IRB volta a afastar aumento de capital se negócios ficarem dentro da normalidade

SÃO PAULO (Reuters) - O presidente da empresa de resseguros IRB Brasil, Marcos Falcão, voltou a afastar nesta quinta-feira a possibilidade de um novo aumento de capital pela companhia, caso o curso de seus negócios se mantenha dentro da normalidade.

Em conferência com analistas, Falcão disse que a perspectiva de um retorno à lucratividade e uma maior disciplina na subscrição estão entre os fatores que devem ajudar o IRB a manter-se enquadrado em termos regulatórios.

'Vemos a companhia num 'hard market', com melhor resultado financeiro, com menos prêmio, olhando para frente com lucratividade. Com isso, não vemos nenhuma necessidade de aumento de capital', disse Falcão.

Ele disse que o IRB, fortemente impactado pela Covid-19 e pelas secas no Brasil que geraram quebra de safra, não prevê 'nenhuma catástrofe'.

'É isso mesmo, normalidade. Parece estranho, depois de algum período que tivemos bastante oscilação, podermos falar isso, mas é o que acreditamos, é o que orçamos para o ano e é o que pretendemos fazer', completou.

A empresa, que vive um período turbulento desde que enfrentou um escândalo de fraude revelado em 2020, divulgou na última madrugada uma redução no prejuízo líquido no quarto trimestre de 2022 para cerca de 40 milhões de reais, ante resultado negativo de 371 milhões um ano antes. Além disso, exibiu queda de quase 30 pontos percentuais no índice de sinistralidade total na mesma comparação.

Os números impulsionavam as ações na bolsa, com alta de 8,57%, a 21,4 a reais cada, no início da tarde desta quinta-feira, embora já tendo perdido algum ímpeto de mais cedo. O Ibovespa, índice do qual a companhia não faz parte, caía 0,2%.

Apesar do avanço das ações, analistas se mostraram preocupados com os índices regulatórios da companhia, em especial o índice de suficiência de cobertura de patrimônio líquido ajustado. O dado fechou o trimestre em 101%, sendo que o mínimo estipulado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) é 100%. O desenquadramento de indicadores regulatórios obrigou o IRB a um aumento de capital de 1,2 bilhão de reais em setembro de 2022.

Carlos André Guerra, diretor jurídico da companhia, disse aos analistas que as projeções do IRB Brasil sinalizam que os indicadores regulatórios do ressegurador ficarão dentro do enquadramento, sem dar detalhes temporais sobre a projeção.

Em dezembro, Falcão disse à Reuters que a empresa de resseguros não planejava fazer outro aumento de capital, mesmo depois de novos resultados negativos, e apostava em uma melhora de gestão e dos números operacionais para voltar ao azul em 2023.

Ele assumiu a companhia em novembro, e vem dando continuidade à redução da exposição internacional do IRB, tendo como objetivo terminar o ano com uma exposição de 80% no Brasil e 20% no resto do mundo. No final de 2020, as operações internacionais representavam 51% e no ano passado terminaram em 30%.

SECA E AMERICANAS

Questionado sobre eventos que marcaram o setor neste início de ano, Wilson Toneto, diretor técnico e de operações do IRB, afirmou que o impacto de secas na Argentina e no Sul não devem ser relevantes para a sinistralidade total da companhia. Segundo ele, o IRB tem pouca exposição à Argentina, enquanto o desempenho em outras regiões do país deve compensar resultados mais negativos no Sul.

'No conjunto, não esperamos impacto relevante dessa carteira do Sul nos nossos resultados além do que havíamos precificado', disse ele.

A companhia também não tem exposição significativa em segmentos que possam gerar impacto material das chuvas recordes vistas no litoral de São Paulo durante o Carnaval. 'Pode afetar carteira de automóvel e outras carteiras massificadas, mas no caso do resseguro ele é muito pequeno e reduzido nessas carteiras', observou.

O executivo ainda comentou o caso Americanas, varejista que entrou em recuperação judicial após revelar um rombo contábil de cerca de 20 bilhões de reais.

Ele disse que o IRB não tem exposição de risco de crédito à varejista, mas possui uma 'pequena exposição' a fianças locatícias e garantias financeiras, bem como uma carteira de garantias judiciais, 'essa um pouco maior, mas com uma exposição muito pulverizada'.

Em outros casos semelhantes de recuperação judicial, segundo ele, as garantias judiciais geraram pouco impacto nos sinistros. 'A história de outras empresas em recuperação judicial recentemente demonstrou para nós que o volume de perdas nessa carteira é diminuto, portanto, no conjunto, não prevemos grandes impactos para o IRB', afirmou Toneto.

(Por André Romani)