ANÁLISE-Em Brasília, como em Belém, Marina Silva batalha para formar alianças pela preservação ambiental
ANÁLISE-Em Brasília, como em Belém, Marina Silva batalha para formar alianças pela preservação ambiental
Reuters
26/11/2025
Por Manuela Andreoni
BELÉM (Reuters) - A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, tentou conter as lágrimas enquanto os diplomatas do mundo todo a aplaudiam por vários minutos no sábado, na plenária de encerramento da cúpula global sobre o clima, COP30, em Belém.
'Progredimos, ainda que modestamente', disse ela aos delegados reunidos sob o calor amazônico, antes de erguer um punho de forma desafiadora. 'A coragem para enfrentar a crise climática é resultado da persistência e esforço coletivos.'
Foi um momento de catarse para os anfitriões brasileiros em uma reunião tensa, onde várias nações expressaram sua frustração com um acordo que não mencionou os combustíveis fósseis -- embora tenham aplaudido mais recursos para as nações em desenvolvimento se adaptarem às mudanças climáticas.
Apesar do resultado agridoce, a COP30 coroou anos de trabalho de Marina e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para restaurar a liderança do Brasil na política climática global, prejudicada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, antecessor de Lula, que negava a ciência climática.
De volta a Brasília, uma realidade política mais dura se aproxima. O Congresso tem pressionado para desmantelar grande parte do sistema de licenciamento ambiental do país. O crime organizado cresce na Amazônia, e desmatadores continuam a encontrar novas maneiras de se infiltrar na floresta e frustrar quem defende a floresta em pé.
As novas ameaças aos vastos ecossistemas do Brasil forçam Lula e Marina a travarem inúmeras batalhas para defender a maior floresta tropical do mundo.
Cientistas e especialistas em políticas públicas alertam que é necessário agir para desencorajar o desmatamento antes que as mudanças climáticas transformem a Amazônia em um barril de pólvora.
Mas as tensões só têm aumentado entre o Congresso, predominantemente conservador, e Lula antes das eleições do ano que vem. A preocupação de ambientalistas se agrava, já que anos eleitorais são historicamente desastrosos para a floresta, diante da expectativa de mudanças no governo.
Ainda assim, Marina insiste que o Brasil pode cumprir sua promessa de reduzir o desmatamento a zero até 2030.
'Eu estou no olho do furacão, e eu tenho que sobreviver', disse ela à Reuters.
HISTÓRICO AMBÍGUO
Marina, nascida em 1958 no Estado amazônico do Acre, em uma família pobre de seringueiros, foi mais ícone pop do que ministra para muitos na COP30. Assim como Lula, ela superou a fome e o difícil acesso a escolas na infância para alcançar o reconhecimento global -- no seu caso, como ministra do Meio Ambiente de 2003 a 2008, por ter reduzido drasticamente a destruição da floresta onde nasceu.
Após mais de uma década de distanciamento do PT, Marina voltou a se reunir com Lula em 2022. Muitos ambientalistas consideram seu retorno a medida mais importante em termos de política ambiental no atual mandato de Lula, que tem apresentado sua agenda como uma 'transformação ecológica' da economia brasileira.
É um contraste gritante com o aumento do desmatamento durante o governo Bolsonaro, que incentivou a mineração e a pecuária na Amazônia.
Ainda assim, o histórico ambiental real de Lula tem sido ambíguo, disse Juliano Assunção, diretor executivo do think tank Climate Policy Institute no Brasil.
'O que a gente tem, às vezes, é um Ministério do Meio Ambiente que tem um comprometimento muito grande com essas pautas e que, em alguns momentos críticos, não tem conseguido contar com o apoio do governo federal da maneira como deveria', disse ele.
O governo Lula reduziu pela metade o desmatamento na Amazônia, facilitando a aplicação de multas aos desmatadores e restringindo seu acesso ao crédito público. Novas políticas incentivaram o reflorestamento e práticas agrícolas sustentáveis, como o rastreamento do gado.
Ainda assim, críticos dizem que o governo Lula não fez o suficiente para impedir o Congresso de minar leis de proteção ambiental e bloquear o reconhecimento de terras indígenas. Os parlamentares também atacaram um acordo do setor privado que protege a Amazônia do avanço da produção de soja.
Os críticos de Lula admitem que ele tem influência limitada.
Quando o Ibama demorou a licenciar a exploração de petróleo na costa amazônica, o Senado respondeu com a reformulação completa da legislação do licenciamento ambiental. Lula vetou grande parte do projeto de lei, mas os parlamentares prometeram restaurar pelo menos parte dele nesta semana.
Tensões semelhantes no último mandato de Lula levaram Marina a se demitir devido a divergências com outros ministros do governo. Desta vez, Lula tem sido rápido em defendê-la e vice-versa.
Em uma entrevista recente em seu escritório em Brasília, Marina sugeriu que Lula não mudou, mas sim que o aquecimento do planeta aumentou a urgência da política climática.
'Progressivamente a realidade mudou e as pessoas que se orientam por critérios da ciência, por bom senso, por ética, vão nessa progressividade', disse ela.
TEMPERATURAS MAIS ALTAS, MAIS ARMAS
O ano mais quente já registrado no planeta foi 2024, alimentando incêndios gigantescos na floresta amazônica que, pela primeira vez, destruíram mais árvores do que motosserras e escavadeiras.
Mas quem quer preservar a Amazônia no Brasil precisa lutar contra mais do que apenas um clima mais quente e um Congresso cético do problema.
O crime organizado cresceu na região depois de anos em que um orçamento restrito enxugou o número de fiscais federais disponíveis para combater a devastação, disse Jair Schmitt, que supervisiona a fiscalização no Ibama.
Os agentes do Ibama têm sido alvo mais frequentemente de tiroteios, acrescentou, o que sugere que há mais armas do que nunca na região.
'Você podia pegar outras armas, revólver, espingarda e tal, fuzil não era uma coisa fácil', disse ele.
Outro desafio: os desmatadores ilegais também se infiltraram nas cadeias de suprimentos da Amazônia que promovem sua sustentabilidade, de biocombustíveis a créditos de carbono, como a Reuters mostrou.
Para superá-los, o Brasil precisará fortalecer sua vontade política, disse Marcio Astrini, diretor do Observatório do Clima. Fora isso, ele acrescentou, 'nós temos todas as condições
de conseguir'.
Reuters

