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Retórica de Trump contra somalis recebe aplausos do governo, silêncio de republicanos e alarme de críticos

Retórica de Trump contra somalis recebe aplausos do governo, silêncio de republicanos e alarme de críticos

Reuters

04/12/2025

Placeholder - loading - Homem caminha pelo bairro de Cedar-Riverside, polo de residentes somali-americanos, em meio a relatos de uma operação federal planejada visando imigrantes, em Minneapolis, Minnesota 02/12/2025 REUTERS
Homem caminha pelo bairro de Cedar-Riverside, polo de residentes somali-americanos, em meio a relatos de uma operação federal planejada visando imigrantes, em Minneapolis, Minnesota 02/12/2025 REUTERS

Atualizada em  04/12/2025

Por Bianca Flowers e James Oliphant e David Hood-Nuño e Joseph Ax

WASHINGTON, 4 Dez (Reuters) - Durante uma reunião a portas fechadas na Casa Branca, em seu primeiro mandato, o presidente Donald Trump exigiu saber por que os EUA estavam aceitando imigrantes de 'países de merda' como o Haiti e algumas nações africanas, em declarações amplamente divulgadas na época pela Reuters e por outros veículos de comunicação.

A indignação foi imediata. Parlamentares, incluindo alguns republicanos, condenaram a linguagem como ofensiva. Até mesmo Trump tentou minimizar os danos, negando em uma publicação nas redes sociais que tivesse usado aquelas palavras.

Na terça-feira, durante uma reunião de gabinete televisionada, Trump reagiu a relatos de fraude governamental em comunidades da grande população somali de Minnesota, chamando os imigrantes de 'lixo' e dizendo que queria que eles fossem enviados 'de volta para o lugar de onde vieram'.

Desta vez, os membros republicanos do Congresso permaneceram em silêncio. O vice-presidente JD Vance bateu na mesa em sinal de concordância, enquanto a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, classificou as declarações de Trump como 'incríveis' e um 'momento épico'.

A resposta evidenciou como as opiniões raciais de Trump deixaram de ser vistas como inaceitáveis por alguns de seus aliados e apoiadores. Defensores dos direitos civis e pesquisadores afirmam que seus comentários se tornaram cada vez mais ousados, normalizados e politicamente aceitáveis.

'O racismo deixou de ser um discurso velado nos Estados Unidos. Estamos desumanizando e atacando pessoas', disse LaTosha Brown, cofundadora do Black Voters Matter Fund, um grupo que luta por um melhor acesso ao voto para comunidades marginalizadas e predominantemente negras.

A porta-voz da Casa Branca, Abigail Jackson, afirmou em comunicado que o presidente Trump está certo em destacar os problemas causados por 'migrantes somalis radicais'.

'Enquanto a mídia finge indignação, os americanos que sofreram nas mãos desses esquemas celebrarão os comentários do presidente e o forte apoio aos cidadãos americanos', disse Jackson.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou esta semana que estão sendo investigadas alegações de que o dinheiro dos impostos do Estado de Minnesota foi desviado para o grupo militante Al-Shabaab, na Somália.

Trump tem um longo histórico de retórica racista, particularmente contra imigrantes não brancos. Ele se projetou na política nacional ao disseminar a falsa teoria da conspiração de que o presidente Barack Obama, um democrata, não havia nascido nos Estados Unidos.

Os críticos afirmam que, como presidente, Trump implementou políticas que refletem sua retórica, particularmente sua repressão à imigração.

Na quarta-feira, ele reiterou seus comentários, dizendo a repórteres no Salão Oval que a Somália 'é considerada por muitos o pior país do mundo' e acusando os imigrantes somalis de terem 'destruído o país'.

Jeanne Shaheen, a principal democrata na Comissão de Relações Exteriores do Senado, e vários outros democratas no Congresso classificaram os comentários como 'xenófobos e inaceitáveis'. Eles alertaram que grupos militantes como o Estado Islâmico poderiam usá-los para incitar o sentimento anti-americano no exterior.

ESCALADA RETÓRICA

Alvin Tillery, professor de ciência política na Universidade Northwestern, afirmou que o uso que Trump faz da tribuna presidencial como plataforma para comentários racistas é 'absolutamente único' na era moderna.

Segundo ele, Trump vai além da retórica dos ex-presidentes republicanos Richard Nixon e Ronald Reagan, que frequentemente foram criticados por fazerem o que muitos consideravam apelos raciais velados.

'Eles nunca chegaram nem perto desse tipo de retórica odiosa direcionada a comunidades de cor ou grupos minoritários', disse Tillery. 'É muito perigoso.'

Em muitos aspectos, as políticas de imigração de Trump refletem suas declarações políticas. Ele bloqueou praticamente todos os novos refugiados, com exceção dos sul-africanos brancos, que ele alega falsamente serem alvos de um 'genocídio branco'.

Agentes federais mascarados têm empregado táticas agressivas em operações de imigração em todo o país e têm sido criticados por deter pessoas que simplesmente têm aparência latina ou falam espanhol.

Nos últimos dias, Trump intensificou sua retórica e suas restrições à imigração, após o ataque a tiros contra dois soldados da Guarda Nacional em Washington, D.C. O suspeito, um cidadão afegão que veio para os EUA por meio de um programa para afegãos que ajudaram as forças norte-americanas durante a guerra em seu país, declarou-se inocente das acusações de assassinato e outros crimes.

Em resposta, a Casa Branca anunciou a suspensão dos pedidos de imigração de 19 países não europeus.

A imigração continua sendo um dos temas mais fortes de Trump, embora as pesquisas da Reuters/Ipsos mostrem que seu índice de aprovação sobre o assunto caiu de +7 em janeiro para -10 em meados de novembro. Mesmo assim, analistas dizem que isso lhe dá poder de barganha em um momento em que o apoio mais amplo às suas políticas está diminuindo.

'É fácil culpar os imigrantes e dizer que eles são a razão de todos esses problemas', disse Melik Abdul, estrategista republicano e comentarista político que apoia Trump.

RETÓRICA RACISTA

Historiadores afirmam que pessoas de cor correm riscos quando autoridades usam retórica racista. Em outubro, conversas vazadas de grupos políticos expuseram discursos racistas, antissemitas e violentos entre jovens líderes republicanos, alimentando preocupações de que o discurso de ódio tenha se normalizado na política norte-americana.

Os comentários de Trump na terça-feira alarmaram a considerável comunidade somali-americana em Minnesota, em meio a notícias sobre possíveis operações federais de imigração no Estado. Havia 76 mil pessoas de ascendência somali vivendo em Minnesota em 2024, segundo o Censo -- mais da metade delas havia nascido nos Estados Unidos.

Jaylani Hussein, diretor executivo do Conselho de Relações Americano-Islâmicas em Minnesota, disse à Reuters que muitos membros da comunidade -- incluindo alguns que votaram em Trump no ano passado -- agora temem por sua segurança, muito além das preocupações com a aplicação das leis de imigração.

No ano passado, depois que Trump sugeriu, durante um debate presidencial televisionado em rede nacional, que imigrantes haitianos em Springfield, Ohio, estavam comendo animais de estimação, as ameaças àquela comunidade aumentaram drasticamente, empresas fecharam e muitos residentes legais haitianos deixaram a cidade.

Trump também atacou a representante do Minnesota, Ilhan Omar, que chegou aos EUA como refugiada somali quando criança e é cidadã naturalizada. Ele a chamou de 'lixo' na terça-feira e disse na quarta-feira que 'ela deveria ser expulsa do nosso país'.

'O presidente sempre fez comentários muito preconceituosos, xenófobos e islamofóbicos quando se trata de pessoas de fé muçulmana ou pessoas negras', disse Omar à Reuters na quarta-feira. 'Já o vimos chamar nações africanas de 'países de merda', então não é realmente surpreendente.'

(Reportagem de Bianca Flowers, James Oliphant e David Hood-Nuno; reportagem adicional de JC Whittington e Andy Sullivan; texto de Joseph Ax)

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