Governo Trump diz que Europa corre risco de 'apagamento civilizacional', e gera protestos
Governo Trump diz que Europa corre risco de 'apagamento civilizacional', e gera protestos
Reuters
05/12/2025
Por James Mackenzie e Andrew Gray e Lili Bayer
BERLIM, 5 Dez (Reuters) - A Europa enfrenta um 'apagamento civilizacional' e pode um dia perder seu status de aliada confiável dos EUA, disse o governo Trump em um importante documento de estratégia, provocando protestos dos europeus que o compararam à retórica do Kremlin.
A nova Estratégia de Segurança Nacional, publicada no site da Casa Branca de quinta para sexta-feira, denunciou a União Europeia como antidemocrática e disse que o objetivo dos EUA deveria ser 'ajudar a Europa a corrigir sua trajetória atual'.
Acusou os governos europeus de 'subversão dos processos democráticos', inclusive para frustrar o que disse ser uma demanda do público europeu para acabar com a guerra na Ucrânia.
'A longo prazo, é mais do que plausível que, dentro de algumas décadas, no máximo, alguns membros da Otan se tornem majoritariamente não europeus', diz o documento.
'Como tal, é uma questão em aberto se eles verão seu lugar no mundo, ou sua aliança com os Estados Unidos, da mesma forma que aqueles que assinaram a carta da Otan.'
A UE se recusou a comentar e houve um silêncio generalizado por parte dos líderes europeus, que tomaram o cuidado de evitar antagonizar o presidente Donald Trump.
Mas ex-autoridades europeias descreveram a retórica como chocante, mesmo para os padrões do governo Trump de hostilidade cada vez mais aberta aos aliados tradicionais.
'ALGUMAS MENTES BIZARRAS DO KREMLIN'
'É uma linguagem que, de outra forma, só se encontra saindo de algumas mentes bizarras do Kremlin', disse o ex-primeiro-ministro sueco Carl Bildt no X, descrevendo o documento como 'à direita da extrema-direita na Europa'.
Ele classificou como 'bizarro' o fato de que a única parte do mundo onde a estratégia via uma ameaça à democracia era a Europa.
O ex-primeiro-ministro da Letônia Krisjanis Karins disse à Reuters: 'O país mais feliz ao ler isso é a Rússia'.
'Moscou vem tentando romper os laços transatlânticos há anos, e agora parece que o maior rompedor desse laço são os próprios EUA, o que é lamentável', disse ele.
Um diplomata europeu, falando sob condição de anonimato, disse: 'O tom em relação à Europa não é promissor. Pior ainda do que o discurso de Vance em Munique em fevereiro', referindo-se a um discurso hostil do vice-presidente dos EUA, JD Vance, em uma conferência em Munique que alarmou os países europeus logo após o retorno de Trump ao cargo.
O documento ecoou alguns pontos de discussão dos partidos políticos europeus de extrema-direita, que cresceram e se tornaram a principal oposição aos governos da Alemanha, França e outros aliados tradicionais dos EUA. O documento parecia elogiá-los, dizendo que 'a crescente influência dos partidos patrióticos europeus' é 'motivo de grande otimismo'.
Nathalie Tocci, diretora do think tank italiano Istituto Affari Internazionali, disse que isso mostrava que o governo Trump estava 'empenhado em destruir a Europa ao apoiar nacionalistas de extrema-direita apoiados pela Rússia'.
A Estratégia de Segurança Nacional é um documento divulgado periodicamente pelo Poder Executivo dos EUA que descreve a visão de um presidente sobre a política externa e orienta as decisões do governo.
Em um prefácio, Trump disse que o documento de estratégia era 'um roteiro para garantir que os Estados Unidos continuem sendo a maior e mais bem-sucedida nação da história da humanidade'.
O novo documento acusou a União Europeia de minar a liberdade política e a soberania, censurar a liberdade de expressão e suprimir a oposição política.
Os políticos e as autoridades européias se irritaram com o tom de Washington, mas, à medida que se apressam em reconstruir suas Forças Armadas negligenciadas para enfrentar uma ameaça percebida da Rússia, eles ainda dependem muito do apoio militar dos EUA.
O documento afirma que é do interesse estratégico dos Estados Unidos negociar uma solução rápida para a Ucrânia e restabelecer a 'estabilidade estratégica' com a Rússia.
O documento foi divulgado em meio à paralisação da iniciativa de paz dos EUA, na qual Washington apresentou um plano de paz que endossava as principais exigências da Rússia na guerra de quase quatro anos.
'Uma grande maioria europeia deseja a paz, mas esse desejo não se traduz em política, em grande parte devido à subversão dos processos democráticos por parte desses governos (europeus)', afirmou.
Reuters

