver apenas um veredito -- de inocente. Os tempos mudam, mas nossas ações permanecem para sempre na história e em nossa consciência. Terminarei meu discurso com uma frase da minha confidente Alexandra Skochilenko: ‘Este é um teste de humanidade. Vocês têm a chance de serem aprovados’”.

“PRISIONEIRA DE CONSCIÊNCIA”

A Anistia Internacional declarou Skochilenko uma “prisioneira de consciência” -- alguém que está detida unicamente por ser quem é ou pelo que acredita.

Uma das etiquetas produzidas por Skochilenko, que estão exibidas em um site mantido por seus apoiadores, acusa o exército russo de bombardear um teatro na cidade portuária de Mariupol, onde 400 pessoas estavam escondidas -- uma alegação que Moscou diz ser falsa.

Outra afirma que a Rússia estava enviando recrutas para lutar na Ucrânia, o que a Rússia também negou. Uma terceira cita supostos números de vítimas da Rússia e acusa a TV estatal de não falar sobre elas. Uma quarta acusa o presidente Putin de mentir e fala de “mortes inúteis”.

(Reportagem da Reuters)