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Ornella Vanoni, famosa por versão italiana de 'Sentado à beira do caminho', morre aos 91 anos

Ornella Vanoni, famosa por versão italiana de 'Sentado à beira do caminho', morre aos 91 anos

Reuters

21/11/2025

Placeholder - loading - Mural em homenagem à cantora italiana Ornella Vanoni em Milão 11/09/2025 REUTERS/Claudia Greco
Mural em homenagem à cantora italiana Ornella Vanoni em Milão 11/09/2025 REUTERS/Claudia Greco

Atualizada em  21/11/2025

Por Gianluca Semeraro

MILÃO (Reuters) - Quatro degraus separavam Ornella Vanoni da vida que ela desejava: os quatro degraus que levavam ao palco do Piccolo Teatro de Milão.

'Eu torcia os nervos, puxava os cabelos', relembrou ela em seu livro de memórias, 'Vincente o perdente' ('Vencedor ou perdedor'), sobre o medo que a acometeu em meados da década de 1950. 'Eu queria estar lá, na frente, mas aqueles poucos metros que me separavam do palco eram terríveis.'

Finalmente, o diretor do teatro declarou que seria preciso um milagre para que ela se apresentasse em público. Em desafio, ela o fez.

'Há datas de nascimento que não são registradas em papéis, mas que são, ao contrário, os dias em que você finalmente se torna quem realmente é', escreveu ela sobre aquele ato inaugural de ousadia.

Vanoni viria a se tornar uma das principais vozes da música italiana e uma das artistas mais queridas do país. Tendo ganhado destaque nos festivais de música televisionados no início dos anos 1960, sua carreira se estendeu por mais de sete décadas e inspirou várias gerações de artistas.

Contadora de histórias envolventes, cujas canções exploravam o crime, a pobreza e a exclusão social, bem como o amor, a perda e a feminilidade, ela vendeu mais de 55 milhões de discos e lançou cerca de 40 álbuns de estúdio, de acordo com a mídia italiana.

Enquanto a moda e os costumes mudavam na Itália, a voz íntima e encantadora de Vanoni permaneceu um símbolo de autenticidade emocional na música italiana.

Elegante e ferozmente independente, ela manteve um perfil público por meio de aparições em programas de entrevistas muito depois do lançamento de seus álbuns mais populares.

Ela morreu na noite desta sexta-feira, aos 91 anos, em sua casa em Milão, de parada cardíaca, informaram o jornal Corriere della Sera e a agência de notícias AGI.

Sobre seus planos para o funeral, ela disse ao programa de televisão Che Tempo Che Fa: 'O caixão deve ser barato porque eu quero ser cremada. Depois me joguem no mar, talvez em Veneza'.

'Eu tenho o vestido', acrescentou ela. 'É da Dior.'

DO TEATRO AO POP

A ruiva Vanoni nasceu em 1934 em uma família milanesa abastada. Seu pai era um empresário do setor farmacêutico.

Isso permitiu que sua família a enviasse para uma escola dirigida por freiras na Itália e depois para faculdades na Suíça, Reino Unido e França, onde aprendeu alemão, inglês e francês.

Ela disse que sua mãe costumava lhe dizer que uma boa menina deveria sempre sair de casa bem arrumada, usando 'saltos altos e um pouco de maquiagem'.

Vanoni trabalhou primeiro como atriz sob a orientação do diretor Giorgio Strehler no Piccolo Teatro, antes de fazer a transição para a música.

Seus sucessos incluem 'Senza fine', lançado pela primeira vez em 1961, e 'Domani è un altro giorno', de 1971.

Seu maior sucesso comercial foi 'L'appuntamento', a versão italiana da música brasileira 'Sentado à beira do caminho', de Erasmo e Roberto Carlos. Lançada originalmente em 1970, a música ganhou uma segunda vida quando foi incluída na trilha sonora do filme 'Doze Homens e Outro Segredo', de Steven Soderbergh, em 2004, expandindo seu fandom para muito além das fronteiras da Itália.

Vanoni explorou diferentes gêneros musicais. Suas primeiras canções sobre o submundo do crime de Milão lhe renderam o apelido de 'Cantante della mala' (cantora do submundo). Mais tarde, tornou-se intérprete de obras dos principais compositores italianos e colaborou com os artistas brasileiros Toquinho e Vinicius de Moraes, além de músicos de jazz.

Amiga íntima do estilista Gianni Versace, morto em 1997, ela também inspirou os estilistas Giorgio Armani e Valentino a criarem roupas para ela.

MARIDO E AMANTES

Vanoni descreveu o diretor de teatro Strehler, 13 anos mais velho que ela, como o primeiro amor de sua vida. Ela também teve um relacionamento com Gino Paoli, um cantor e compositor italiano com quem colaborou.

Ela foi casada com Lucio Ardenzi entre 1960 e 1972. O casal teve um filho, Cristiano.

Em uma entrevista para a seção de showbusiness da Gazzetta dello Sport em 2024, Vanoni disse que nunca amou seu marido, mas pensou 'mais cedo ou mais tarde, você tem que se casar'.

Sobre a época em que se conheceram, ela disse: 'Eu não sabia o que fazer comigo mesma. Eu havia terminado com Strehler, que era casado; eu amava Paoli, que era casado; conheci Ardenzi e me casei'.

Em seus últimos anos, Vanoni continuou sendo uma figura de destaque nas artes, colaborando com artistas italianos mais jovens. Em entrevistas, ela falou francamente sobre envelhecimento, solidão e criatividade e compartilhou seus pensamentos sobre política e notícias, demonstrando um senso de humor animado.

Vanoni, que sofreu muito com a insegurança em sua juventude, na velhice passou a abraçar as muitas facetas de sua personalidade. 'Eu sou uma dessas mulheres. Mulheres em chamas, frágeis e cheias de ternura, protegidas por explosões nervosas, distanciamento elegante e sarcasmo', escreveu ela em suas memórias.

'Desesperada e feliz, sozinha e celebrada, furiosa e delicada.'

Reuters

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