Futebol espanhol admite problema de racismo após ofensas a Vinícius Jr.
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MADRI (Reuters) - O futebol espanhol tem um problema de racismo, afirmou o chefe da federação de futebol do país, Luis Rubiales, nesta segunda-feira, depois que o Real Madrid apresentou uma queixa criminal por insultos de torcedores contra o atacante brasileiro Vinícius Jr. no fim de semana.
A liga espanhoal (LaLiga) está sob pressão para fazer mais para combater o racismo depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Fifa e diversas estrelas do esporte, como o atacante francês Kylian Mbappé e o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton, expressaram apoio ao jogador do Real Madrid e da seleção brasileira.
Em publicação nas redes sociais, Vinícius Jr. chamou o abuso racista de 'inumano' e pediu a patrocinadores e emissoras que responsabilizem a liga espanhola.
'O que falta para criminalizarem essas pessoas? E punirem esportivamente os clubes? Por que os patrocinadores não cobram a La Liga? As televisões não se incomodam de transmitir essa bárbarie a cada fim de semana?', escreveu Vinícius.
A declaração veio um dia após a partida do Real Madrid contra o Valencia no estádio Mestalla ser interrompida por dez minutos depois que o atacante brasileiro de 22 anos apontou torcedores que teriam feito insultos racistas contra ele.
'O problema é gravíssimo e comunicados não funcionam mais. Me culpar para justificar atos criminosos também não', acrescentou o jogador.
Vinícius Jr., o vice-artilheiro do Real Madrid nesta temporada (23 gols), atrás de Karim Benzema (29), já havia descrito a Espanha como um 'país de racistas' após a partida contra o Valencia no domingo.
Isso provocou uma resposta do presidente da LaLiga, Javier Tebas, que escreveu no Twitter que a liga está fazendo o suficiente e que Vinícius deveria se informar 'antes de criticar e caluniar a LaLiga'.
'A primeira coisa é reconhecer que temos um problema em nosso país', disse Rubiales em entrevista coletiva em Madri nesta segunda-feira. É 'um problema sério que mancha também toda uma equipe, toda uma torcida, todo um clube, todo um país'.
O governo brasileiro convocou nesta segunda-feira a embaixadora espanhola para explicar o incidente, e o Ministério das Relações Exteriores da Espanha disse em comunicado que, após 'mais um episódio inadmissível', concluiu que medidas efetivas não foram tomadas pelas autoridades espanholas para prevenir tais atos de racismo.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse no Twitter que há 'tolerância zero para o racismo no futebol'.
'O esporte é baseado nos valores de tolerância e respeito. O ódio e a xenofobia não devem ter lugar em nosso futebol e em nossa sociedade', acrescentou Sánchez.
O Conselho de Esportes da Espanha disse anteriormente em um comunicado que estudará as imagens do jogo para identificar os autores do crime.
Vídeos publicados nas redes sociais e verificados pela Reuters mostraram centenas de torcedores do Valencia cantando 'Vinícius é um macaco' enquanto o ônibus do Real Madrid chegava ao estádio antes da partida.
'Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas', escreveu Vinícius Jr. no Twitter.
Rubiales criticou os comentários de Tebas, descrevendo-os como 'comportamento irresponsável'.
'Provavelmente Vinícius está mais certo do que pensamos e todos nós precisamos fazer mais sobre o racismo', disse Rubiales.
O Real Madrid informou nesta segunda-feira que apresentou uma queixa por crime de ódio após o incidente. É o 10º episódio de suposto racismo contra Vinícius relatado aos promotores nesta temporada, segundo a LaLiga.
O Valencia disse em comunicado que identificou um torcedor e está trabalhando com a polícia para confirmar a identidade de outros. Eles disseram que aplicarão uma punição que pode incluir a proibição vitalícia no estádio para os envolvidos.
(Reportagem de Fernando Kallas, Emma Pinedo e David Latona)
Escrito por Reuters
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