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De picaretas a IA, Estado anfitrião da COP30, Pará guarda passado e futuro da mineração na Amazônia

De picaretas a IA, Estado anfitrião da COP30, Pará guarda passado e futuro da mineração na Amazônia

Reuters

04/11/2025

Placeholder - loading - Mina de minério de ferro da Vale em Carajás, no Pará 08/10/2025 REUTERS/Jorge Silva
Mina de minério de ferro da Vale em Carajás, no Pará 08/10/2025 REUTERS/Jorge Silva

Por Jorge Silva

SERRA PELADA, Pará (Reuters) - Com uma voz mais jovem do que seus 72 anos de idade sugerem, Lucindo Lima canta sobre as riquezas incalculáveis que ele nunca fez na mina de Serra Pelada, no Brasil, um local que ficou famoso por uma corrida do ouro nos anos 1980 imortalizada pelo falecido fotógrafo Sebastião Salgado.

'É debaixo dessas montanhas que estão escondidas todas as nossas riquezas', canta Lima do lado de fora de sua casa de madeira em Serra Pelada, um distrito montanhoso na cidade de Curionópolis, no Pará.

Preparado para sediar as negociações climáticas da cúpula das Nações Unidas COP30 em Belém, o Pará tem visto uma divisão cada vez maior entre a mineração feita por grandes empresas, como a gigante brasileira da mineração Vale, e os garimpeiros, que procuram ouro, muitas vezes ilegalmente, na floresta amazônica.

Alguns garimpeiros ainda têm esperança de encontrar fortuna em Serra Pelada, onde uma corrida do ouro eclodiu em 1979, atraindo milhares de pessoas que cavaram à mão uma cavernosa mina a céu aberto durante a década de 1980.

Fotografias impressionantes em preto e branco tiradas na época por Salgado, que faleceu em maio, capturaram homens se aglomerando em torno da mina como um cupinzeiro aberto e chocaram o mundo com o que pareciam cenas medievais na era moderna.

Como o teor do minério diminuiu e a cava inundou, as autoridades encerraram as operações em 1992, deixando uma cratera cheia de água que se tornou um emblema do excesso nas cidades fronteiriças da Amazônia brasileira.

A canção de Lima chama a mina de 'a rainha dos metais', mas a duas horas de carro da cratera inundada há uma nova rainha: Carajás, a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo, administrada pela Vale.

A receita anual da Vale em Carajás é cerca de nove vezes maior do que toda a riqueza extraída de Serra Pelada, mesmo ajustando o valor do ouro aos preços atuais de mercado, que estão próximos de recordes.

A empresa implantou caminhões sem motorista e inteligência artificial em Carajás, onde planeja investir R$70 bilhões (US$13 bilhões) entre 2025 e 2030.

'Os caminhões autônomos podem gerar até 15% a mais de rendimento operacional, ou seja, 15% a mais de horas trabalhadas no ativo', disse Gildiney Sales, diretor do corredor norte da Vale.

No Pará, a mineração ilegal de ouro tem devastado rios e afluentes, alimentando o desmatamento e o envenenamento por mercúrio. Em contrapartida, a Vale prometeu preservar 800.000 hectares de floresta ao redor de Carajás -- cerca de cinco vezes a área da cidade mais populosa do Brasil, São Paulo.

A Vale transporta minério de alta qualidade para o porto por ferrovia, enquanto os garimpeiros viajam por estradas informais e redes fluviais, muitas vezes enfrentando graves perigos. Em Serra Pelada, muitos ainda vão para o subsolo em busca de fragmentos do metal precioso.

'Nós estamos aproximadamente a 25 ou 26 metros de fundura', disse o garimpeiro Cícero Pereira Ribeiro, segurando uma picareta dentro de um desses poços subterrâneos mal iluminados que fizeram fortunas na corrida dos anos 1980.

Ribeiro e outros ainda têm esperança de que Serra Pelada produza mais tesouros, realizando as ambições que alimentam há décadas.

'No caso o sonho, a gente não acordou ainda', disse Antonio Luis, mineiro em Serra Pelada desde 1981.

Reuters

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