Japão destaca tropas para combater onda mortal de ataques de ursos

Por Tim Kelly e Tom Bateman

KAZUNO, JAPÃO (Reuters) - O Japão enviou tropas para o norte acidentado do país nesta quarta-feira para ajudar a capturar ursos depois que autoridades locais disseram que comunidades sitiadas estavam lutando para lidar com uma onda de ataques sem precedentes.

A operação teve início em Kazuno, uma pequena cidade aninhada entre montanhas arborizadas que tem registrado um aumento acentuado de avistamentos de ursos. Durante semanas, os moradores têm sido orientados a evitar as matas densas e a permanecer em casa após o anoitecer para evitar que os ursos se alimentassem perto das casas.

'Mesmo que seja apenas temporária, a ajuda é um grande alívio', disse Yasuhiro Kitakata, que supervisiona o departamento de ursos da cidade. 'Eu costumava pensar que os ursos sempre fugiam quando ouviam barulho, mas agora eles realmente vêm em sua direção. Eles são animais realmente assustadores', acrescentou.

Desde abril houve mais de 100 ataques de ursos, com um recorde de 12 pessoas mortas em todo o Japão, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente. Dois terços dessas mortes ocorreram na prefeitura de Akita, onde Kazuno está localizada, e na vizinha Iwate.

Em Akita, as autoridades dizem que os avistamentos de ursos sextuplicaram este ano, chegando a mais de 8.000, e os ataques estão a caminho de estabelecer um novo recorde, o que levou o governador a solicitar ajuda das Forças de Autodefesa na semana passada.

'Os habitantes da cidade sentem o perigo todos os dias', disse o prefeito de Kazuno, Shinji Sasamoto, depois de se reunir com cerca de 15 soldados que chegaram à cidade em um caminhão do exército e jipes, equipados com coletes à prova de balas e um grande mapa.

'Isso afetou a maneira como as pessoas vivem suas vidas, forçando-as a parar de sair ou a cancelar eventos', disse Sasamoto.

As tropas estão lá para transportar, montar e inspecionar as armadilhas com barras de aço usadas para capturar ursos que, posteriormente, são abatidos por caçadores treinados contratados para eliminar a população.

Em uma estrada montanhosa fora da cidade, autoridades florestais locais mostraram aos soldados como montar e carregar as armadilhas em caminhões. As tropas de capacete branco carregavam spray contra ursos e eram protegidas por outras pessoas com escudos e longas varas de madeira com o formato de rifles normalmente usados em exercícios de baioneta.

ATAQUES EM SUPERMERCADO, RESORT DE ÁGUAS TERMAIS

O aumento do número de ursos, as mudanças nas fontes naturais de alimento provocadas pela mudança climática e o despovoamento das áreas rurais estão cada vez mais colocando as pessoas em contato com os ursos, enquanto um grupo de caçadores idosos, com os quais as autoridades antes contavam, se vêem sobrecarregados.

Nas últimas semanas, ursos atacaram clientes dentro de um supermercado, atacaram um turista que aguardava em um ponto de ônibus próximo a um Patrimônio Mundial da Unesco e mutilaram um trabalhador em um resort de águas termais. Algumas escolas foram temporariamente fechadas depois que ursos foram vistos perambulando por suas dependências.

Os ataques de ursos geralmente atingem o pico em outubro e novembro, quando os animais se alimentam intensamente antes da hibernação no inverno.

Os ursos negros japoneses, comuns na maior parte do país, podem pesar até 130 kg (287 libras). Os ursos marrons da ilha de Hokkaido, ao norte, podem pesar até 400 kg.

Tóquio anunciará este mês um pacote de medidas emergenciais para lidar com o problema dos ursos, incluindo o recrutamento de mais caçadores licenciados, disse o vice-secretário-chefe do Gabinete, Kei Sato, em uma coletiva de imprensa. Em setembro, o governo flexibilizou as regras sobre armas para facilitar a caça de ursos em áreas urbanas.