Crescimento do PIB do Brasil desacelera a 0,1% no 3º tri e fica abaixo do esperado
Crescimento do PIB do Brasil desacelera a 0,1% no 3º tri e fica abaixo do esperado
Reuters
04/12/2025
Atualizada em 04/12/2025
Por Camila Moreira
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO, 4 Dez (Reuters) - A economia brasileira cresceu menos do que o previsto no terceiro trimestre, quando a desaceleração do setor de serviços compensou dados positivos da agropecuária e da indústria e o consumo das famílias perdeu força, em desempenho que alimentava apostas em um corte de juros pelo Banco Central em janeiro.
O Produto Interno Bruto (PIB) teve avanço de 0,1% entre julho e setembro na comparação com os três meses imediatamente anteriores, mostraram os dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse foi o resultado mais fraco desde a retração de 0,1% vista nos três últimos meses de 2024.
No primeiro e segundo trimestres, a economia cresceu 1,5% e 0,3% respectivamente, em dados revisados pelo IBGE de 1,3% e 0,4% informados antes.
O resultado do terceiro trimestre ficou aquém da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,2% na comparação trimestral.
Em relação ao terceiro trimestre de 2024, o PIB apresentou expansão de 1,8%, contra expectativa de alta de 1,7%
A perda de fôlego da atividade econômica brasileira é reflexo da política monetária contracionista, com a taxa básica de juros Selic atualmente em 15%, o que limita novos investimentos, o consumo e o crédito.
'Temos uma desaceleração clara e uma política monetária contracionista que está pesando e comprometendo a economia', avaliou Claudia Dionísio, analista das Contas Trimestrais do IBGE. 'Esse 0,1% é uma estabilidade e 0,3% era uma variação positiva, mas perto de zero. Não dá para chamar de crescimento.'
O BC volta a se reunir nas próximas terça e quarta-feiras e deve optar pela manutenção da Selic após ter sinalizado convicção de que isso vai assegurar a volta da inflação à meta de 3%, mas a expectativa do mercado é de corte em janeiro.
Após a divulgação do dado do PIB, a curva a termo precificava nesta manhã 84% de probabilidade de corte de 25 pontos-base da Selic na primeira reunião de política monetária do próximo ano. No fechamento de quarta-feira, este percentual estava em 78%.
'Embora ainda existam motivos para o Banco Central permanecer cauteloso, um ciclo de afrouxamento agora parece estar próximo', disse Liam Peach, economista senior de mercados emergentes da Capital Economics. 'Esperamos um primeiro corte na taxa de juros em janeiro e mais afrouxamento do que a maioria espera até o final de 2026.'
SERVIÇOS E CONSUMO
Do lado da produção, os serviços -- setor que responde por cerca de 70% da economia do país -- cresceram apenas 0,1% entre julho e setembro, depois de altas de 1,0% e 0,3% nos dois primeiros trimestres do ano.
Por outro lado, a agropecuária expandiu 0,4%, voltando a crescer após retração de 1,4% no segundo trimestre, mas bem abaixo da forte expansão de 16,4% registrada no início do ano.
A indústria, por sua vez, teve um desempenho positivo de 0,8%, mostrando melhora da atividade depois de crescer 0,2% no primeiro trimestre e 0,6% no segundo.
Já do lado das despesas, o consumo das famílias desacelerou a 0,1%, após expansão de 0,6% em cada um dos dois primeiros trimestres, mostrando perda de fôlego mesmo diante de um mercado de trabalho aquecido e aumento da renda.
O terceiro trimestre teve pagamento de R$60,5 bilhões precatórios em julho, mas segundo Dionísio isso não foi revertido em consumo e acabou indo para pagamento de dívidas.
'O fato de esse estímulo ter gerado apenas uma resposta moderada mostra que a economia vem perdendo tração, especialmente no consumo das famílias, onde o efeito defasado de uma política monetária significativamente mais apertada já aparece com mais clareza', ressaltou Leonardo Costa, economista do ASA.
O consumo do governo voltou a aumentar 1,3% no terceiro trimestre, mesma taxa do primeiro e após estagnação de abril a junho.
A Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, também voltou ao azul no terceiro trimestre, com expansão de 0,9% e deixando para trás a retração de 1,5% do período anterior, mas bem abaixo do crescimento de 2,3% nos três primeiros meses do ano.
No setor externo, as exportações de bens e serviços dispararam 3,3% no terceiro trimestre, de 1,0% no segundo, enquanto as importações subiram 0,3%, de queda de 2,4% antes.
O período foi marcado ainda pelas incertezas em torno do tarifaço adotado pelos Estados Unidos contra o Brasil, que entrou em vigor no início de agosto, afetando uma série de produtos exportados aos mercado norte-americano.
'A gente viu que o impacto do tarifaço foi muito mais leve do que se esperava no começo. Teve efeito aqui e acolá, mas os próprios exportadores conseguiram redirecionar os produtos que ficaram mais caros para entrar no EUA', disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Segundo ela, entre os setores mais impactados estavam madeira e calçados, 'mas são setores de peso pequeno que não são capazes de virar a chave e mudar uma tendência'.
Em novembro, o presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu remover a tarifa de 40% de importação imposta sobre 238 produtos, incluindo carne bovina e café. Outras exportações brasileiras, no entanto, continuam sujeitas a uma taxa de 50%, e as negociações com o governo norte-americano seguem.
Reuters

