Hamas reafirma discretamente controle em Gaza enquanto negociações pós-guerra se arrastam
Hamas reafirma discretamente controle em Gaza enquanto negociações pós-guerra se arrastam
Reuters
14/11/2025
Por Nidal al-Mughrabi
CAIRO (Reuters) - Desde a regulamentação do preço do frango até a cobrança de taxas sobre os cigarros, o Hamas está tentando ampliar o controle sobre Gaza, à medida que os planos dos EUA para o seu futuro tomam forma lentamente, dizem os habitantes de Gaza, aumentando as dúvidas dos rivais sobre se o Hamas cederá a autoridade conforme prometido.
Após o início de um cessar-fogo no mês passado, o Hamas rapidamente restabeleceu seu controle sobre as áreas das quais Israel se retirou, matando dezenas de palestinos acusados de colaborar com Israel, roubo ou outros crimes. As potências estrangeiras exigem que o grupo se desarme e deixe o governo, mas ainda não chegaram a um acordo sobre quem os substituirá.
Agora, habitantes de Gaza dizem que estão sentindo cada vez mais o controle do Hamas de outras formas. As autoridades monitoram tudo o que entra nas áreas de Gaza controladas pelo Hamas, cobrando taxas sobre alguns produtos importados pelo setor privado, incluindo combustível e cigarros, e multando comerciantes que estejam cobrando a mais por produtos, de acordo com dez moradores de Gaza, três deles comerciantes com conhecimento direto.
Ismail Al-Thawabta, chefe do escritório de mídia do governo do Hamas, disse que os relatos de que o Hamas está taxando cigarros e combustível são imprecisos, negando que o governo esteja aumentando quaisquer impostos.
As autoridades estão apenas realizando tarefas humanitárias e administrativas urgentes, ao mesmo tempo em que fazem 'esforços extenuantes' para controlar os preços, segundo Thawabta. Ele reiterou a disposição do Hamas de passar o comando para uma nova administração tecnocrática, dizendo que o objetivo é evitar o caos em Gaza: 'Nosso objetivo é que a transição ocorra sem problemas'.
Hatem Abu Dalal, proprietário de um shopping center em Gaza, disse que os preços estão altos porque não há mercadorias suficientes entrando em Gaza. Os representantes do governo tentam colocar ordem na economia -- percorrendo o país, verificando os produtos e definindo os preços, afirmou ele.
Mohammed Khalifa, que fazia compras na área central de Nuseirat, em Gaza, disse que os preços estavam mudando constantemente, apesar das tentativas de regulá-los. 'É como uma bolsa de valores', declarou.
'Os preços são altos. Não há renda, as circunstâncias são difíceis, a vida é dura e o inverno está chegando', disse ele.
O plano de Gaza do presidente dos EUA, Donald Trump, garantiu um cessar-fogo em 10 de outubro e a libertação dos últimos reféns vivos apreendidos durante os ataques a Israel liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.
O plano prevê o estabelecimento de uma autoridade de transição, o envio de uma força de segurança multinacional, o desarmamento do Hamas e o início da reconstrução.
Mas a Reuters, citando várias fontes, informou esta semana que a divisão de facto de Gaza parecia cada vez mais provável, com as forças israelenses ainda posicionadas em mais da metade do território e os esforços para avançar o plano em dificuldades.
Quase todos os 2 milhões de habitantes de Gaza vivem em áreas controladas pelo Hamas, que tomou o controle do território da Autoridade Palestina (AP), do presidente Mahmoud Abbas e seu Movimento Fatah, em 2007.
Ghaith al-Omari, pesquisador sênior do Washington Institute think-tank, disse que as ações do Hamas tinham como objetivo mostrar aos habitantes de Gaza e às potências estrangeiras que ele não pode ser contornado.
'Quanto mais a comunidade internacional esperar, mais arraigado o Hamas se tornará', afirmou Omari.
(Reportagem adicional de Ali Sawafta em Ramallah e Tom Perry)
Reuters

