Taxas dos DIs disparam com anúncio de que Flávio Bolsonaro foi escolhido pelo pai para ser candidato
Taxas dos DIs disparam com anúncio de que Flávio Bolsonaro foi escolhido pelo pai para ser candidato
Reuters
05/12/2025
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO, 5 Dez (Reuters) - A notícia de que o ex-presidente Jair Bolsonaro escolheu seu filho Flávio Bolsonaro para ser candidato à Presidência em 2026 sacudiu os mercados no Brasil a partir do início da tarde, fazendo as taxas dos DIs dispararem mais de 50 pontos-base até o fechamento.
A informação, publicada pelo site Metrópoles e confirmada posteriormente por Flávio, senador pelo PL, foi mal-recebida pelos investidores, que veem o anúncio como o sepultamento da candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o favorito do mercado.
Em meio à forte alta do dólar ante o real, a taxa do DI para janeiro de 2028 estava em 13,185% no fim da tarde, em alta de 46 pontos-base ante o ajuste de 12,726% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2032 marcava 13,485%, com elevação de 51 pontos-base ante o ajuste de 12,971%.
Preso após ser condenado por tentativa de golpe de Estado e inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro escolheu Flávio como candidato à Presidência em 2026, informou o Metrópoles no início da tarde. Posteriormente, a Reuters confirmou a informação com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o próprio Flávio disse no X que havia sido escolhido.
A reação no mercado de renda fixa foi extremamente negativa. A taxa do DI para janeiro de 2028, que chegou a ceder pela manhã, disparou para a máxima intradia de 13,275% às 16h16, em alta de 55 pontos-base. Perto deste horário, a taxa do DI para janeiro de 2032 marcou a máxima de 13,570%, com elevação de 60 pontos-base.
“A saída de Tarcísio da disputa traz um papel em branco para a direita. E é muito claro que Tarcísio só vai ser candidato com a benção de Bolsonaro”, comentou durante a tarde Laís Costa, analista da Empiricus Research.
“O mercado vê Flávio como um candidato mais fraco que Tarcísio na disputa com Lula. Além disso, o possível governo Flávio não agrada tanto, porque a pauta parece errática”, acrescentou.
Outros profissionais seguiram a mesma linha de raciocínio, avaliando que Flávio Bolsonaro tem menos chances de vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida eleitoral.
“Ainda é cedo para cravar, mas a decisão ‘implode’ possíveis alianças entre centro e direita para o ano que vem. O mercado apostava em Tarcísio para construir essas alianças e pavimentar a vitória da direita em 2026, mas agora cabe avaliar se Flávio Bolsonaro consegue reunir esse amplo espectro político”, afirmou o economista André Perfeito, da Garantia Capital, em comentário escrito.
Apesar da forte elevação dos prêmios em função das notícias, a curva a termo brasileira seguia precificando durante a tarde em cerca de 80% a probabilidade de o Banco Central iniciar o ciclo de cortes da Selic em janeiro. Atualmente a Selic está em 15% ao ano.
“O que tiraria as chances de 25 pontos-base de corte em janeiro seria uma reação exacerbada do dólar, e não só à questão do Flávio, mas a outras questões, como uma pauta-bomba do Lula. Aí o dólar seria de R$5,50 ou R$5,60, o que atrasaria o corte de juros”, avaliou Costa.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries se firmaram em alta durante a tarde, com investidores consolidando posições antes da decisão sobre juros do Federal Reserve, na próxima semana. Às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 3 pontos-base, a 4,139%.
No início da tarde, o Departamento do Comércio dos EUA informou que o índice de preços PCE subiu 0,3% em setembro, mesma taxa de agosto, acumulando alta de 2,8% em 12 meses. O núcleo do PCE, que exclui alimentos e energia, teve alta de 0,2% em setembro, mesma taxa de agosto e em linha com a projeção dos economistas ouvidos pela Reuters.
Neste cenário, os ativos seguiam precificando 87,2% de probabilidade de corte de 25 pontos-base dos juros pelo Fed na próxima semana, contra 12,8% de chance de manutenção na faixa de 3,75% a 4,00%, conforme a Ferramenta CME FedWatch.
No Brasil, a avaliação é de que um novo corte de juros nos EUA na próxima semana reforçará a probabilidade de redução da Selic em janeiro.
Reuters

