BC vê ganhos com condução cautelosa dos juros e enfatiza “firme compromisso” com meta de inflação

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA, 16 Dez (Reuters) - O Banco Central apontou ganhos gerados pela 'condução cautelosa' dos juros, vendo contribuição determinante da política monetária para a desaceleração dos preços, e enfatizou firme compromisso com a meta de inflação, mostrou nesta terça-feira a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

No documento, o BC apresentou percepções mais positivas sobre o cenário internacional, os preços correntes e as expectativas de mercado, ponderando que vetores inflacionários ainda se mantêm adversos.

“O Comitê avalia que a condução cautelosa da política monetária tem contribuído para se observar ganhos desinflacionários e, mais uma vez, reafirma o firme compromisso com o mandato do Banco Central de levar a inflação à meta”, disse o BC no documento.

Na avaliação do economista-chefe da XP, Caio Megale, ao apontar que a política monetária está funcionando, mas pregar cautela diante de riscos, a ata indicou que o BC precisará de mais tempo e mais informações antes de iniciar um ciclo de afrouxamento dos juros.

'O Comitê não parece inclinado a cortar a taxa Selic em janeiro, apesar da recente melhora na perspectiva da inflação', disse.

Na semana passada, o BC decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano e não sinalizou quando poderá iniciar um ciclo de cortes nos juros, reforçando que a manutenção desse nível por período bastante prolongado é a estratégia adequada para levar a inflação à meta.

A decisão já havia afastado expectativas de parte dos analistas de que um corte de juros poderia ser feito já em janeiro.

VISÃO BENIGNA COM RESSALVAS

Ao descrever o cenário econômico na reunião do Copom deste mês, o BC melhorou o tom de sua avaliação em relação ao encontro de novembro, apontando que vê uma diminuição da inflação corrente, e não apenas 'certa diminuição'. A ata ainda mencionou 'a redução' nas expectativas de mercado para os preços, deixando de falar em 'alguma redução', embora tenha destacado que essas previsões ainda estão acima da meta de 3%.

O documento retirou menção feita em novembro de que 'a desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida', mas manteve o trecho que avalia que ambientes com expectativas desancoradas elevam o custo da desinflação.

A autarquia ainda disse que prossegue a moderação gradual da atividade econômica, destacando também uma redução da incerteza no cenário externo.

'Ainda que muitos riscos latentes persistam, o cenário internacional está menos incerto do que esteve há alguns meses, com o fim do government shutdown nos EUA e evolução de negociações comerciais', afirmou, observando ainda preços de commodities contidos e condições financeiras favoráveis.

A autarquia fez na ata um relato sobre a estratégia de condução dos juros, apontando que o Comitê vem alterando sua comunicação ao longo do ano para expressar sua percepção sobre o estágio em que a política monetária se encontra, ressaltando o ganho de confiança que vem se acumulando com o processo de desinflação.

Segundo o BC, após firme elevação dos juros, o ciclo de alta foi interrompido para avaliar se o nível de 15% da Selic por período bastante prolongado seria suficiente para convergir a inflação, acrescentando ter chegado a conclusão de que esse patamar é adequado.

Ao destacar fatores que seguirá acompanhando, a autarquia acrescentou o balanço de riscos para os preços à frente e a inflação corrente. Foram mantidos ainda pontos já elencados na reunião de novembro --atividade econômica, expectativas de inflação e repasse do câmbio para os preços.

O documento mostrou que a diretoria do BC fez um debate sobre a situação do mercado de trabalho no país, chegando a uma conclusão de que ele está 'bastante apertado' com sinais incipientes de desaquecimento.

'No período mais recente, a taxa de desemprego tem se mantido em patamares historicamente baixos, mas com redução na população ocupada e na taxa de participação', afirmou.

A autoridade monetária ponderou que é necessário aprofundar a análise sobre fatores conjunturais e estruturais no mercado de trabalho, com avaliação de evidências que demandam tempo para observação mais robusta.

Após ter incluído em seu cenário, em novembro, projeções de impacto do projeto que isenta de Imposto de Renda quem ganha até R$5 mil, a autarquia afirmou na ata que continuará acompanhando os dados para calibrar e refinar os efeitos da medida.

A autoridade monetária ainda reafirmou a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas.