Habitantes de Gaza pagam US$2 mil por assento em voo para África do Sul
Habitantes de Gaza pagam US$2 mil por assento em voo para África do Sul
Reuters
17/11/2025
Por Nidal al-Mughrabi e Tim Cocks e Nellie Peyton
CAIRO (Reuters) - Palestinos de Gaza disseram que pagaram US$2.000 por assento para levar suas famílias para a África do Sul em uma viagem organizada por um grupo que oferece uma maneira de sair do enclave devastado, no que a África do Sul alegou nesta segunda-feira parecer parte de uma tentativa de remover palestinos do local.
Dois habitantes de Gaza entrevistados pela Reuters disseram que estavam entre os 130 palestinos que receberam permissão para entrar na África do Sul após serem levados de ônibus de Gaza e terem voado de um aeroporto israelense na semana passada, chegando a Joanesburgo na quinta-feira, depois de uma parada em Nairóbi.
O ministro das Relações Exteriores da África do Sul, Ronald Lamola, cujo governo tem apoiado as aspirações nacionais palestinas e acusou Israel de genocídio na guerra de Gaza, disse nesta segunda-feira que autoridades sul-africanas investigam o que ele chamou de circunstâncias suspeitas da chegada do avião.
'Parece que isso representa uma agenda mais ampla para remover os palestinos da Palestina', disse ele em uma coletiva de imprensa.
Israel rejeitou as acusações de genocídio em Gaza, acusando-as de terem motivação política, e afirma que sua campanha militar teve como alvo o Hamas, e não a população civil de Gaza.
Questionado sobre os comentários de Lamola, um porta-voz do governo israelense disse que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu 'deixou claro que se os palestinos quiserem sair, eles devem ter permissão para sair da Faixa de Gaza'.
'E se eles quiserem voltar para a Faixa de Gaza, também devem ter permissão para voltar', acrescentou.
O porta-voz não abordou diretamente a questão de como o grupo de palestinos foi parar na África do Sul.
O COGAT, braço das Forças Armadas israelenses que supervisiona assuntos civis em Gaza, disse que os habitantes de Gaza partiram depois de receberem a aprovação de um terceiro país, não nomeado, para recebê-los, e que eles tinham vistos válidos. O pedido de partida incluía 'documentos confirmando a autorização para aterrissar na África do Sul', disse.
Lamola disse que 'nesta fase, a informação que temos é que eles não tinham as aprovações e permissões necessárias', acrescentando que o assunto está sendo investigado.
Em maio, a Reuters informou que Israel havia diminuído as restrições à saída de palestinos de Gaza e que cerca de 1.000 deles haviam deixado o enclave de ônibus para embarcar em voos para a Europa e outros lugares. As partidas exigiam uma solicitação a Israel por parte de um governo estrangeiro, informou a Reuters na época.
Os dois palestinos contaram que viram anúncios online publicados por uma organização chamada Al-Majd Europe oferecendo a chance de deixar Gaza e se candidataram há cerca de seis meses. A oferta estava aberta apenas a famílias e exigia que os candidatos tivessem um passaporte.
A Reuters enviou um email para endereço no site da Al-Majd Europe, mas não obteve resposta imediata. Não havia número de telefone.
Os dois palestinos acabaram recebendo mensagens da Al-Majd Europe via WhatsApp informando que a autorização de segurança havia sido concedida. Eles saíram de Gaza de ônibus e passaram pela passagem Kerem Shalom, controlada por Israel, antes de serem levados de avião para o aeroporto de Ramon. Eles chegaram à África do Sul em 13 de novembro.
'Sou um paciente com câncer de linfoma. Quanto tempo eu teria que esperar para ser evacuado... Tive que sair para fazer um tratamento e dar uma vida melhor à minha família', disse à Reuters Ramzi Abu Youssef, de 42 anos, por telefone, de Joanesburgo.
Abu Youssef partiu com esposa e três filhos, de 8, 10 e 12 anos, e disse que duas de suas filhas foram mortas em um ataque israelense em junho de 2024 durante uma incursão no campo de Nuseirat, onde sua casa foi destruída.
O segundo palestino, que pediu para permanecer anônimo devido a preocupações com sua segurança e por incomodar seus novos anfitriões, disse que sua família decidiu, com relutância, deixar Gaza após sofrer com meses de bombardeio e ser forçada a deixar sua casa em Deir al-Balah várias vezes. Aos 35 anos, ele partiu com a esposa e dois filhos, um menino de 4 anos e uma menina de 2.
Suas partidas destacam as condições sombrias em Gaza, mais de um mês desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um cessar-fogo na guerra que devastou grande parte do enclave.
A mais recente guerra de Gaza começou em 7 de outubro de 2023, quando militantes liderados pelo Hamas invadiram o sul de Israel, sequestrando 251 pessoas e matando outras 1.200, de acordo com registros israelenses.
Mais de 69.000 palestinos foram mortos na ofensiva lançada por Israel em resposta, segundo autoridades de saúde em Gaza.
Os palestinos chegaram ao aeroporto de Johanesburgo em um voo fretado da Global Airways, vindo do Quênia. Autoridades de fronteira disseram que eles não tinham carimbos de partida, passagens de volta ou detalhes de acomodação.
Abu Youssef disse que o grupo recebeu vistos de 90 dias e que alguns estão hospedados em albergues, enquanto outros, incluindo ele próprio, estão sendo acolhidos por membros da comunidade muçulmana em Joanesburgo.
Vinte e três pessoas no voo partiram para outros destinos.
(Reportagem adicional de Steve Scheer e Alexander Cornwell em Jerusalém e reportagem de Nidal al-Mughrabi)
Reuters

