Presidente eleito do Chile, José Antonio Kast remonta política chilena à era Pinochet
Presidente eleito do Chile, José Antonio Kast remonta política chilena à era Pinochet
Reuters
15/12/2025
Por Fabian Cambero e Sarah Morland
SANTIAGO, 15 Dez (Reuters) - Depois de ter falhado em duas candidaturas presidenciais anteriores, José Antonio Kast finalmente conquistou a Presidência do Chile no domingo, um sinal de como suas visões de extrema-direita e anti-imigratórias ganharam uma nova onda de apoio em meio a temores sobre o aumento da criminalidade.
Kast, de 59 anos, venceu facilmente a candidata presidencial de esquerda Jeannette Jara, obtendo 58% dos votos e conduzindo o país sul-americano à sua mais acentuada mudança para a direita desde o fim da ditadura militar em 1990.
Ele perdeu para o atual presidente de esquerda Gabriel Boric na eleição de 2021, uma época em que as políticas de linha dura de Kast estavam fora de sintonia com um eleitorado abalado pela pandemia da Covid-19, protestos generalizados contra a desigualdade e esperanças de elaborar uma nova Constituição.
Mas agora a percepção mudou e as propostas de Kast estão ressonando entre os eleitores que se preocupam com a criminalidade e a imigração.
Embora o Chile continue sendo um dos países mais seguros da América Latina, o influxo do crime organizado levou a um aumento da taxa de homicídios e prejudicou o crescimento econômico, com um recente aumento de incidentes de alto perfil, como sequestros e assassinatos.
Além de prometer uma repressão ao crime, Kast prometeu construir muros na fronteira e formar uma força policial especializada, moldada no Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos, encarregada de rastrear e deportar imigrantes que estão no país ilegalmente. Dados do governo mostram que a maioria é venezuelana.
'Este governo causou caos, este governo causou desordem, este governo causou insegurança', disse Kast no final da recente campanha. 'Nós vamos fazer o oposto. Vamos criar ordem, segurança e confiança.'
INSPIRAÇÃO EM EL SALVADOR
Kast se inspirou nos EUA para sua abordagem linha-dura em relação às fronteiras e, no ano passado, visitou o mega sistema prisional construído pelo presidente de El Salvador, Nayib Bukele, um modelo que sua plataforma propõe emular.
O sucesso do político chileno faz com que seu país seja o mais recente da América Latina a se inclinar para a direita, depois da eleição boliviana em agosto e do sucesso do presidente Javier Milei nas eleições legislativas de meio de mandato na Argentina em outubro.
Assim como Milei, Kast -- um católico com nove filhos -- expressou fortes objeções ao aborto. Ele já disse anteriormente que revogaria os direitos limitados ao aborto no Chile e proibiria a venda da pílula do dia seguinte, embora tenha se concentrado em outras questões durante sua campanha. As pesquisas mostram que a opinião pública apoia maciçamente a manutenção dos direitos de aborto existentes.
Seu plano econômico envolve leis trabalhistas mais flexíveis, cortes nos impostos sobre empresas e menos regulamentação -- embora se espere que ele modere os cortes de gastos planejados, amplamente considerados irrealistas.
LIGAÇÕES COM PINOCHET
Kast é filho de um imigrante alemão, membro do partido nazista e tenente do Exército que fugiu para a América do Sul após a Segunda Guerra Mundial, onde acabou fundando um lucrativo negócio de salsichas em Paine, ao sul de Santiago. Kast disse que seu pai foi forçado a ser um recruta nazista.
O presidente eleito é casado com Maria Pia Adriasola, uma advogada que frequentemente faz campanha ao seu lado, há mais de três décadas.
Seu irmão mais velho, Miguel Kast, foi ministro do Governo e presidente do banco central no início da década de 1980, durante a ditadura do general Augusto Pinochet, na qual mais de 40.000 pessoas foram executadas, detidas e desaparecidas, ou torturadas. Um dos 'Chicago Boys' que foi pioneiro na economia de choque, ele promoveu a desregulamentação e as privatizações.
Como estudante de Direito, José Antonio Kast fez campanha pelo 'sim' em um referendo sobre a permanência de Pinochet no poder em 1988, votação que Pinochet perdeu.
Depois de atuar como congressista do partido de direita União Democrática Independente (UDI) por mais de uma década, Kast deixou o cargo em 2016 para concorrer à Presidência como independente, mas acabou obtendo menos de 10% dos votos. Ele ganhou mais força em 2021, concorrendo sob a bandeira de seu Partido Republicano, de fundação própria.
Seu estilo é bem diferente do de Milei ou Bukele, disse Nicholas Watson, diretor administrativo da Teneo para a América Latina.
'Ele é muito menos extravagante e mais reservado. Ele também é mais um insider político; ele não entrou no cenário político da mesma forma que Milei', disse.
Assim, os chilenos veem Kast como um rosto familiar com mais de duas décadas de experiência política, disse David Altman, cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Chile, acrescentando que Kast se beneficiou da crescente rejeição ao governo em exercício de Boric.
'Não é que as pessoas tenham se tornado mais fascistas no espaço de quatro anos', disse Altman. 'As pessoas abandonaram a esquerda e, como essencialmente não havia um centro político, foram para a direita. Foi o único lugar onde puderam se posicionar.'
(Reportagem de Fabian Cambero, Sarah Morland, Alexander Villegas e Lucinda Elliott)
Reuters

