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“Cowboys”: faroeste sensível aclamado no festival de Tribeca chega ao Brasil hoje

Fomos convidados para assistir o filme com exclusividade e aqui estão as impressões

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Cowboys - divulgação

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Belas paisagens, uma conversa reflexiva que antecipa uma tragédia e uma trilha sonora tirada de algum western moderno: em seu primeiro minuto Cowboys se apresenta como um faroeste que nos entregará cenas tensas em meio a uma intensa perseguição que culminará num sério conflito final, mas não é isso que recebemos - e ainda bem.

Ao contrário do que esperamos, não vemos planos americanos de homens com pistolas em coldres, nem olhares tensos de participantes de duelo prontos para trocar tiros como num filme de Clint Eastwood. No lugar disso, a estreia de Anna Kerrigan como diretora opta por nos oferecer uma experiência intimista e verdadeira, recheada de reflexões sobre patriarcalismo, transexualidade, doença mental e negligência institucional.

Primeiramente, não temos um mundo em equilíbrio que é balançado por um conflito, temos um mundo com um conflito velado que só se importa quando alguém quer fugir disso, e é exatamente essa fuga que seguimos desde o começo da obra, com Troy e seu filho trans Joe.

No decorrer da trama, não demoramos ver que a fuga é somente o pano de fundo que mantém um fio de tensão no ar, e que o foco está nos longos flashbacks que nos apresentam os personagens e o conflito que gerou aquela fuga.

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Um retrato preciso e sensível da realidade

Os flashbacks, além de nos fazer compreender melhor a situação, mostram a precisão e o bom embasamento no retrato das pessoas e dos lugares. A cidadezinha onde a história se passa, no interior rural de Montana, é composta por homens que usam chapéus de cowboy e cintos com grandes fivelas, têm esposas “recatadas”, andam de caminhonete e fazem churrasco de hambúrguer no fim de semana. Mais caipira americano que isso, só com um trator da John Deere no fundo.

No meio de tudo isso temos Joe, um jovem menino trans que se sente extremamente desconfortável com sua realidade de ser criado como uma menina, tendo de usar vestidos floridos, cabelo longo e botas cor-de-rosa. O personagem é tratado com enorme sensibilidade, e vemos exatamente o momento em que ele se dá conta de que não é a menina Josie quando olha fixamente para cada detalhe dos amigos de seu pai - não com desejo, mas com a admiração de alguém que quer ser como eles.

Aliado a Joe está seu pai, Troy, um homem extremamente bondoso que aceita seu filho e o entende. O pai do protagonista representa o descaso público e a falta de apoio que pessoas com transtorno bipolar recebem, num retrato visivelmente bem embasado das fases maníaca e depressiva que só é feito de forma um pouco exagerada por conta do personagem não ser o foco da história e não dispor de muito tempo para ser desenvolvido.

Já do lado oposto do conflito está Sally, a mãe, que seria um personagem completamente odiável se não fosse a personificação das consequências do patriarcalismo. Como mulher de uma cidade interiorana, cresceu tendo suas vontades reprimidas e é completamente contrária à transexualidade de Joe porque isso a priva de seu único orgulho como mulher - ser mãe de uma família relativamente estruturada. Com isso, essa personagem ilustra o efeito destruidor do machismo, que torna as mulheres de oprimidas em perpetuadoras da opressão.

E no fim de tudo isso, temos o único verdadeiro cowboy do filme: a detetive Faith, que cuida da investigação e da busca por Joe e Troy. Mesmo rodeada por colegas preguiçosos de uma instituição policial ineficiente e negligente, ela se mostra fria e calculista como o protagonista de um faroeste antigo - age devagar e sem pressa, prestando atenção aos pequenos detalhes.

É somente para ela que a direção reservou os planos americanos, na cena em que ela sobe no cavalo deixado pelos fugitivos e vai calmamente atrás deles, com a pistola no coldre e o olhar tenso de um participante de duelo pronto para levar todo o conflito ao fim. Porém ela não resolve o problema com violência e tiros, como um John Wayne raivoso o faria, mas com palavras de compreensão e a promessa do cuidado que os personagens deveriam ter recebido desde o começo.

Para o desfecho de uma situação que tinha tudo para dar errado, temos na verdade um final reconfortante em que Troy volta a estudar, Sally aceita e cuida de seu filho e Joe é aceito e reconhecido em sua nova identidade pelos colegas de escola. Um fim esperançoso e muito importante para as pessoas que passam por esse tipo de situação, com a mensagem de que tudo ficará bem.

A experiência de assistir

Para encerrar, gostaria de trazer um aspecto que me chamou muito a atenção enquanto eu assistia ao filme: o esmero na legendagem. Traduzido do inglês, em que os adjetivos não se diferenciam por gênero, os tradutores tiveram o cuidado de colocar as palavras no masculino sempre que Troy se referia a Joe, ou quando o protagonista falava de si mesmo. Já quando Sally falava de seu filho, as palavras estavam no feminino. Um detalhe simples, porém que tornou a experiência de assistir ainda mais compreensiva e sensível.

A partir de hoje, o filme estará disponível para aluguel ou compra nas plataformas digitais Claro Now, Amazon, Vivo Play, iTunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes, e pode ser assistido tanto dublado como legendado.

Confira o trailer de ‘Cowboys’:



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Escrito por Luccas Franco Comitre

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