Montezano quer BNDES como assessor financeiro, descarta financiamento a privatizações
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Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) quer se firmar como assessor financeiro do governo em privatizações, venda de ativos imobiliários e concessões, passando a ganhar não com empréstimos, mas com a comissão sobre esses serviços, ressaltou o novo presidente do banco, Gustavo Montezano.
Em sua primeira entrevista à imprensa, Montezano disse nesta terça-feira acreditar não ser necessária a participação do BNDES para financiar a compra de empresas do governo que forem privatizadas. Montezano ponderou, no entanto, que a participação do banco pode ser necessária em concessões de serviços públicos como saneamento e infraestrutura.
'O Estado brasileiro hoje é totalmente desestruturado em seus ativos, tem um monte de empresa estatal desnecessária, tem ativos mal geridos...Tem um mar de oportunidades de ativos que um assessor financeiro, um bom gestor de estruturação financeira pode agregar muito valor para o governo em todos os níveis -- federal, estadual e municipal', disse o novo presidente do BNDES.
Em relação às participações já detidas pelo banco em empresas listadas em bolsa, Montezano sublinhou que a meta será vender boa parte dessas ações com o objetivo de colocar esses recursos em atividades que gerem mais retorno social.
Mas ele ressaltou que não há prazo para esse processo de desinvestimento, embora a intenção seja de acelerá-lo.
'Não estou afirmando que nós vamos desinvestir os 100 bilhões de reais, estou afirmando que nós vamos acelerar a venda dessa carteira e a carteira total remonta a 110 bilhões de reais, aproximadamente', afirmou.
'Quanto desse total a gente ainda vai vender, ainda não temos uma diretriz clara', acrescentou ele, destacando que não há, por ora, conclusão sobre fechar ou não a BNDESPar, braço de participações do banco.
Dentre as empresas nas quais a BNDESPar tem grandes investimentos, estão Petrobras, Vale, Suzano, Eletrobras, AES Tietê, Klabin, Embraer, JBS e Copel.
Segundo o novo presidente do BNDES, só fará sentido manter na carteira o que trouxer impacto positivo 'na vida das pessoas'. Por isso, há sim possibilidade do banco comprar novas ações, desde que exista racional de ganho para a sociedade e 'não só ganho especulativo'.
DEVOLUÇÃO AO TESOURO
Montezano se comprometeu ainda a completar neste ano a devolução dos 126 bilhões de reais já prometidos ao Tesouro, por empréstimos que o banco recebeu de governos petistas para sustentar seus programas. Após o pagamento de 40 bilhões de reais feito no primeiro semestre, ainda restam 86 bilhões de reais, frisou.
Concluída essa etapa em 2019, o banco ainda deverá 144 bilhões de reais à União. A ideia, de acordo com Montezano, é devolver todos esses recursos até o fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro.
Durante a coletiva, ele enfatizou que a meta número 1 do banco será jogar luz sobre a crença na existência de uma suposta 'caixa preta' do BNDES que, na sua visão, faz com que uma 'nuvem negra' siga pairando sobre o banco, dificultando o desenvolvimento de qualquer estratégia.
Montezano admitiu, por outro lado, que não tem opinião sobre o assunto, após administrações anteriores já terem implementado medidas de abertura de dados do BNDES sobre os empréstimos concedidos pelo banco.
'Para deixar claro: não tenho opinião formada sobre o tema da caixa preta ainda. Estou vindo aqui com cabeça extremamenete aberta e limpa sobre o conteúdo das informações que estão lá. O que eu estou pedindo, o que eu estou colocando como objetivo é um prazo de dois meses para formar minha opinião a respeito do tema', afirmou.
O Ministério da Economia anunciou a nomeação de Montezano para a presidência do BNDES em junho. Até então ele era secretário-adjunto de desestatização da pasta.
Montezano foi o sócio-diretor do BTG Pactual responsável pela divisão de crédito corporativo e estruturados, baseado em São Paulo. Ele iniciou a carreira como analista de private equity no Opportunity, no Rio de Janeiro, e é mestre em Economia pela Faculdade de Economia e Finanças (IBMEC-RJ) e graduado em Engenharia pelo Instituto Militar de Engenharia (IME-RJ).
A escolha de Montezano veio depois de um imbróglio em que o ex-presidente do BNDES Joaquim Levy pediu para deixar a presidência do banco após o presidente Jair Bolsonaro ameaçar publicamente demiti-lo se ele não afastasse um executivo do banco de fomento.
Escrito por Reuters
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