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Cacique Aritana é internado com Covid-19 após longa jornada com cilindros de oxigênio

Placeholder - loading - Cacique Aritana chega a hospital em Goiânia para ser internado após longa viagem de carro desde Canarana 22/07/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Cacique Aritana chega a hospital em Goiânia para ser internado após longa viagem de carro desde Canarana 22/07/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino

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Por Ueslei Marcelino

GOIÂNIA (Reuters) - O cacique Aritana Yawalapiti, influente liderança do Alto Xingu, foi internado na madrugada desta quarta-feira em uma unidade de tratamento intensivo de um hospital de Goiânia para tratar a Covid-19, após enfrentar uma longa jornada de carro com o apoio de cilindros de oxigênio, na esperança de derrotar uma doença que tem atingido duramente os povos indígenas do país.

Aritana, com cerca de 70 anos, resistiu inicialmente a deixar a aldeia da etnia yawalapiti, no Alto Xingu, onde os indígenas relatam um grande número de casos suspeitos de Covid-19, disse à Reuters o médico Celso Correia Batista, que atende indígenas no Xingu e conduziu o cacique na longa viagem.

Nos dias seguintes aos primeiros sintomas, as complicações respiratórias como falta de ar e cansaço aumentaram, e Aritana chegou à aldeia ofegante e com tosse após sair para pescar, segundo relato de Batista.

Diante da insistência do médico para que fosse levado a um hospital, o cacique chegou a pedir a ele que preparasse um termo de recusa de transferência, garantindo que permaneceria na aldeia.

'Doutor, eu vou ficar aqui porque eu quero e não quero que você tenha problemas. Arruma aquele papelzinho (termo de recusa de responsabilidade) para eu assinar que eu não vou sair e vou ficar aqui', disse Aritana, segundo o médico.

Somente depois que precisou da ajuda de um cilindro de oxigênio para respirar, o cacique aceitou ser levado a um hospital em Canarana, Mato Grosso, em uma viagem de 10 horas de carro, desde que acompanhado pelo médico.

Uma tomografia constatou comprometimento de 50% do parênquima pulmonar, confirmando, na avaliação do médico, o diagnóstico de Covid-19 apesar da não realização de um teste específico, e a partir de então foi iniciada uma busca por uma UTI aérea para transferência para um hospital com leito de UTI em Goiânia.

Como nenhum médico queria se responsabilizar pelo transporte de um paciente em estado grave, os esforços pela transferência aérea não deram resultado ao longo de dois dias, disse Batista, que decidiu encarar uma nova viagem de carro com o cacique, dessa vez de 9 horas, até um hospital na capital de Goiás.

'Tentamos quatro empresas de UTI aérea e ninguém quis fazer a remoção e transporte. Eu conversei com a família a opção de ir de carro, que eu iria acompanhar, a família aceitou, organizamos tudo e viemos nessa luta', disse o médico, que levou quatro cilindros de 1.000 litros de oxigênio durante a viagem --dos quais dois estavam 'praticamente vazios'-- para manter o cacique vivo até chegar ao hospital. No caminho, explicou, os cilindros foram substituídos por outros cheios em uma rápida parada, 'se não nós teríamos perdido ele durante a viagem'.

A chegada a Goiânia se deu exatamente à 1h30 da madrugada, e o cacique ainda precisou esperar quase 30 minutos na porta do hospital para ser atendido, uma vez que não portava seus documentos. Foi necessária uma intervenção do médico junto ao atendimento do hospital para que o cacique fosse internado.

Enquanto aguardava dentro do carro, no banco da frente, Aritana estava com o semblante triste, preocupado, e ofegante. O cacique tentava respirar lentamente e ao mesmo tempo buscava manter a calma, enquanto ouvia palavras de incentivo e encorajamento pronunciadas pelo médico.

Ele tossiu algumas vezes e se queixou de dores pelo corpo. Praticamente sem falar, foi colocado em uma cadeira de rodas e levado para a UTI.

'O estado dele é grave, mas ele tem toda chance do mundo', disse Batista.

O impacto da Covid-19 sobre os povos indígenas é motivo de grande preocupação, conforme destacado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta semana, que apontou o risco particularmente alto para essas populações.

De acordo com dados levantados pela Articulação de Povos Indígenas do Brasil (Apib), uma associação nacional que congrega as 305 etnias do país, foram registrados ao menos 501 óbitos entre indígenas no Brasil devido à Covid-19 até 13 de julho.

O Ministério da Saúde registra um número menor, de 231 óbitos entre indígenas até 20 de julho, uma vez que índios que deixaram as aldeias e se mudaram para cidades não são contabilizados pelo governo.

Segundo os números do governo, o Xingu tem 79 casos confirmados de Covid-19 e outros 57 suspeitos, com cinco óbitos.

'Nossa situação no Xingu é muito difícil, é triste de ver o povo sofrendo, o povo morrendo sem atendimento melhor. O Xingu é muito afastado da cidade, muito longe, não tem equipe profissional suficiente para atender o povo', disse Tapi Yawalapiti, filho do cacique Aritana.

'Estamos sendo esquecidos pelo governo brasileiro, toda população indígena do Brasil está esquecida, está abandonada.'

No início do mês, a Apib ingressou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo medidas legais imediatas de proteção, alegando risco real de genocídio da população indígena devido à pandemia.

Em resposta, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, determinou que o governo federal tomasse medidas para proteção dos povos indígenas para evitar o aumento do contágio e de mortes, entre elas a criação de barreiras sanitárias para evitar a entrada em territórios de índios não contactados.

No início deste mês, as Forças Armadas realizaram uma operação em território ianomâmi para distribuir máscaras e implantar medidas de prevenção ao coronavírus.

(Reportagem adicional de Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)

Escrito por Reuters

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