Ausência de Trump em cúpula do G20 é oportunidade para anfitriões sul-africanos
Ausência de Trump em cúpula do G20 é oportunidade para anfitriões sul-africanos
Reuters
18/11/2025
Por Tim Cocks
JOHANESBURGO (Reuters) - Uma cadeira vazia para Donald Trump na cúpula do G20 oferece uma oportunidade para os anfitriões sul-africanos, determinados a definir uma agenda para os líderes globais diante da hostilidade do presidente dos EUA à diplomacia multilateral.
Washington diz que não participará da primeira cúpula do G20 na África, devido a alegações de que o país anfitrião, anteriormente governado por sua minoria branca sob um sistema de apartheid explicitamente racista até 1994, agora maltrata os brancos.
Trump também rejeitou a agenda do país anfitrião para a cúpula de 22 e 23 de novembro, que visa promover a solidariedade e ajudar as nações em desenvolvimento a se adaptarem a desastres climáticos, fazer a transição para a energia limpa e reduzir custos excessivos de suas dívidas.
Embora não seja provável que uma cúpula sem o país mais poderoso do mundo culmine em uma declaração que abale fundamentos, o primeiro G20 na África é uma vitrine para o continente, que tem economias em rápido crescimento, riqueza mineral e uma população jovem.
Se alguém esperava simplesmente ignorar a ausência de Trump, não terá chance. No final da cúpula, o presidente Cyril Ramaphosa deve entregar simbolicamente o G20 ao próximo anfitrião. Que, por acaso, é Trump.
'Não quero passar o cargo para uma cadeira vazia, mas a cadeira vazia estará lá', disse Ramaphosa na semana passada, preparando-se para a cúpula em um local em Soweto, subúrbio de Johanesburgo onde os negros já foram confinados sob as regras do apartheid que os impediam de viver na própria cidade.
Ele 'simbolicamente passaria para aquela cadeira vazia e depois falaria com o presidente Trump', disse Ramaphosa.
CHANCE DE PREENCHER VÁCUO DE LIDERANÇA
Os itens da agenda da África do Sul incluem a preparação para desastres induzidos pelo clima, dívida sustentável para nações de baixa renda, financiamento de transições de energia e garantia de que a corrida por minerais essenciais beneficie os produtores.
Aliado de Trump, o presidente argentino Javier Milei, também vai se ausentar por motivos ideológicos. Vladimir Putin, da Rússia, não irá à reunião devido ao mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional contra ele por causa da invasão da Ucrânia. A China está enviando o primeiro-ministro Li Qiang, em vez do presidente Xi Jinping.
Mas a saída de Washington oferece uma chance para que outros países, especialmente os europeus e a China, assumam o vácuo de liderança, disse Chris Vandome, do think tank Chatham House.
'Sem os EUA desempenhando seu papel tradicional, esses fóruns são ainda mais importantes para a cooperação', disse ele.
Piet Croucamp, professor associado de estudos políticos e relações internacionais da Universidade do Noroeste da África do Sul, observou que o vice-presidente JD Vance causou um tumulto em sua primeira viagem à Europa com um discurso hostil e disse que uma aparição dos EUA no G20 que causasse a mesma perturbação teria sido 'uma distração'.
'Trump não vir à África do Sul pode ser a melhor coisa que poderia acontecer ao G20', disse ele.
Ainda assim, a cúpula deve frustrar os líderes ainda comprometidos com o antigo estilo de negociações multilaterais tão deplorado por Trump, que cortou a ajuda externa, aumentou as tarifas unilateralmente e denunciou os esforços globais para combater as mudanças climáticas.
Mesmo antes da chegada de Trump à Casa Branca, as tensões entre os membros do G20 estavam dificultando que as cúpulas do G20 oferecessem mais do que declarações brandas nos últimos anos, já que as divergências -- especialmente sobre o compartilhamento do ônus da ação climática entre alguns dos maiores poluidores do mundo -- impediam compromissos reais.
Reuters

