Foco se volta para possibilidade de corte da Selic em janeiro em economia com desempenho desigual
Foco se volta para possibilidade de corte da Selic em janeiro em economia com desempenho desigual
Reuters
04/12/2025
Por Camila Moreira
SÃO PAULO, 4 Dez (Reuters) - Os dados do terceiro trimestre divulgados nesta quinta-feira mostraram que a economia brasileira está crescendo de forma desigual e alimentaram apostas em um corte de juros no início do próximo ano, quando o cenário externo também deve ser fator de atenção.
Sob o efeito da política monetária altamente restritiva, com a taxa básica de juros Selic a 15%, o Produto Interno Bruto (PIB) teve avanço abaixo do esperado de 0,1% no terceiro trimestre.
'O PIB trouxe uma economia de lado. Tem desaceleração na economia total, mas essa desaceleração é vista em alguns setores e em outros não', destacou Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital. 'E é esse sinal misto que chama atenção. Isso trouxe dúvidas sobre em que grau a economia está desacelerando'.
Como exemplo, ela citou a aceleração do crescimento da indústria a 0,8% no período, com a construção, um setor que responde ao aperto da política monetária, expandindo 1,3% após retração nos dois primeiros trimestres do ano.
Do lado da demanda, os investimentos também avançaram, apesar do cenário contracionista, a uma taxa de 0,9% após terem caído 1,5% no segundo trimestre.
Por outro lado, puxaram para baixo os desempenhos fracos de serviços, sob a ótica da oferta, e do consumo das famílias, do lado da demanda, com crescimento de apenas 0,1% cada, mostrando os sinais do efeito da política monetária apertada.
Com ampla expectativa de que o Banco Central mantenha a Selic em 15% na reunião da próxima semana, o foco agora se volta para janeiro.
Após a divulgação do dado do PIB, a curva a termo precificava nesta manhã 84% de probabilidade de corte de 25 pontos-base da Selic na primeira reunião de política monetária do próximo ano. No fechamento de quarta-feira, este percentual estava em 78%.
Tanto a Galapagos Capital quanto o Inter projetam corte dos juros em janeiro -- 0,50 ponto percentual segundo o primeiro e 0,25 ponto para o segundo. Mas mesmo com a perspectiva de continuidade dos cortes da Selic ao longo do ano, a tendência de desaceleração econômica não deve mudar tão cedo.
'Mesmo com cortes ano que vem, a gente vê a política monetária desacelerando a economia, mas de forma comedida, sem gerar desaceleração brusca, mas buscando equilíbrio enquanto a inflação vem perdendo força', disse André Valério, economista sênior do Inter.
Já Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, projeta o início do ciclo de afrouxamento monetário apenas em março, com corte de 0,25 ponto, vendo maior cautela por parte do BC.
'A economia está desacelerando de maneira desigual, e o BC vai esperar mais informações, esperar essa desaceleração se espalhar mais', disse ele. 'Mas o que veremos em 2026 ainda é efeito da taxa de juros muito elevada chegando na economia.'
Ele destaca que o cenário internacional também deve ser levado em conta, tanto o estado da atividade econômica global, com desaceleração na Europa e Ásia, quanto a discussão sobre inflação e juros nos Estados Unidos.
O Federal Reserve volta a se reunir na próxima semana para deliberar sobre a política monetária norte-americana, e a expectativa é de novo corte nos juros após uma série de dados que mostraram que o emprego no país está desacelerando.
Padovani cita ainda o excesso de otimismo nos mercados acionários, 'com preocupação sobre se isso pode ter correção, afetar o crescimento nos EUA e diminuir a riqueza', e a eleição presidencial no Brasil em 2026, que deve ser de difícil antecipação.
'Se há dificuldades em entender o estado da economia global, a dinâmica dos mercados acionários dos EUA e o cenário eleitoral, os mercados ficam presos aos dados de curto prazo. A história de 2026 deve ser de volatilidade financeira, e mesmo que o BC comece a cortar os juros, essa instabilidade atrapalha os investimentos', disse ele.
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