Lula diz que não se pode falar de juros no Brasil, como se um homem soubesse mais do que todos
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Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou nesta quinta-feira a criticar o atual patamar da taxa básica de juros, um dia após o Banco Central mantê-la em 13,75% ao ano, ao afirmar que não se pode tratar do assunto no Brasil, como se 'um homem sozinho' soubesse mais que todos os demais brasileiros.
Lula fez a referência velada ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, durante discurso na primeira reunião do recriado Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, conhecido como Conselhão, no qual disse que a função dos 246 membros do colegiado será a de ajudá-lo a governar o Brasil.
'Todo mundo aqui sabe que esse conselho pode discutir até taxa de juros, se quiser. É engraçado, é muito engraçado o que se pensa nesse país. Todo mundo aqui pode falar de tudo, só não pode falar de juros', disse Lula.
'Todo mundo tem que ter cuidado, ninguém fala de juros, como se um homem sozinho pudesse saber mais do que a cabeça de 215 milhões de pessoas', disparou.
Lula, que nesta quinta viaja para o Reino Unido onde participará no sábado da coroação do rei britânico Charles, disse que quando voltar de viagem terá uma reunião para lançar, ainda neste mês de maio, um programa de investimentos que, adiantou, contará com recursos públicos, ao mesmo tempo que buscará atrair dinheiro da iniciativa privada e de investidores estrangeiros.
Em seu discurso, Lula também lembrou que a nova versão do Conselhão ganhou a palavra 'sustentável' em seu nome oficial e disse que o compromisso de seu governo é de mostrar ao mundo que o Brasil não apenas falará sobre o combate às mudanças climáticas, mas também fará o necessário para preservar o meio ambiente e reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa.
O presidente exaltou ainda o diálogo como algo fundamental na democracia, assim como a diversidade entre membros do Conselhão, que reúne vários segmentos da sociedade, alguns deles de interesses antagônicos entre si, como empresários e sindicalistas e agronegócio e Movimento dos Sem-Terra, por exemplo.
Entre os ocupantes das 246 cadeiras do órgão, estarão nomes como o influenciador digital Felipe Neto, que tem 45 milhões de inscritos em seu canal no Youtube, e Nathália Rodrigues de Oliveira, conhecida como Nath Finanças e que tem 331 mil inscritos em seu canal de YouTube, que trata de educação financeira para os mais pobres.
Entre os membros mais tradicionais, estão representantes do empresariado -- como presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, Abílio Diniz e Maria Luiza Trajano --, além de presidente de entidades de classe -- como o da Febraban, Isaac Sidney Ferreira; da Fiesp, Josué Gomes da Silva, e Robson Andrade, da CNI.
O sindicalismo, berço político de Lula, também está presente, representado, entre outros, pelos presidentes das centrais CUT, Sergio Nobre; Força Sindical, Miguel Torres, e UGT, Ricardo Patah.
O agronegócio, que nos últimos anos tem sido o motor do PIB, também está com nomes de peso como Rubens Ometto, Eraí Maggi e José Henrique Cutrale. Ao lado deles também terão assento no Conselhão integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST), ambientalistas e representantes dos povos indígenas.
(Reportagem de Eduardo Simões, em São Paulo, e Lisandra Paraguassu, em Brasília Edição de Pedro Fonseca)
Escrito por Reuters
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