Inflação de setembro foi um pouco melhor que esperado, mas expectativas devem subir, diz Campos Neto
Inflação de setembro foi um pouco melhor que esperado, mas expectativas devem subir, diz Campos Neto
Reuters
08/10/2021
Atualizada em 08/10/2021
Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o resultado da inflação em setembro veio um pouco melhor que o esperado, mas ponderou que as expectativas para este ano devem piorar após o anúncio nesta sexta-feira de aumento no gás e na gasolina.
Ao participar de evento promovido pelo Itaú, ele lembrou que o BC já havia falado que, olhando para o ano, a inflação acumulada em 12 meses deveria ter sua pior leitura em setembro.
O IPCA avançou 1,16% em setembro, de 0,87% em agosto, mas abaixo da projeção em pesquisa da Reuters de um aumento de 1,25%. Em 12 meses, a taxa foi a 10,25%, bem acima da meta de inflação para o ano de 3,75%, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Campos Neto frisou que o BC tenta não se prender tanto ao barulho de curto prazo, um alerta que, segundo ele, é simétrico, valendo tanto para quando dados vêm pior do que o esperado como melhor.
Mas ele indicou que o encarecimento do preço de combustíveis deve afetar o canal das expectativas.
'Quando você olha para expectativas de inflação, Brasil teve um grande salto quando você olha para 2021. Isso provavelmente piorará com aumento anunciado hoje para gás e gasolina', disse.
Mais cedo, a Petrobras informou que elevará o preço médio da gasolina e do gás de cozinha nas refinarias em 7,2% a partir de sábado, refletindo a alta do petróleo no mercado externo e o fortalecimento do dólar.
Campos Neto, reconheceu nesta sexta-feira que há hoje muito debate quanto à implementação de um horizonte mais amplo para meta de inflação, mas ressaltou que o BC tem compromisso com o atingimento do objetivo no ano que vem.
'Obviamente, quando você tem inflação alta não é hora de mudar o arcabouço', disse ele.
'A mensagem está clara, estamos olhando para 2022', afirmou.
Pelo seu cenário básico, o BC vê a inflação no próximo ano apenas ligeiramente acima da meta: 3,7% contra alvo central de 3,5%. Já o mercado é mais pessimista e projeta IPCA de 4,14% no ano que vem, segundo o boletim Focus mais recente.
Sobre a contínua elevação para cima das expectativas do mercado para a inflação, Campos Neto afirmou que os ajustes consecutivos parecem estar criando uma inércia nas estimativas.
CÂMBIO
Sobre o comportamento do dólar frente ao real, Campos Neto disse que a percepção é que a moeda brasileira tem se desconectado dos pares quando há 'barulho local', em geral sobre o fiscal.
Ele reconheceu que apesar de o país ter apresentado números melhores no front fiscal, há grande incerteza sobre o arcabouço fiscal que vai prevalecer num momento em que o governo se esforça para aprovar a PEC dos Precatórios para abrir caminho para um Bolsa Família mais robusto no ano que vem.
Ele defendeu que as intervenções do BC no mercado cambial são feitas quando o preço está muito longe de fundamentos.
Campos Neto também descartou que o movimento do câmbio no Brasil tenha relação com recursos que não estão sendo repatriados por exportadores.
Ele disse ter visto menções a volumes de 40 bilhões a 50 bilhões de dólares nesse sentido, mas ressaltou que o BC não vê nada perto disso segundo os números que acompanha internamente.
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