Após determinação do STF e ameaça de multa, Twitter e Facebook bloqueiam contas de bolsonaristas
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Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o bloqueio de 16 contas do Twitter e 12 do Facebook de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e ameaçou impor multa diária de 20 mil reais por perfil em caso de descumprimento, segundo decisão divulgada nesta sexta-feira no âmbito do inquérito das fake news.
Na decisão, foram suspensas, entre outras, contas do presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson, e de outros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, como os empresários Luciano Hang, Edgar Corona e Oscar Fakhoury, a ativista Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, e o blogueiro Allan dos Santos.
Moraes citou na decisão que, embora 'clara e objetiva a determinação judicial' para as operadoras das redes sociais suspenderem imediatamente as contas ainda no final de maio, 'não houve comprovação do regular cumprimento'.
O ministro do STF determinou a suspensão das contas e afirmou que a medida evita 'que continuem a ser utilizados como instrumento do cometimento de possíveis condutas criminosas apuradas nestes autos' e rechaçou a 'eventual recusa de cumprimento por impossibilidade técnica'.
As contas do Twitter bloqueadas dizem que elas foram suspensas 'no Brasil em resposta a uma demanda legal'. Em nota, o Facebook disse que 'respeita o Judiciário e cumpre ordens legais válidas'.
A decisão de Moraes havia determinado em maio uma série de medidas judiciais, como o cumprimento de mandados de busca e apreensão e quebras de sigilo contra apoiadores de Bolsonaro.
A ação tem por objetivo identificar quem estaria financiando um esquema fraudulento de divulgação de notícias falsas e ameaças a ministros do STF.
Em nota, o PTB disse ter sido surpreendido com 'a mais nova medida arbitrária' determinada por Alexandre de Moraes de censurar o presidente do partido, 'impedindo-o de exercer seu direito à liberdade de opinião e expressão por meio das redes sociais'.
'Portanto, o PTB vem novamente falar à nação brasileira que repudia veementemente esse inquérito das 'fake news' e os atos de Alexandre de Moraes, todos eles com viés inquisitorial, cuja única e exclusiva finalidade é coagir e inibir patriotas brasileiros de se manifestarem livremente', disse.
Em tom duro, a nota lamenta que o país esteja passando por um novo AI-5 --referência ao mais grave ato institucional da ditadura militar-- e destaca que o PTB não vai permitir que Moraes e os demais ministros do STF 'calem a voz firme e as verdades inigualáveis ditas pelo presidente Roberto Jefferson'.
Em nota, a defesa de Sara Winter criticou a decisão, dizendo que vai denunciar aos 'organismos internacionais de direitos humanos a grave ofensa à liberdade de expressão, direitos e garantias fundamentais'.
'Sem liberdade. Sem voz. Sem vida. Seja bem-vindo à escuridão', disse.
O advogado João Manssur, que representa Otávio Fakhoury, disse que a medida é desproporcional e contrária ao princípio da liberdade de expressão.
“A medida de bloqueio acarreta verdadeira censura por impedir a manifestação do pensamento de Fakhoury, garantida pelo amplo sistema de liberdade de expressão consagrado pela Constituição Federal. O próprio STF já conferiu entendimento no sentido de que a liberdade de expressão goza de certa posição preferencial. Gritante a violação ao direito de Fakhoury à livre manifestação de seu pensamento com o bloqueio de contas das redes sociais, uma verdadeira censura”, afirmou.
No Instagram, o blogueiro Allan do Santos também criticou a decisão do Supremo. 'Acabou a liberdade de expressão e de imprensa', disse.
REAÇÃO NAS REDES
Bolsonaro não se manifestou sobre a suspensão das contas determinada pelo Supremo, ao menos publicamente. O presidente tem baixado o tom das críticas contra o STF nas últimas semanas, principalmente após a prisão do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, amigo dele e que trabalhou no gabinete do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Em maio, na época da operação de busca e apreensão determinada por Moraes, Bolsonaro disse numa rede social que 'ver cidadãos de bem terem seus lares invadidos, por exercerem seu direito à liberdade de expressão, é um sinal que algo de muito grave está acontecendo com nossa democracia'.
A decisão do STF cumprida nesta sexta, no entanto, teve forte repercussão nas redes sociais. Aliados do presidente afirmam que houve censura aos bolsonaristas e críticos aplaudiram a determinação.
O secretário de Comunicação Social, Fabio Wajngarten, protestou contra a medida.
'A decisão do FB e do TW de derrubar as contas de apoiadores de @jairbolsonaro é sem precedentes na rede mundial, que se caracteriza pela ampla liberdade de expressão. A decisão de suspender as contas é contraditória porque a investigação não está concluída. País sob censura', disse Wajngarten no Twitter.
O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, contestou a decisão.
'A suspensão das contas de apoiadores do presidente tem um objetivo simples: intimidar todos os demais apoiadores, enquanto acostuma o restante da população com a idéia sinistra de que certas autoridades possuem o poder e a legitimidade para calar e censurar quem os incomoda', disse ele no Twitter.
Já Manuela D'Dávila (PCdoB), ex-deputada e candidata a vice na chapa presidencial encabeçada por Fernando Haddad (PT) na eleição de 2018, saudou o clima no Twitter após os bloqueios.
'Vocês também estão sentindo que o clima aqui no Twitter deu uma melhorada?', disse Manuela.
Pouco depois, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, rebateu a política comunista.
'Um democrata se preocupa quando indivíduos são censurados em ações completamente arbitrárias e autoritárias. Já comunistas sentem que o clima melhora quando adversários são eliminados. É histórico', disse Carlos no Twitter.
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO