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Alegações de empresa chinesa sobre remédio para a Covid-19 atrai ceticismo nos EUA e no Brasil

Placeholder - loading - Bandeira da China refletida em gota que cai de seringa em foto de ilustração 09/11/2020 REUTERS/Dado Ruvic
Bandeira da China refletida em gota que cai de seringa em foto de ilustração 09/11/2020 REUTERS/Dado Ruvic

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Por Gabriel Stargardter

(Reuters) - A empresa de biotecnologia Kintor Pharmaceutical Limited viu o preço das suas ações subir mais de 20% no dia seguinte ao anúncio, em 25 de abril, de que havia completado o 'primeiro registro e aplicação de dose em paciente' em um teste clínico em fase final nos Estados Unidos do seu tratamento experimental contra a Covid-19. Foi o mais recente anúncio da empresa sobre o progresso do remédio, a Proxalutamida. O preço das ações da empresa listada na bolsa de valores de Hong Kong quase quadruplicou desde 1º de março, com alguns analistas escrevendo sobre os grandes potenciais de vendas de um tratamento para a Covid-19. A Kintor viu a sua capitalização de mercado pular de 6,6 bilhões de dólares de Hong Kong em 1º de março, para 23,4 bilhões de dólares de Hong Kong, o equivalente a 3 bilhões de dólares.

Mas a empresa ainda não havia aplicado doses do remédio em nenhum paciente até a semana passada, segundo o médico que a Kintor identificou como o principal pesquisador do teste clínico no documento publicado em sites de testes dos EUA. O médico --o gastroenterologista Zeid Kayali, da Califórnia-- também disse à Reuters que ele não 'estava no comando' dos testes, contradizendo o que a empresa havia dito nos documentos que os descreviam. Kayali se recusou a tecer mais comentários, direcionando as perguntas à Kintor. Informada dos comentários de Kayali, a diretora-financeira da Kintor, Lucy Lu, disse que Kayali era apenas um dos pesquisadores do teste. Ela se recusou a fazer mais comentários sobre o anúncio da empresa de que havia dado doses do remédio a pacientes. Lu também se recusou a identificar um chefe de pesquisa diferente ou a instituição que está supervisionando o teste, dizendo que esse tipo de informação é confidencial. As empresas não são obrigadas a divulgar essas informações, mas muitas farmacêuticas geralmente fornecem detalhes sobre quem está liderando seus testes clínicos e quais organizações de pesquisa ou institutos médicos são responsáveis por garantir a segurança dos pacientes e a validação do estudo científico. A falta de transparência da Kintor e as inconsistências nas declarações da empresa ligaram um sinal de alerta sobre as suas alegações, disse Stephen Ostroff, ex-cientista-chefe e duas vezes comissário interino da Foods and Drugs Administration (FDA), agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos.

Outro sinal de alerta: a Kintor várias vezes promoveu um estudo brasileiro sobre a Proxalutamida que alega uma taxa de eficácia tão alta que Ostroff e outros especialistas da indústria farmacêutica dizem que é difícil de acreditar. O estudo brasileiro diz que a Proxalutamida mostrou uma redução de 92% no risco de mortalidade entre pacientes hospitalizados com Covid-19, o que seria 'extraordinariamente impressionante' se for verdade, disse Ostroff. Alexandre Cavalcanti, diretor do Instituto de Pesquisa HCor, de São Paulo, classificou a apresentação das descobertas do estudo como 'amadora' e disse que essa suposta eficácia é alta demais para ser crível, diante das dificuldades ao redor do mundo para encontrar curas eficazes para a Covid-19.

AÇÕES SOBEM A Proxalutamida não tem aprovação regulatória e ainda não está disponível para venda. O estudo brasileiro sobre o remédio não foi revisado por outros cientistas, ou sequer publicado, mas os autores fizeram uma curta apresentação ao público dos resultados durante uma entrevista coletiva em março. A Kintor promoveu as conclusões do estudo. 'Com base nos resultados positivos... esperamos que a Proxalutamida se torne uma ferramenta importante na luta contra a Covid-19 ao redor do mundo', disse o CEO da Kintor, Tong Youzhi, em um comunicado anunciando os resultados brasileiros em 11 de março. Naquele mesmo dia, o preço das ações da Kintor subiu quase 9%. Lu, a diretora-financeira da Kintor, não respondeu a perguntas detalhadas feitas pela Reuters sobre as alegações da empresa em relação aos testes nos EUA e às críticas ao estudo brasileiro. Um dos autores do estudo, o professor de dermatologia da Universidade de Brown, Carlos Wambier, rechaçou as críticas e classificou os resultados como 'muito animadores'. Em uma nota a clientes em 2 de abril, analistas da corretora de Pequim, China Renaissance, citaram os relatórios de progresso da Kintor como evidências de uma 'aplicação potencialmente mais ampla da Proxalutamida'. Fizeram uma recomendação de 'compra' da ação da companhia, com o preço-alvo de 50,75 dólares de Hong Kong. A ação da Kintor está atualmente em 66 dólares de Kong Hong, tendo atingido o recorde de 82 dólares de Hong Kong no final de abril. 'O preço da ação é majoritariamente impulsionado pelo progresso clínico relacionado à Covid-19', disse Sam Hu, analista da CBM International, em Hong Kong. Um dos autores do estudo é um consultor contratado por uma autoridade do Ministério da Saúde que é um aliado do presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro, cético em relação às vacinas e crítico do uso de máscaras e de lockdowns, tem promovido remédios sem eficácia comprovada contra a Covid-19, como a hidroxicloroquina. O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Hélio Angotti, reuniu uma equipe de consultores para encontrar evidências que apoiassem as alegações médicas sem fundamentos do presidente. A Reuters publicou uma matéria sobre este assunto nesta sexta. Angotti se recusou a comentar. O gabinete de Bolsonaro não respondeu às perguntas enviadas por escrito pela Reuters. O consultor que foi co-autor do estudo da Proxalutamida, Ricardo Zimerman, não respondeu ao pedido por comentários.

PESQUISA E POLÍTICA Lu disse que a Kintor está em discussões com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para conduzir seu próprio teste clínico. A Anvisa afirmou em um comunicado que a Kintor ainda não havia entrado com um pedido formal para conduzir o teste, mas não comentou sobre nenhuma conversa entre a reguladora e a empresa. Dois funcionários da Anvisa, falando sob condição de anonimato, questionaram os resultados do estudo brasileiro sobre a Proxalutamida, dizendo que a apresentação dos resultados pelos autores não continha detalhes ou evidências.

Um dos funcionários da Anvisa caracterizou a apresentação como mais marketing do que ciência. O Ministério da Saúde do Brasil, em uma nota técnica em março, concluiu que 'a evidência para o medicamento ainda é incipiente', com informações limitadas sobre segurança e resultados. A Kintor originalmente concebeu a Proxalutamida como um tratamento para o câncer, antes de direcioná-la para a Covid-19. Lu afirmou à Reuters que a FDA havia permitido que a empresa progredisse à Fase 3 dos testes, pulando as Fases 1 e 2, após avaliar os estudos oncológicos anteriores e a pesquisa brasileira. Ela se recusou a compartilhar documentos delineando essa permissão. A FDA se recusou a comentar sobre a Kintor ou seu remédio contra a Covid-19. Ostroff disse que era preocupante e atípico que a Kintor tenha usado testes anteriores de oncologia e um estudo brasileiro questionável como atalhos para a Fase 3 dos testes relacionados à Covid-19. As respostas da empresa a perguntas básicas sobre o teste clínico, acrescentou, foram evasivas. 'A maioria das farmacêuticas, especialmente quando o assunto é Covid-19, será muito aberta sobre quais tipos de testes está conduzindo', disse.

(Reportagem adicional de Donny Kwok)

Escrito por Reuters

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