'O que resta para bombardear?' Plano de Israel de expandir campanha propaga medo em Gaza
'O que resta para bombardear?' Plano de Israel de expandir campanha propaga medo em Gaza
Reuters
06/05/2025
Por Nidal al-Mughrabi
CAIRO (Reuters) - O plano de Israel de expandir sua ofensiva em Gaza, deslocar pessoas dentro do enclave e assumir o controle da distribuição de ajuda deixou os habitantes de Gaza, que já sofreram diversos deslocamentos e escassez de alimentos durante 19 meses de conflito, horrorizados.
Israel tem bloqueado a entrada de toda a ajuda em Gaza desde 2 de março, com o colapso de um cessar-fogo de dois meses com o Hamas que havia melhorado o acesso dos habitantes de Gaza a alimentos e medicamentos e permitido que muitos deles voltassem para casa.
Para Aya, de 30 anos, moradora da Cidade de Gaza, que voltou para casa com a família durante o cessar-fogo depois de meses na parte sul da faixa, o anúncio de Israel na segunda-feira aumentou o medo de ser morta ou deslocada indefinidamente.
'Será que vamos morrer desta vez?', disse ela em uma mensagem em um aplicativo de bate-papo.
'Eles vão nos deslocar novamente? Vamos acabar em Rafah, e essa será a última vez, ou eles vão nos forçar a sair de Gaza depois de Rafah?', disse referindo-se à área de Rafah, no sul de Gaza, próxima à fronteira com o Egito.
Ao comparecer a um funeral nesta segunda-feira para várias pessoas mortas em um ataque aéreo israelense a um prédio na Cidade de Gaza, Mohammed al-Seikaly disse que a situação era tão terrível que é difícil imaginar como Israel poderia intensificar ainda mais o ataque.
'Não há mais nada na Faixa de Gaza que não tenha sido atingido por mísseis e barris de explosivos', disse. 'Estou perguntando na frente do mundo inteiro: 'O que resta para bombardear?''
Nesta terça-feira, os ataques militares israelenses mataram pelo menos 46 palestinos em toda a Faixa de Gaza, segundo autoridades de saúde locais. Os médicos disseram que pelo menos 29 pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram mortas em uma escola que abrigava famílias deslocadas no campo de Bureij, na região central da Faixa de Gaza.
Segundo os médicos, a escola foi atingida duas vezes em um intervalo de poucas horas.
Após o primeiro ataque aéreo, o Exército israelense disse que havia atingido terroristas que operavam em um centro de comando usado para armazenar armas e planejar e organizar ataques contra Israel. Não houve comentário imediato do Exército após o segundo ataque.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que a operação militar ampliada deve ser 'intensiva', envolver a manutenção de territórios tomados e a transferência de palestinos 'para sua própria segurança'.
ESCASSEZ DE ALIMENTOS
Uma autoridade israelense disse que o plano deve envolver o deslocamento da população civil para o sul e o controle da distribuição de ajuda para evitar que os alimentos caiam nas mãos do Hamas, grupo militante islâmico cujo ataque a Israel em outubro de 2023 desencadeou a atual operação militar de Israel em Gaza.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários rejeitou o plano nesta terça-feira e o considerou 'o oposto do que é necessário'.
Tamer, um homem de Khan Younis, na metade sul da Faixa, disse temer que Israel possa impor seu próprio sistema de triagem para decidir quem vai receber alimentos.
'Eles prenderão pessoas e matarão outras antes de permitir que o restante entre nas áreas designadas?', disse ele.
Os 2,3 milhões de habitantes de Gaza lutam contra a escassez de alimentos -- muitos comem apenas uma vez por dia. O Programa Mundial de Alimentos disse em 25 de abril que havia esgotado os estoques de alimentos na Faixa.
Muitas vezes não é possível encontrar farinha, mas quando há um raro saco disponível, ele pode custar até US$500, em comparação com 25 shekels (US$ 7) antes da guerra, disse Aya.
'Eles estão nos matando de fome para que possamos concordar com qualquer coisa. Queremos o fim da guerra. Que eles levem seus prisioneiros (reféns israelenses) e acabem com a guerra. Chega', acrescentou ela.
Alguns moradores têm se alimentado de ervas ou folhas, enquanto os pescadores têm se dedicado à captura de tartarugas marinhas e à venda de sua carne.
Autoridades israelenses afirmam que ainda há alimentos suficientes em Gaza, embora o chefe das Forças Armadas de Israel tenha alertado a liderança política de que os suprimentos devem ser liberados em breve, informou a emissora pública Kan.
O Hamas, que governa Gaza desde 2007, acusa Israel de 'usar alimentos como arma em sua guerra contra o povo de Gaza'.
A atual guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas matou 1.200 pessoas e fez 251 reféns, segundo registros israelenses.
A campanha de Israel matou mais de 52.000 palestinos, a maioria civis, de acordo com as autoridades de saúde administradas pelo Hamas, e reduziu grande parte de Gaza a ruínas.
(Reportagem de Nidal al-Mughrabi; reportagem adicional de Dawoud Abu Alkas em Gaza)
Reuters

