Multilateralismo funciona mesmo quando EUA e setor de combustíveis fósseis se opõem à ação, diz Guterres
Multilateralismo funciona mesmo quando EUA e setor de combustíveis fósseis se opõem à ação, diz Guterres
Reuters
03/12/2025
Atualizada em 03/12/2025
Por Valerie Volcovici
3 Dez (Reuters) - O resultado final da cúpula climática COP30, realizada no Brasil no mês passado, foi 'decepcionante', mas mostrou que o multilateralismo ainda funciona na ausência dos Estados Unidos e em meio a tensões geopolíticas, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, na conferência Reuters Next, em Nova York, nesta quarta-feira.
'Tenho sentimentos contraditórios em relação à COP', afirmou Guterres sobre as negociações climáticas anuais da ONU que ocorreram em Belém.
'Por um lado, acho que é notável que, com os Estados Unidos fazendo campanha contra e a indústria de combustíveis fósseis claramente determinada a garantir que as coisas não avançassem... com todos esses movimentos contra, foi possível chegar a um acordo e isso mostra que o multilateralismo funciona', disse ele.
PREOCUPADO COM POSSIBILIDADE DE NÃO ATINGIR META DE TEMPERATURA
A presidência brasileira da COP30 conseguiu aprovar um acordo climático de compromisso após mais de duas semanas de negociações, que aumentaria o financiamento para países pobres que enfrentam o aquecimento global. Ainda assim, o texto omitiu qualquer menção aos combustíveis fósseis que o impulsionam, o que, segundo críticos, mostrou que o mundo estava retrocedendo em relação ao consenso anterior de que deveria reduzir gradualmente seu uso.
Vários países se opuseram ao fato de a cúpula ter terminado sem planos mais sólidos para controlar os gases de efeito estufa ou tratar dos combustíveis fósseis.
'O que mais me preocupa é que, no momento, estamos em uma situação em que a comunidade científica já é unânime em reconhecer que vamos ultrapassar 1,5°C', disse ele, referindo-se ao limite de temperatura que os governos mundiais estabeleceram em um acordo climático histórico de 2015 em Paris.
'Essa superação significa que todas essas coisas que estamos testemunhando se tornarão mais frequentes e mais dramáticas', disse ele, referindo-se a tempestades e inundações devastadoras, acrescentando que os países precisam se esforçar para limitar as emissões de gases de efeito estufa agora e realizar uma redução drástica nos próximos anos.
CHINA ESTÁ SE PREPARANDO
Guterres disse que o descompromisso dos EUA com a ação climática deixou a porta aberta para a China, que domina o mercado global de energia renovável e veículos elétricos.
Ele disse que a China estabeleceu uma meta climática baixa este ano, comprometendo-se a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em apenas 10% em relação a um pico não especificado, mas ele espera que o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo supere sua meta.
'Uma aceleração da redução das emissões é essencial na China, do ponto de vista do mundo, porque ela representa 30% das emissões (globais)', disse ele.
Ele pediu aos países desenvolvidos que aumentem seus investimentos na próxima geração de tecnologias limpas, além da solar e da eólica, como o hidrogênio verde, para ultrapassar a China.
'O hidrogênio verde é provavelmente uma aposta importante que os países ocidentais deveriam fazer para obter vantagem na próxima disputa de mercado', disse ele.
Reuters

