QUANDO O ARREPENDIMENTO CUSTA CARO
E NÃO SÓ EM DINHEIRO
João Carlos
14/05/2025
O arrependimento pode surgir em um extrato bancário, na lembrança de uma conversa interrompida ou no silêncio de uma oportunidade perdida. Uma nova pesquisa da Talker Research, encomendada pela revista Newsweek, revelou os principais arrependimentos financeiros enfrentados por adultos nos Estados Unidos — e eles não são poucos.
O levantamento aponta que a falta de planejamento para a aposentadoria, o uso excessivo do cartão de crédito e a ausência de uma reserva de emergência estão entre os erros mais citados. Muitos participantes relataram ter começado tarde demais a cuidar do futuro, gastado impulsivamente ou simplesmente ignorado hábitos básicos de organização financeira.
Mas, como revela o escritor Daniel H. Pink em seu livro The Power of Regret: How Looking Backward Moves Us Forward, os arrependimentos humanos não se limitam ao campo das finanças. A obra, baseada em dados de mais de 16 mil relatos em 105 países, propõe que o arrependimento, quando bem compreendido, pode ser uma ferramenta poderosa de aprendizado e transformação pessoal.
Os quatro tipos de arrependimento – e o que dizem as pessoas

Para escrever o livro, Daniel Pink conduziu duas grandes pesquisas:
American Regret Project – um levantamento quantitativo com mais de 4.000 adultos nos EUA, usado para categorizar tipos de arrependimento.
World Regret Survey – uma pesquisa qualitativa aberta a pessoas de todo o mundo, que coletou os relatos.
A partir dos dados coletados, o autor Daniel H. Pink reuniu relatos que revelam os arrependimentos mais recorrentes entre pessoas de diferentes idades, países e trajetórias. A seguir, conheça os principais tipos e veja como esses sentimentos se expressam na vida real:
1. Arrependimentos fundamentais, ligados a saúde, dinheiro e segurança. São decisões que afetam a base da vida cotidiana — como não cuidar da alimentação, negligenciar o sono, acumular dívidas ou ignorar a importância de um plano de previdência. São chamados “fundamentais” porque comprometem a estabilidade necessária para construir qualquer outro aspecto da vida.
“Eu ganhava bem, mas gastava tudo em bobagens. Hoje, com mais de 60 anos, não tenho nenhuma reserva. Sinto que falhei comigo mesmo.” — homem, 63 anos, Canadá
“Passei décadas ignorando minha saúde. Agora, cada pequena dor me lembra o que deixei de fazer.” — mulher, 58 anos, Brasil
2. Arrependimentos por falta de ousadia, como não ter mudado de carreira, abandonado um emprego infeliz, viajado sozinho, criado um projeto pessoal ou assumido um grande amor. Esse tipo de arrependimento aparece quando a pessoa escolhe a zona de conforto em vez de arriscar algo que poderia ter sido transformador. Com o tempo, o que pesa não é o fracasso — é a ausência da tentativa.
“Fui aceito para estudar fora do país, mas tive medo. Ainda sonho com a vida que poderia ter tido.” — homem, 39 anos, Índia
“Ela me amava. Eu também, mas não disse. Hoje, vejo fotos dela com outra pessoa e me pergunto: ‘e se?’” — mulher, 44 anos, Alemanha
3. Arrependimentos morais, que envolvem ações (ou omissões) contrárias aos valores pessoais. Isso inclui mentiras, traições, infidelidades ou atitudes injustas das quais a consciência não se livra com facilidade. Mesmo quando a consequência externa parece resolvida, esse tipo de arrependimento tende a permanecer como um incômodo íntimo e duradouro.
“Fui desonesto em uma situação profissional. Ganhei dinheiro, mas perdi o respeito de alguém que admirava.” — homem, 51 anos, EUA
“Fiz bullying na escola. Nunca pedi desculpas. Esse remorso ainda pesa.” — mulher, 35 anos, Austrália
4. Arrependimentos de conexão, relacionados a laços familiares, amizades ou relacionamentos afetivos que se romperam com o tempo — muitas vezes, por orgulho, descuido ou silêncio prolongado. Pink relata que, nesses casos, o mais comum não é um grande conflito, mas sim o arrependimento por não ter feito contato, pedido desculpas ou retomado uma relação que ainda importava.
“Minha irmã me ligou no aniversário dela. Eu estava ocupado e não atendi. Uma semana depois, ela faleceu. Nunca retornei a ligação.” — homem, 48 anos, Irlanda
“Deixei amizades importantes se dissolverem por puro orgulho. Hoje, daria qualquer coisa por uma mensagem.” — mulher, 41 anos, África do Sul

“O arrependimento nos lembra que temos padrões e que nem sempre os seguimos. Essa dor é um sinal de que podemos mudar.”
— Daniel H. Pink, em The Power of Regret
Em tempos de escolhas rápidas e informações em excesso, olhar para trás com sinceridade talvez seja uma das maneiras mais conscientes de seguir adiante. Arrependimentos existem — com o dinheiro, com as pessoas, com nós mesmos — mas eles também podem ser um convite à mudança.


