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Nos Andes sulamericanos, encolhimento do Lago Titicaca faz soar o alarme climático

Placeholder - loading - Alex Flores caminha em uma área ressecada do Lago Titicaca 26/10/2023 REUTERS/Claudia Morales
Alex Flores caminha em uma área ressecada do Lago Titicaca 26/10/2023 REUTERS/Claudia Morales

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Por Monica Machicao e Sergio Limachi

COJATA, Bolívia (Reuters) - As rachaduras expostas no solo de partes do Lago Titicaca, o maior corpo de água doce da América do Sul e o lago navegável mais alto do mundo, situado entre as montanhas dos Andes, são uma visão alarmante para o agricultor local Manuel Flores.

Suas colheitas estão secas, os poços de água próximos também secaram durante um longo período de estiagem e seu gado está passando por dificuldades. Como muitos que vivem no entorno do lago, ele costumava se locomover facilmente de barco. Agora, atravessa o leito seco do lago.

O lago, outrora visto como uma divindade pelos povos pré-colombianos que viviam às suas margens, é um importante ecossistema para a vida selvagem e uma fonte de água para milhões de pessoas, incluindo a cidade de El Alto, a cerca de 40 quilômetros de distância para o leste.

Mas seus níveis de água estão agora em recordes mínimos históricos, agravados pelo fenômeno climático El Niño, o que significa menos chuva na região, agravando um longo período de seca e raras temperaturas elevadas.

Cientistas dizem que estas condições meteorológicas extremas estão se tornando cada vez mais comuns a nível mundial por conta das mudanças climáticas, que também intensificam os efeitos do El Niño.

“Tenho 50 anos. Nunca antes o Lago Titicaca secou como agora. Isso nos afeta, porque não há mais comida para o nosso gado e não podemos viajar de barco”, disse o agricultor Flores. “Agora temos que caminhar e as nossas colheitas já não existem porque não tem chovido desde o ano passado.”

A seca está se aproximando de níveis críticos para a agricultura da região, afirmaram agricultores e especialistas. Se não chover até o início de dezembro não haverá plantação de batatas, um dos alimentos básicos das comunidades rurais e urbanas da Bolívia.

Ao redor do lago, especialmente no menor e mais raso 'Lago Menor', as águas recuaram da costa, em parte devido à falta de chuvas, às altas temperaturas e ao recuo das geleiras andinas, cuja água derretida normalmente alimenta o lago.

Especialistas dizem que muitos dos fatores que contribuem para a redução do Lago Titicaca podem estar ligados às mudanças climáticas.

“Noventa e cinco por cento da perda de água do lago se deve à evaporação, o que mostra que esta é total ou quase totalmente causada pelas mudanças climáticas”, disse Xavier Lazzaro, especialista em sistemas aquáticos do instituto de pesquisas francês IRD.

De acordo com o MapBiomas Água, que monitora as mudanças nos corpos d'água superficiais da região há duas décadas, a Bolívia, em geral, viu uma queda de 39% em suas águas superficiais naturais, como rios e lagoas, entre 1985 e 2022.

O declínio ocorre com as temperaturas globais atingindo níveis recordes, o que afetou rios, lagos e geleiras dos Estados Unidos à Ásia.

(Reportagem de Monica Machicao e Sergio Limachi)

Escrito por Reuters

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