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Brasil sofre com esgotamento e escassez de médicos de UTI para enfrentar alta recorde da Covid

Placeholder - loading - Enfermeira segura mão de paciente com Covid-19 em UTI do Hospital São Paulo 17/03/2021 REUTERS/Amanda Perobelli
Enfermeira segura mão de paciente com Covid-19 em UTI do Hospital São Paulo 17/03/2021 REUTERS/Amanda Perobelli

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Por Pedro Fonseca e Leonardo Benassatto

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - 'Não há como suprir essa demanda brutal', desabafa o presidente da associação dos médicos do Brasil diante da situação limite que vive o país com a disseminação descontrolada da Covid-19.

Hospitais particulares e do sistema público estão superlotados devido ao pior momento enfrentado pelo país desde o início da pandemia há um ano, e tentativas de ampliação da oferta de leitos de UTI têm esbarrado na escassez de médicos e demais profissionais de saúde capacitados para o trabalho de terapia intensiva.

Para o médico César Eduardo Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), a demanda de casos aguardando UTI é 'brutal e catastrófica'.

Nesta quinta-feira, a cidade de São Paulo anunciou o primeiro óbito por Covid-19 devido à falta de atendimento hospitalar mediante o esgotamento da rede de saúde.

Hospitais particulares da maior cidade do país já tiveram que solicitar apoio do sistema público para atender pacientes devido à falta de leitos.

Apesar de possuir mais de 540 mil médicos e uma proporção de médicos por habitantes próxima da registrada nos Estados Unidos, por exemplo, o Brasil não conta com um número suficiente de intensivistas e demais profissionais de UTI para lidar com a atual demanda provocada pela pandemia, de acordo com o presidente da AMB, e o país precisa com urgência capacitar médicos de outras áreas para atuar na terapia intensiva, segundo Fernandes.

'Médico intensivista é uma commodity que está em falta', disse ele à Reuters. 'O governo deveria ter uma política de incentivo para que médicos pudessem ser treinados rapidamente, tinha que ser feito ontem.'

O Brasil se tornou o país do mundo com os maiores números de casos novos e de óbitos por Covid-19, ultrapassando os EUA, ao registrar mais de 2.000 mortes diárias e mais de 70 mil infecções por dia na média dos últimos sete dias. Desde o início da pandemia, já são mais de 284 mil óbitos devido à doença.

O sistema de saúde do país entrou em colapso, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma vez que 25 das 27 unidades da federação têm lotação acima de 80% nas UTIs e 19 capitais estão com comprometimento acima dos 90% -- apesar dos esforços de prefeitos e governadores para abrir novos leitos.

Na maior parte dos locais, segundo a Fiocruz, cirurgias eletivas e internações que possam ser postergadas foram adiadas por falta de leitos e outras doenças também deixam de ser atendidas, o que piora a situação geral da população.

'Estamos vendo pacientes chegando em uma velocidade que nós não conseguimos dar conta. Não há vagas para os que chegam, há filas em praticamente todos os hospitais', disse a intensivista Flávia Machado, chefe das UTIs de Covid-19 do Hospital São Paulo, da Unifesp, na capital paulista.

'Isso causa em nós profissionais de saúde, que já estamos cansados, um estresse adicional, que é saber que não estamos atendendo a todos que precisam de nós', acrescentou.

A escala de trabalho não tem mais descanso com o aumento do volume de casos, e muitos profissionais de saúde da linha de frente têm sofrido com a síndrome de burnout, segundo Fernandes, da associação.

'Estamos muito preocupados com a exaustão física e emocional', disse. 'Um médico que está acometido por esgotamento físico e emocional fica com a capacidade elaborativa e de tomada de decisão muito prejudicada, e claro que o médico nessas condições tem possibilidade de se equivocar.'

LEITOS SEM MÉDICOS

Ao contrário da primeira onda da pandemia no ano passado, quando diversas cidades montaram hospitais de campanha para ampliar a rede de atendimento, a estratégia para lidar com o atual momento da pandemia tem sido abrir leitos de terapia intensiva dentro dos próprios hospitais para aproveitar os profissionais já disponíveis.

'Agora nós temos hospitais de campanha que acontecem dentro das instituições hospitalares exatamente por isso, para que nós possamos ter ali a assistência de outros profissionais, também das várias especialidades e atividades para acolher e dar assistência à nossa população', disse o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn.

No Rio de Janeiro, onde a construção dos hospitais de campanha na primeira onda foi marcada por um escândalo de corrupção que resultou no afastamento do governador Wilson Witzel, a prefeitura da capital aguarda que o Ministério da Saúde consiga contratar profissionais para ativar até 800 leitos recém-reformados, mas que seguem fechados por falta de pessoal.

'São leitos de excelente qualidade, mas eles têm problemas de recursos humanos muito intensos“, disse à Reuters o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz.

Questionado, o Ministério da Saúde não respondeu sobre as dificuldades encontradas para contratação de pessoal para leitos de UTI.

Além da falta de profissionais, cidades e Estados também acusam o governo federal de ter interrompido no final de 2020 o custeio dos leitos de UTI abertos devido à pandemia, o que tem dificultado a ampliação da rede.

Apenas em São Paulo, segundo o governo paulista, dos mais de 5 mil leitos novos ativos somente cerca de 1.500 estavam sendo pagos pelo Ministério até o dia 11 de março, apesar de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que obriga o governo federal a custear todos os leitos.

De acordo com o ministério, mais de 3.200 leitos de UTI para casos de Covid tiveram custeio aprovado até 5 de março.

'As autorizações de leitos necessárias por conta da atual situação da curva epidemiológica da pandemia no Brasil estarão condicionadas à aprovação da Lei Orçamentária Anual pelo Congresso Nacional, novas avaliações pelas áreas técnicas do Ministério da Saúde e conforme os pedidos dos gestores estaduais e municipais', disse o ministério em nota.

(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; e Eduardo Simões e Amanda Perobelli, em São Paulo)

Escrito por Reuters

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