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Brigitte Bardot, ícone do cinema francês, morre aos 91 anos

Brigitte Bardot, ícone do cinema francês, morre aos 91 anos

Reuters

28/12/2025

Placeholder - loading - Brigitte Bardot exibe um exemplar de 1969 da revista francesa 'Paris Match' 5 de dezembro de 2005 Foto de arquivo
Brigitte Bardot exibe um exemplar de 1969 da revista francesa 'Paris Match' 5 de dezembro de 2005 Foto de arquivo

Atualizada em  28/12/2025

Por Ingrid Melander

PARIS, 28 Dez (Reuters) - A atriz Brigitte Bardot alcançou fama internacional dançando o mambo descalça em 'E Deus Criou ⁠a Mulher', com seus cabelos desgrenhados e sua energia feroz irradiando um magnetismo sexual raramente visto no cinema convencional.

Nascia um ícone global.

Com apenas 21 anos, ela escandalizou os censores e cativou o público. Seu desempenho de espírito livre no filme de 1956, filmado por seu marido Roger Vadim, marcou uma ruptura decisiva com as heroínas recatadas da era anterior.

Brigitte Bardot, muitas vezes chamada na França simplesmente de 'B.B.' e cujos últimos anos foram marcados por campanhas pelos direitos dos animais e simpatias políticas pela extrema-direita, morreu aos 91 anos, informou sua fundação neste domingo. A causa não foi divulgada.

SENSO DE LIBERDADE

Nascida em Paris em 28 de setembro de 1934, Bardot cresceu em uma família de classe média alta. Ela se descreveu como uma criança tímida e autoconsciente que 'usava óculos e tinha cabelos ralos'.

Aos 15 anos, no entanto, apareceu na capa da revista Elle, lançando uma carreira de modelo que logo a levou ao cinema.

A personagem de Bardot em 'E Deus Criou a Mulher' era a personificação da feminilidade liberada. A controvérsia apenas alimentou seu apelo. Bardot tornou-se um símbolo da França dos anos 1950 e 60.

Seu fascínio foi muito além do cinema francês. Aos 15 anos, Bob Dylan teria escrito sua primeira música sobre ela, a nunca lançada 'Song for Brigitte', enquanto Andy Warhol pintou seu retrato.

A capacidade de Bardot de subverter os papéis tradicionais de gênero fez ​dela não apenas um símbolo sexual, mas um ícone da cultura pop e um marco para a mudança de atitudes sociais.

Em ⁠1959, Simone de Beauvoir ⁠escreveu um artigo para a revista Esquire no qual elogiava o evidente senso de liberdade de Bardot.

'B.B. não tenta escandalizar', escreveu a filósofa feminista. 'Ela segue suas vontades. Ela come quando está com fome e faz amor com a mesma simplicidade sem cerimônia.'

'Os lapsos morais podem ser corrigidos, mas como B.B. poderia ser curada dessa virtude deslumbrante -- a genuinidade? É sua própria substância.'

E conclui: 'Espero que ela amadureça, mas não que mude.'

'OPTEI POR ME RETIRAR'

Apesar da influência, Bardot considerava que a vida de celebridade a isolava. Ela dizia com frequência que era prisioneira de sua própria fama, incapaz de aproveitar os prazeres simples da vida.

'Ninguém pode imaginar como foi horrível, uma provação', refletiu décadas depois. 'Eu não podia continuar vivendo assim.'

Sua vida pessoal foi marcada por quatro casamentos, casos amplamente divulgados e lutas bem documentadas ‌contra a depressão.

Em seu 26º aniversário, ela foi encontrada inconsciente em uma casa na Riviera Francesa depois de tentar tirar a própria vida. Rumores de outra tentativa de suicídio surgiram anos depois, quando ela ​misteriosamente cancelou uma festa de aniversário de 49 anos e apareceu no hospital.

Além de atuar, Bardot teve uma carreira musical ‌de sucesso. Suas colaborações com o cantor e compositor ​Serge Gainsbourg, ​incluindo a erótica 'Je t'aime ... moi non plus' ('Eu te amo ... Eu também não'), atraíram tanto aclamação quanto controvérsia.

No final da década de 1960, ela foi modelo para um busto de Marianne, a personificação da República Francesa.

Mas ela encontrou pouca satisfação nos elogios que recebeu.

'Fui muito feliz, muito rica, muito bonita, muito adorada, muito famosa e muito infeliz', disse ela à revista Paris Match na época de seu aniversário de 50 anos. 'Me decepcionei com muita frequência. Tive decepções realmente terríveis em ​minha vida. É por isso que optei por me retirar, por viver sozinha.'

ÚNICA BATALHA

Bardot fez o último de seus 42 filmes em 1973. Desiludida com a indústria, ela declarou que o mundo do cinema era 'podre' e deixou a vida pública.

'Terei dado 20 anos de minha vida ao cinema, isso é o suficiente', disse ela em uma entrevista de TV na época.

Ela se estabeleceu no badalado resort francês de Saint-Tropez, onde encontrou consolo entre os animais e a paisagem mediterrânea.

Lá, ela iniciou uma defesa apaixonada do bem-estar animal. 'Essa é a minha única batalha, a única direção que quero dar à minha vida', disse Bardot em 2013.

Sua devoção aos animais tornou-se lendária. Em 1986, ela criou a Fundação Brigitte Bardot, focada no bem-estar e proteção dos animais, leiloando lembranças pessoais no ano seguinte para arrecadar fundos.

Bardot apoiou ativistas de renome, como o defensor da proibição da caça às baleias Paul Watson, e fez uma campanha vigorosa contra a crueldade animal, às vezes ameaçando deixar a França por causa de disputas sobre o bem-estar dos animais.

Em 2013, quando o ator Gérard Depardieu aceitou a cidadania russa após uma briga pública com autoridades francesas, Bardot ameaçou fazer o mesmo se a França fizesse a eutanásia de dois elefantes de circo doentes.

Durante a maior parte de sua vida, Bardot viveu sozinha atrás de muros altos em Saint-Tropez, cercada de gatos, cães e cavalos.

Essa paixão, como ela sempre sugeria, era um antídoto para seus relacionamentos mal-sucedidos. 'Eu dei minha beleza e minha juventude aos homens', disse ela certa vez. 'Vou dar minha sabedoria e experiência aos animais.'

'FEMINISMO NÃO É MINHA PRAIA'

À medida que seu ativismo se intensificava, também aumentava a reação às suas declarações políticas.

Comentários públicos de Bardot sobre imigração, o Islã e a homossexualidade levaram a uma série de condenações por incitar o ódio.

Entre 1997 e 2008, ela foi ⁠multada seis vezes pelos tribunais franceses por comentários, especialmente os direcionados à comunidade muçulmana da França.

Em um caso, um tribunal de Paris a multou em 15.000 euros (US$17.000) por descrever os muçulmanos como 'essa população que está nos destruindo, destruindo nosso ‌país ao impor seus atos'.

Em 1992, ela se casou com Bernard d'Ormale, ex-conselheiro da Frente ⁠Nacional de extrema-direita, e mais tarde apoiou publicamente sucessivos líderes do partido, Jean-Marie Le Pen e sua filha Marine Le Pen. Bardot chamou esta última de 'a Joana d'Arc do século 21'.

Ainda assim, apesar de todas as opiniões divisivas, a influência de Bardot perdurou, seja na moda -- com a mídia observando retornos frequentes de seu penteado característico -- ou por meio de documentários e livros de arte que celebram seu impacto singular no cinema ‍francês.

Questionada pelo canal francês BFM TV em maio de 2025 se ela se considerava um símbolo da revolução sexual, ela disse: 'Não, porque antes de mim, muitas coisas selvagens já haviam acontecido -- elas não esperaram por mim. O feminismo não é minha praia; eu gosto de homens.'

Na mesma entrevista, perguntaram-lhe ​com ‌que frequência ela refletia sobre sua carreira no cinema.

'Eu não penso sobre isso', disse, 'mas não a rejeito, porque é graças a ela que sou conhecida em todo o mundo como alguém que defende os animais.'

(Reportagem adicional de America Hernandez)

Reuters

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