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'Outra pandemia': violência doméstica aumenta na América Latina em meio a isolamento

Placeholder - loading - Tania Robledo Banda, advogada e chefe da APIS, entidade que acolhe mulheres sob risco de violência doméstica, na sede da organização na Cidade do México 23/04/2020 REUTERS/Mahe Elipe
Tania Robledo Banda, advogada e chefe da APIS, entidade que acolhe mulheres sob risco de violência doméstica, na sede da organização na Cidade do México 23/04/2020 REUTERS/Mahe Elipe

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Por Lucila Sigal, Natalia A. Ramos Miranda, Ana Isabel Martínez e Monica Machicao

BUENOS AIRES/SANTIAGO/CIDADE DO MÉXICO/LA PAZ, 27 Abr (Reuters) - Os isolamentos em toda a América Latina estão ajudando a frear a disseminação da Covid-19, mas têm uma consequência terrível e inesperada: um pico de ligações para disques-denúncia indica um aumento de abusos domésticos em uma região na qual quase 20 milhões de mulheres e meninas sofrem violência sexual e física a cada ano.

Em cidades como Buenos Aires, Cidade do México, Santiago, São Paulo e La Paz, famílias e indivíduos estão confinados em casa de maneira inédita, muitas vezes só tendo permissão para sair para comprar itens essenciais ou para emergências.

Procuradores, equipes de apoio a vítimas, movimentos femininistas e a Organização das Nações Unidas (ONU) dizem que isto causou uma disparada de casos de violência doméstica contra as mulheres, e citam um número crescente de chamadas para os telefones de denúncia.

Em alguns países, como México e Brasil, tem havido um aumento nos relatos formais de abuso, enquanto em outros, como Chile e Bolívia, se vê uma queda nas queixas formais.

Procuradores e a ONU Mulheres disseram que este último fenômeno provavelmente não se deve a uma diminuição da violência, mas ao fato de as mulheres estarem menos capacitadas a pedir ajuda ou denunciar abusos pelos canais normais.

'O salto da violência não nos surpreendeu, é o desencadeamento de uma violência que já estava nas pessoas', disse Eva Giberti, fundadora do programa Vítimas Contra a Violência da Argentina, que tem um disque-denúncia para as mulheres relatarem abusos.

'Em circunstâncias sociais normais, isso estava limitado até certo ponto.'

O serviço de emergência 137 para vítimas de abuso da Argentina, apoiado pelo Departamento de Justiça, viu um aumento de 67% nos pedidos de ajuda em abril na comparação com o ano anterior desde que um isolamento de âmbito nacional foi imposto em 20 de março.

Em um relatório divulgado na quarta-feira passada, a ONU Mulheres disse haver indícios de um aumento da violência contra mulheres no México, no Brasil e na Colômbia e uma duplicação do número de feminicídios na Argentina durante a quarentena, citando um observatório de mulheres de Mar del Plata.

Antes da pandemia, o governo argentino estima que uma mulher era assassinada a cada 23 horas.

A violência doméstica 'parece ser outra pandemia', disse Lucía Vassallo, cineasta cujo documentário 'Disque 137' examina a questão.

'ELAS NÃO OUSAM SAIR'

A preocupação crescente com os abusos domésticos é global, e existe o temor de que as vítimas estejam sendo silenciadas na Itália, que os pedidos de ajuda das mulheres estejam aumentando na Espanha e que os sistemas para evitar o abuso infantil nos Estados Unidos estejam sendo prejudicados pelo isolamento.

Na América Latina, o temor é o de que a violência contra as mulheres, que já era prevalente, esteja sendo exacerbado ainda mais. Ao longo do último ano, a região viu grandes marchas e greves de mulheres contra as agressões e abusos de homens.

'Em uma situação de confinamento, o que está acontecendo é que as mulheres estão trancadas com seus próprios abusadores em situações nas quais têm válvulas de escape limitadas', explicou Maria Noel Baeza, diretora regional da ONU Mulheres, à Reuters.

'No ano passado, tivemos 3.800 feminicídios na região, quantos mais teremos neste ano?'

No Chile, a ministra de Assuntos das Mulheres disse que as ligações de denúncia de abusos domésticos aumentaram 70% no primeiro final de semana da quarentena. O governo reforçou os canais de aconselhamento e procurou manter os abrigos para mulheres em risco abertos.

Evelyn Matthei, prefeita de Providencia, um bairro de classe alta de Santiago, disse à Reuters que as chamadas para um escritório local que oferece ajuda legal, psicológica e social aumentara ao menos 500% durante o isolamento.

Os relatos formais de violência doméstica, porém, recuaram 40% na primeira metade de abril no Chile, de acordo com a Procuradoria-Geral, o que a ONU e procuradores disseram se dever à restrição de movimentos das mulheres.

'Isto provavelmente tem a ver com o fato de que existe violência dentro de casa, mas que as mulheres não podem sair, elas não ousam sair', disse Matthei.

No Estado de São Paulo, que é o mais atingido pela pandemia e que impôs medidas de isolamento abrangentes, houve um aumento de 45% nos casos de violência contra mulheres nos quais a polícia foi acionada no mês passado na comparação com o ano anterior, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

No México, as queixas de violência doméstica à polícia aumentaram cerca de um quarto em março em relação ao ano anterior, mostraram dados oficiais.

Na Colômbia, as ligações diárias para denunciar a violência doméstica a um disque-denúncia nacional das mulheres aumentaram quase 130% durante os 18 primeiros dias da quarentena, segundo cifras do governo. O isolamento do país foi prorrogado até 11 de maio.

(Reportagem adicional de Julia Symmes Cobb, em Bogotá, e Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)

Escrito por Reuters

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