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ESPECIAL-Como criminosos dos Bálcãs se tornaram os principais fornecedores de cocaína da Europa

Placeholder - loading - Contêineres no Porto de Santos 01/05/2024 REUTERS/Amanda Perobelli
Contêineres no Porto de Santos 01/05/2024 REUTERS/Amanda Perobelli

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Por Gabriel Stargardter

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Em 2018, o traficante de cocaína condenado Slobodan Kostovski fugiu de uma prisão no Brasil e voltou para a Europa com um passaporte falso.

O sérvio rapidamente voltou aos velhos hábitos, segundo a polícia. Em agosto do ano passado, Kostovski foi preso em Belgrado, acusado de transportar 2,7 toneladas de cocaína do Brasil a bordo de uma embarcação de 22 metros apreendida perto das Ilhas Canárias, na Espanha.

Apelidado de 'o General' por seus comparsas, ele traficava 'grandes quantidades' de pó para 'a Europa por um longo período de tempo', escreveu a polícia sérvia em um relatório de inteligência de 2022 obtido com exclusividade pela Reuters.

Kostovski, hoje com 70 anos, viveu no Brasil durante anos. Essa posição lhe permitiu estabelecer fortes vínculos com produtores de cocaína na Colômbia, Bolívia e Peru, e organizar o transporte marítimo da droga para a Europa, de acordo com o documento.

Kostovski, que ainda não se pronunciou, está agora em uma prisão de Belgrado aguardando julgamento, de acordo com uma porta-voz do gabinete da promotoria. O advogado de Kostovski, Stefan Jokic, não quis comentar.

O retorno de Kostovski à Europa em 2018 coincidiu com um momento favorável para o comércio de cocaína no continente. Com o aumento da produção sul-americana na última década, os traficantes dos Bálcãs estavam perfeitamente posicionados para alimentar a demanda europeia, segundo as autoridades.

Eles agora dominam a complexa logística de transportar a cocaína dos laboratórios de produção andinos para os vendedores de rua em Paris, Londres e Berlim, ajudando a transformar a Europa no maior mercado de cocaína do mundo, segundo apuração da Reuters.

Eles conseguiram isso por meio de contatos criminosos nas comunidades da diáspora dos Bálcãs em ambos os lados do Atlântico e por meio da infiltração no sistema de transporte marítimo que movimenta cerca de 90% do comércio mundial de mercadorias, de acordo com autoridades antidrogas de Estados Unidos, Europa e América Latina.

'Quando falamos de remessas em grande escala para abastecer o continente europeu, o único grupo hegemônico é o dos Bálcãs', disse Ivo Silva, um delegado da Polícia Federal que investigou Kostovski no final dos anos 2000 como parte da Operação Niva, uma das primeiras grandes investigações sobre traficantes de cocaína dos Bálcãs que operam a partir do Brasil.

As quadrilhas de tráfico dos Bálcãs têm evitado a estrutura territorial e hierárquica dos cartéis do México e da Colômbia, trabalhando, em vez disso, em pequenas células altamente móveis, secretas e capazes de transportar cargas surpreendentemente grandes de cocaína, segundo autoridades antidrogas.

Embora as gangues não sejam monolíticas e tenham se envolvido em suas próprias rixas sangrentas e internas, coletivamente esses grupos foram apelidados de Cartel dos Bálcãs pelas autoridades policiais. Suas redes têm se mostrado difíceis de penetrar e ainda mais difíceis de derrubar.

'Não há uma estrutura hierárquica rígida no Cartel dos Bálcãs', disse à Reuters um ex-funcionário da Agência Antidrogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês) que investigou essas gangues. 'Não há um poderoso chefão.'

As impressões digitais dos Bálcãs agora podem ser encontradas na maior parte da cocaína que entra na Europa a cada ano, disseram autoridades antidrogas dos EUA e da Europa. O Centro de Análise e Operações Marítimas, uma agência europeia que coordena as apreensões de narcóticos nas águas do Atlântico, disse que um recorde de 9,11 toneladas de cocaína ligada a criminosos dos Bálcãs foi apreendido no mar no ano passado, um aumento de 300% desde 2015.

Dados de apreensões recentes sugerem que o aumento da cocaína na Europa -- e os traficantes dos Bálcãs que a transportam -- não está diminuindo. No porto belga de Antuérpia, a principal porta de entrada da Europa para a cocaína sul-americana, as autoridades apreenderam um recorde de 116 toneladas no ano passado. A alfândega holandesa apreendeu quase 60 toneladas em 2023, um aumento de quase um quinto em relação ao total de 2022.

A região dos Bálcãs é uma península no sudeste da Europa que se estende do Mar Adriático ao Mar Negro. Embora as definições geográficas sejam diferentes, os países amplamente considerados como Estados dos Bálcãs incluem Albânia, Bósnia e Herzegovina, Bulgária, Croácia, Kosovo, Montenegro, Macedônia do Norte, Sérvia, Eslovênia e Romênia. As autoridades dizem que a longa história de navegação marítima, contrabando e migração da região tem sido fundamental para a ascensão dos traficantes.

Esta reportagem baseia-se em milhares de páginas de registros policiais, relatórios de inteligência e documentos judiciais da Europa, dos EUA e da América Latina, bem como em entrevistas com mais de duas dúzias de autoridades de ambos os lados do Atlântico. O material retrata os traficantes dos Bálcãs como um grupo empreendedor de especialistas em logística, inseridos em todos os elos da cadeia de suprimento de cocaína, uma posição que os tornou indispensáveis para outros grupos que buscam transportar cargas para fora da América do Sul.

Os criminosos dos Bálcãs 'estão mais do que felizes em trabalhar com israelenses, holandeses, suecos, dominicanos, tríades chinesas', disse o ex-funcionário da DEA. 'Eles trabalham, na verdade, com qualquer um.' No entanto, eles têm se mantido longe dos EUA, disse ele, dissuadidos pelo domínio dos cartéis mexicanos e pelo policiamento norte-americano mais rígido.

A ascensão das gangues dos Bálcãs aos escalões superiores do comércio global de cocaína faz com que a polícia tenha dificuldade para acompanhar o ritmo. As apreensões de cocaína na Europa Ocidental e Central atingiram um recorde de 315 toneladas métricas em 2021, de acordo com os dados mais recentes do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês), superando as 250 toneladas apreendidas nos EUA. A pureza da cocaína da Europa aumentou constantemente na última década, disse o UNODC, em um sinal de sua abundância.

Na Europa, as mortes relacionadas às drogas agora rivalizam com o terrorismo como a principal ameaça à segurança da União Europeia, de acordo com a comissária de Assuntos Internos do bloco, Ylva Johansson.

No ano passado, o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, alistou o Exército de seu país para ajudar a reprimir a violência de gangues ligadas ao narcotráfico, que incluiu ataques a bomba e assassinatos de crianças. Em março, as autoridades gregas desmantelaram uma gangue dos Bálcãs, supostamente responsável por mais de 60 assassinatos em toda a Europa na última década. No mesmo mês, as ruas de Bruxelas foram sacudidas por vários tiroteios que supostamente envolviam a máfia albanesa.

Na América Latina, a presença de criminosos dos Bálcãs está mais forte do que nunca, de acordo com um investigador da força-tarefa dos Bálcãs da agência policial europeia Europol. O investigador disse que há mais de 50 grandes células de tráfico dos Bálcãs Ocidentais atuando na América Latina, com centenas de membros espalhados pela região.

O delegado da Polícia Federal brasileira Alexandre Custódio, que no ano passado liderou uma grande operação contra os contrabandistas dos Bálcãs, disse que ficou 'impressionado' com o domínio deles no comércio transatlântico de cocaína.

'No momento, na América Latina, eles são a principal máfia do tráfico marítimo', disse.

INCORPORAÇÃO NA AMÉRICA LATINA

As autoridades dizem que a predominância dos criminosos dos Bálcãs no comércio global de cocaína é fruto de seu investimento de duas décadas em pessoas e conexões em ambos os lados do Atlântico.

Após a dissolução da Iugoslávia em 1991 e a década de conflitos étnicos que se seguiu, os criminosos dos Bálcãs criaram operações de contrabando prósperas a partir do caos. Quando a paz se instalou na região no início dos anos 2000, alguns deles foram para a América Latina em busca de novas oportunidades.

Lá, eles construíram alianças com poderosos grupos criminosos, incluindo as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e a organização criminosa brasileira Primeiro Comando da Capital (PCC), para ajudá-los a obter e transportar cocaína barata, segundo autoridades antidrogas.

Seu domínio gradual da rota transatlântica de contrabando foi auxiliado pelo conhecimento marítimo adquirido ao longo de séculos de navegação nos Bálcãs. Milhares de homens da região trabalham em navios de carga, alguns dos quais se mostraram suscetíveis à corrupção ou coerção, de acordo com as autoridades antidrogas, relatórios policiais e documentos judiciais.

Os traficantes dos Bálcãs subornam ou ameaçam os marinheiros dos Bálcãs para que adulterem os contêineres de transporte, escondam cocaína em suas cargas ou a transportem para suas embarcações em barcos menores enquanto estiverem no mar.

Em terra, os criminosos da comunidade da diáspora balcânica da Europa forneceram distribuição e infraestrutura de varejo para as vendas nas ruas, dando ao Cartel dos Bálcãs uma presença ao longo de toda a cadeia de suprimentos, disseram as autoridades.

Kostovski, o sérvio preso, fez parte da primeira onda desses criminosos a apostar seu futuro na América Latina, segundo a PF brasileira.

Ele entrou no radar em 2006, após uma denúncia de policiais alemães, de acordo com o relatório da Operação Niva, de 3.025 páginas, preparado pela PF. Até então, Kostovski possuía 'uma longa ficha criminal' que incluía roubo à mão armada, homicídio culposo e fugas de prisões na Suécia e na Holanda, de acordo com uma decisão de 1989 do Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

Depois de desembarcar na América Latina, Kostovski contrabandeou cigarros do Paraguai antes de expandir 'para outras atividades ilícitas, como tráfico de drogas e armas e lavagem de dinheiro', de acordo com um relatório de inteligência dos EUA não divulgado anteriormente e obtido pela Reuters.

Em 2006, ele havia se estabelecido em Vila Velha, ao lado do porto de Vitória, no Espírito Santo. Lá ele morava em um apartamento à beira-mar com sua esposa brasileira e seu filho, de acordo com o relatório da Operação Niva.

A decisão de Kostovski de se estabelecer no Brasil não foi por acaso, disseram as autoridades policiais, e levou em conta o extenso litoral brasileiro e a proximidade com os países produtores de cocaína.

'Houve um esforço estratégico concentrado desde o início para enviar representantes de vários grupos do Cartel dos Bálcãs para a América do Sul a fim de se estabelecerem, criarem raízes e se casarem com moradoras locais', disse o ex-funcionário da DEA. 'Por fim, muitos deles se tornaram contrabandistas promíscuos' de cocaína.

Kostovski viajava com frequência, usando passaportes com nomes falsos que dificultavam o rastreamento de seus movimentos, de acordo com documentos de inteligência dos EUA e do Brasil.

O ex-agente da DEA disse que a polícia de todo o mundo demorou a reconhecer o tamanho da atuação dos Bálcãs, em parte porque esses traficantes são excelentes em saltar entre jurisdições com documentos falsos.

DOMÍNIO MARÍTIMO

Uma apreensão épica deixou claro que eles eram uma força a ser reconhecida.

Em junho de 2019, as autoridades dos EUA apreenderam cerca de 18 toneladas de cocaína -- avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares -- escondidas a bordo de um navio de carga chamado MSC Gayane. O navio, com destino a Roterdã, havia atracado na Filadélfia após uma viagem à América Latina.

A apreensão de um dos maiores carregamentos de cocaína da história dos EUA revelou o quanto o Cartel dos Bálcãs havia se infiltrado no setor de transporte marítimo e, especificamente, na Mediterranean Shipping Company, proprietária do navio. Conhecida como MSC, a empresa sediada em Genebra é a maior empresa de transporte marítimo do mundo. Ela também é uma grande empregadora de marinheiros dos Bálcãs e opera um centro de treinamento de tripulação em Montenegro.

Oito membros da tripulação do MSC Gayane -- incluindo cinco montenegrinos e um sérvio -- foram condenados por contrabando de cocaína em uma audaciosa operação noturna que envolveu o transporte de drogas para a embarcação por meio de lanchas rápidas. Os advogados dos marinheiros condenados dos Bálcãs não responderam ou se recusaram a comentar.

Goran Gogic, um ex-pugilista peso-pesado montenegrino que os promotores alegam ter sido o principal operador logístico por trás do carregamento, está atualmente preso em Nova York aguardando julgamento. Seu advogado, Joseph Corozzo, disse que Gogic mantém sua inocência.

A MSC disse à Reuters que o contrabando de cocaína é 'um problema de todo o setor que exige uma resposta de todo o setor'. A empresa disse ter reforçado as medidas de segurança após o incidente de 2019 com dezenas de milhões em investimentos anuais, inclusive em tecnologia. Todos os seus contratados são minuciosamente examinados, acrescentou a MSC.

Documentos da PF brasileira não relatados anteriormente mostram que criminosos dos Bálcãs vinham usando navios da MSC na América do Sul por mais de uma década antes da grande apreensão nos EUA.

Em setembro de 2010, a PF apreendeu 29 quilos de cocaína escondidos em sacos de mantimentos carregados por dois marinheiros montenegrinos quando tentavam embarcar em seu navio de carga, o MSC Sandra, que havia atracado no Porto de Paranaguá, no Paraná.

Os marinheiros, Dragan Jovanovic e Vladimir Bulajic, foram condenados a 9 anos e meio de prisão em São Paulo. O mesmo aconteceu com Boris Perkovic, o montenegrino radicado no Brasil que, segundo os promotores, forneceu-lhes as drogas.

Perkovic -- que, segundo a polícia, também trabalhou com a equipe de Kostovski em Vila Velha -- foi solto em 2018 e morreu dois anos depois, de acordo com registros de tribunais federais e estaduais do Brasil. A Reuters não conseguiu entrar em contato com Jovanovic e Bulajic, que agora estão livres.

A MSC se recusou a comentar o caso.

Os navios da empresa também estavam no centro do esquema de tráfico de Kostovski, de acordo com o relatório da Operação Niva.

De sua base no Espírito Santo, Kostovski e sua tripulação elaboraram um plano para pegar carona em uma das principais exportações da região. O Estado é a capital do setor de rochas ornamentais do Brasil, que envia cargas de mármore e placas de granito para todo o mundo. Kostovski e sua equipe planejavam escavar os blocos, esconder cocaína nas cavidades e depois enviá-los para o Leste Europeu, segundo o relatório da Operação Niva.

Em julho de 2010, segundo o relatório, o braço direito de Kostovski, um macedônio chamado Branislav Panevski, alugou um armazém discreto perto do porto de Vitória para realizar o trabalho. Quando a data para a exportação das pedras se aproximava, Panevski disse a um fornecedor brasileiro que apenas uma empresa de transporte marítimo seria suficiente. 'Só precisamos da MSC', disse ele, de acordo com a transcrição policial da ligação grampeada.

A MSC se recusou a comentar a transcrição da polícia.

Por fim, o esquema da quadrilha fracassou. No início de novembro de 2010, a PF invadiu o depósito de Panevski, onde encontrou quase 159 quilos de cocaína escondidos em uma das pedras. Panevski e Kostovski foram presos e receberam sentenças de 20 anos por tráfico internacional de drogas. Sandra Kostovski, que ajudou a financiar a operação do marido contrabandeando dinheiro para o Brasil em voos vindos da Europa, recebeu uma sentença de 14 anos. Agora ela está livre. Ela se recusou a comentar.

Panevski foi preso em Mato Grosso do Sul. Em 2019, ele fugiu durante uma saída da prisão, indo com uma identidade falsa para a Bolívia, onde acabou sendo pego e retornou ao Brasil para cumprir sua pena. Desde então, ele foi libertado, de acordo com um policial federal que está investigando a rede brasileira de Kostovski. Não foi possível entrar em contato com Panevski para comentar o assunto.

Kostovski também fugiu durante uma saída de prisão em 2018, usando um passaporte falso para retornar à Europa, de acordo com o policial federal.

Naquela época, a polícia europeia começou a investigar dois serviços de comunicação criptografada -- EncroChat e Sky ECC -- que acreditavam ser amplamente usados por criminosos. Em poucos anos, as polícias francesa, holandesa e belga haviam acessado os canais.

Em dezenas de milhões de bate-papos, eles descobriram um ecossistema movimentado do submundo, onde os suspeitos falavam abertamente sobre contrabando de drogas, tráfico de armas e planos de assassinato. O EncroChat e o Sky ECC deixaram de funcionar. Mas as repercussões das interceptações continuam até hoje, com mais de 6.500 prisões desde 2020, de acordo com a Europol.

A legalidade das interceptações policiais foi contestada por criminosos condenados e seus advogados em tribunais de apelação em toda a Europa. Nos EUA, o indiciamento de Gogic, o suposto mentor do carregamento do MSC Gayane, baseia-se em parte nas conversas interceptadas do Sky ECC, de acordo com seu advogado, que disse que contestará sua admissibilidade.

O Departamento de Justiça dos EUA não quis comentar.

As autoridades europeias defenderam seus métodos como legais e afirmam que vários crimes foram evitados pelas interceptações. A Europol disse no ano passado que essas comunicações revelaram 'o importante papel das redes criminosas da região dos Bálcãs no comércio global de cocaína'.

No final de 2021, quando a polícia de Belgrado acessou os bate-papos, percebeu que Kostovski estava de volta ao jogo após sua fuga do Brasil, coordenando 'remessas de drogas por meio de plataformas criptografadas', segundo relatórios da polícia sérvia e espanhola obtidos pela Reuters.

Por mais de um ano, os policiais rastrearam Kostovski enquanto ele se reunia com associados em toda a Europa, supostamente organizando o que eles acreditavam ser uma grande carga. Em meados de 2023, a polícia identificou o navio que Kostovski supostamente planejava carregar com cocaína e navegar pelo oceano: o 'Oceania Dos'. Quando o navio deixou a cidade de Salvador, na Bahia, em julho passado, as autoridades de ambos os lados do Atlântico estavam monitorando todos os seus movimentos.

'O Cartel dos Bálcãs afunda', declarou a Europol após a apreensão da embarcação em 24 de agosto de 2023 e a prisão de Kostovski.

NOVA GERAÇÃO

Dois meses depois, no Brasil, as autoridades prenderam outro grande traficante do Cartel dos Bálcãs: Aleksandar Nesic.

Seu pai, Goran, chegou ao Brasil pela primeira vez em 2004 e, em poucos anos, segundo a polícia, o Nesic mais velho se tornou o líder de várias células dos Bálcãs interconectadas em todo o Brasil -- incluindo as de Kostovski e Perkovic -- enviando cocaína boliviana para a Europa. As autoridades disseram que ele também começou a ensinar o ofício a seu filho Aleksandar.

Goran Nesic, o alvo central da investigação da Operação Niva, foi condenado por tráfico de drogas em 2013 e recebeu uma sentença de 15 anos em São Paulo. Ele foi extraditado de volta para a Sérvia em 2018 para cumprir uma sentença pendente de oito anos, mas agora está livre. Por meio de seu advogado, Ortelio Viera Marrero, Goran Nesic se recusou a comentar.

Aleksandar assumiu as rédeas, segundo a PF, e começou a deixar sua própria marca nos negócios da família.

Ele cresceu no Guarujá, perto do Porto de Santos, um dos principais pontos de embarque de cocaína que sai da América do Sul, segundo as autoridades. Enquanto seu pai preferia subornar marinheiros dos Bálcãs para transportar seu produto para a Europa a bordo de navios cargueiros, segundo a polícia, o jovem Nesic passou a usar embarcações menores para evitar os procedimentos de controle mais rigorosos nos portos brasileiros e europeus.

Nesic supostamente comprou barcos de pesca baratos que ele equipou com tanques de combustível extras, encheu de cocaína e usou tripulações brasileiras ou dos Bálcãs para fazer a travessia do Atlântico.

Em 1º de abril de 2022, a Marinha dos EUA interceptou o Alcatraz I perto de Cabo Verde, apreendendo quase 5,5 toneladas de cocaína. Foi uma das maiores apreensões de cocaína do mundo naquele ano.

Alguns meses depois, em 16 de agosto de 2022, a Marinha do Brasil apreendeu o Dom Isaac 12º na costa do Ceará, encontrando 1,2 tonelada de cocaína a bordo.

'Aleksandar Nesic foi o principal financiador (ou comprador) das cargas de cocaína apreendidas nos navios Alcatraz 1 e Dom Isaac 12', escreveu a Polícia Federal em um relatório de 2023 sobre a operação, obtido com exclusividade pela Reuters.

Nesic foi preso em sua casa, no Guarujá, em 5 de outubro de 2023, e ficou na cadeia aguardando julgamento. Atualmente com 31 anos, ele se recusou a falar com um repórter da Reuters. Seu advogado, Marrero, que representa pai e filho, disse que Aleksandar é inocente.

Apesar de algumas prisões de grandes traficantes dos Bálcãs, eles continuam inundando a Europa com cocaína devido a suas táticas em constante evolução, disseram as autoridades.

Custódio, o delegado brasileiro que liderou a investigação de Aleksandar Nesic, disse que as gangues dos Bálcãs costumavam criar empresas fictícias para facilitar a movimentação de suas drogas, mas agora estão adquirindo exportadores legítimos.

Uma autoridade antidrogas dos EUA que trabalhou com Custódio disse que os criminosos dos Bálcãs 'são a maior locomotiva que impulsiona' o crescente comércio de cocaína na Europa. 'Eles refinaram sua metodologia -- e está funcionando', disse ele.

(Reportagem adicional de Aleksandar Vasovic em Belgrado e David Latona em Madri)

Escrito por Reuters

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