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PF prende dono do Master por suspeita de fraude de R$12 bi; BC decreta liquidação do banco

PF prende dono do Master por suspeita de fraude de R$12 bi; BC decreta liquidação do banco

Reuters

18/11/2025

Placeholder - loading - Segurança do lado de fora do Banco Master, após a prisão do acionista controlador do banco, Daniel Vorcaro, em São Paulo 18 de novembro de 2025 REUTERS/ Amanda Perobelli
Segurança do lado de fora do Banco Master, após a prisão do acionista controlador do banco, Daniel Vorcaro, em São Paulo 18 de novembro de 2025 REUTERS/ Amanda Perobelli

Atualizada em  18/11/2025

Por Ricardo Brito e Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) -A Polícia Federal prendeu o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, no âmbito de uma operação para investigar crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (SFN), disseram duas fontes com conhecimento do assunto nesta terça-feira, mesmo dia em que o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial da instituição financeira por 'graves violações' às normas que regem o SFN e problemas de liquidez.

Além da prisão de Vorcaro, que foi detido no aeroporto antes de embarcar para uma viagem internacional, a Justiça também determinou o afastamento do presidente do banco estatal de Brasília BRB, Paulo Henrique Costa, por 60 dias, como parte da operação Compliance Zero. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), disse que Celso Eloi foi nomeado presidente interino do banco.

A PF, como de praxe, não identificou oficialmente os alvos da operação, mas alguns nomes foram informados à Reuters por fontes com conhecimento do assunto.

Segundo balanço da corporação, foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva e dois de prisão temporária. Também foi determinado o bloqueio de R$12,2 bilhões e foram apreendidos R$1,6 milhão em espécie, além de diversos carros de luxo, obras de arte e relógios. Segundo a PF, os mandados seriam cumpridos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal.

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, disse que a fraude investigada chega à casa dos R$12 bilhões. 'Sei que já em dinheiro apreendemos na residência de um investigado R$1,6 milhão nessa operação de hoje', disse Rodrigues em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito do Crime Organizado no Senado.

'Nós estamos fazendo uma operação importante, numa integração inclusive junto com Banco Central, com o Coaf, atuando em conjunto para um crime contra o sistema financeiro', acrescentou Rodrigues, sem identificar os alvos da operação.

Na operação deflagrada nesta terça, a PF disse que visa combater a emissão de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que integram o Sistema Financeiro Nacional.

'As investigações tiveram início em 2024, após requisição do Ministério Público Federal, para investigar a possível fabricação de carteiras de crédito insubsistentes por uma instituição financeira. Tais títulos teriam sido vendidos a outro banco e, após fiscalização do Banco Central, substituídos por outros ativos sem avaliação técnica adequada', disse a PF em nota.

'Estão sendo investigados os crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa, entre outros', acrescentou a corporação em nota.

Em setembro, o Banco Central bloqueou a aquisição planejada do Master pelo BRB, após meses avaliando se o BRB tinha capacidade suficiente para sustentar a nova estrutura de capital.

Antes mesmo da tentativa de compra do Master, o BRB vinha comprando, desde 2024, parte da carteira de crédito do Master e, segundo uma das fontes, é a investigação sobre essas operações que gerou a operação desta terça.

O advogado Roberto Podval, que representa Vorcaro, questionou a necessidade da prisão do cliente e disse que vai ingressar com pedido de liberdade junto à Justiça. “Se liquidaram o banco e congelaram operações, qual é o sentido da prisão?', disse ele em entrevista à Reuters.

Segundo o advogado, Vorcaro estava no aeroporto porque viajaria a Dubai para negociar a venda do banco. Ele negou que o executivo tivesse qualquer intenção de fugir.

Procurado, o Master não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, enquanto o BRB confirmou o afastamento temporário de seu presidente em nota, na qual afirmou que segue operando normalmente e disse que sempre atuou em conformidade com as normas de compliance e transparência.

'GRAVES VIOLAÇÕES'

Em nota, o Banco Central disse que o Master detém 0,57% do ativo total e 0,55% das captações totais do SFN. Disse ainda que a decisão de decretar liquidação extrajudicial do banco 'foi motivada pela grave crise de liquidez do conglomerado Master e pelo comprometimento significativo da sua situação econômico-financeira, bem como por graves violações às normas que regem a atividade das instituições integrantes do SFN'.

'O Banco Central continuará tomando todas as medidas cabíveis para apurar as responsabilidades nos termos de suas competências legais', disse a autarquia.

'Nos termos da lei, ficam indisponíveis, a partir de hoje, os bens dos controladores e dos ex-administradores das instituições objeto dos regimes especiais decretados.'

Com a liquidação extrajudicial do Master decretada pelo BC, as operações do banco ficam suspensas enquanto o órgão regulador nomeia um liquidante para avaliar os créditos dos credores e vender os ativos da instituição financeira.

A decisão foi tomada poucas horas depois que um consórcio liderado pelo grupo de investimento Fictor, com investidores não identificados dos Emirados Árabes Unidos, anunciou que havia concordado em comprar o Master.

Após a liquidação decretada pelo BC, a Fictor informou que o consórcio suspendeu a proposta para compra do Master.

Com a instituição financeira agora em liquidação, um administrador nomeado pelo Banco Central assumirá a gestão e elaborará uma lista detalhada dos detentores de dívidas do banco. Assim que esse processo for concluído, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) reembolsará os investidores até o limite segurado, que é de R$250 mil por investidor.

Em comunicado, o FGC, cuja principal fonte de recursos são as contribuições periódicas das instituições financeiras associadas, disse que o pagamento da garantia será feito após o envio da base pelo liquidante indicado pelo Banco Central.

Segundo o FGC, o Master tem uma base estimada em 1,6 milhão de credores, com o pagamento de garantias estimado em R$41 bilhões. O fundo acrescentou que possuía um patrimônio de R$160 bilhões, dos quais R$122 bilhões correspondiam a recursos líquidos em caixa, para o exercício de sua atividade, conforme dados do fechamento de setembro.

O diretor executivo do FGC, Daniel Lima, disse que a 'esmagadora maioria' dos investidores brasileiros estão abaixo dos R$250 mil, e que 30 dias é o prazo médio para início de pagamento dessas pessoas.

'É um país em que as pessoas não têm tanto dinheiro assim. Por isso que eu acho que a cobertura de R$250 mil é até generosa, em certo sentido', disse ele em entrevista à Reuters.

O Master registrou um rápido crescimento nos últimos anos com uma estratégia agressiva de financiamento baseada em dívidas de alto rendimento vendidas por meio de plataformas de investimento. Esses títulos foram comercializados como sendo cobertos pelo FGC.

Enfrentando pressões de liquidez, o Master precisava de capital novo para cumprir os vencimentos futuros desses instrumentos.

(Reportagem adicional de Michael Susin, em Barcelona; Luciana Magalhães, no Rio de Janeiro, e Isabel Teles, em São Paulo; Edição de Eduardo Simões e Pedro Fonseca)

Reuters

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